Herdeira

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- Que bom que acordou. – A olhei se espreguiçando na cama. Sua carinha ainda era de dar pena, estava muito abatida, nem parecia aquela Jeongyeon que eu tanto venerei um dia.

Sentou-se na cama com a cara amassada e os cabelos completamente bagunçados, me arrancando um sorrisinho caçoador, que foi logo cortado pelo bico feio e preguiçoso dela.

- Você é chata. – disse ainda rouca e sonolenta.

- Sou sim, eu canso de saber que sou chata. Todo mundo diz isso para mim, não é exatamente uma novidade.

- Eu dormi muito?

- Não. Faltam 15 minutos para meio dia.

- Ayshi! – ela se levantou irritada. – Por que não me acordou?

- Para que? Vai fazer algo importante por acaso?

- Não. – Sentou-se novamente na cama emburrada.

Fiquei em silencio a observando, parecia uma criança abandonada, olha o que os golpes da vida fazem com o ser-humano, transforma um leão em cordeirinho. Tão estranho.

- No que está pensando?

- Na repartição de bens. – diz me surpreendendo.

- Jeongyeon você acabou de perder sua mãe e está pensando em bens?

- Não é isso. Na verdade, estou pensando em não comparecer a repartição dessa herança, até onde sei não a um testamento. Então, minha presença não fara diferença alguma, acho que não preciso ir.

- E por que não?

- Não quero ser humilhada de novo, provavelmente tudo deve ter sido deixado para a Taeyeon, quer dizer Sana... - diz revirando os olhos. - ... Não vou aguentar vê-la possuir todas as lembranças da nossa família. Não vou aguentar ser enxotada sem direito nem a uma foto da minha mãe ou do meu pai.

- Eu entendo como se sente, mas você é filha e se o advogado quer que você vá, então deve ir. Acredito que ela não deve ter deixado você sem nada, pelo menos algo que possa te fazer lembrar-se dela ficou para você.

- Será? – perguntou duvidosa. – Eu queria ficar com a caixinha de joias.

- Yeon...

- Não. Não quero as joias, quero a caixa. Ela era especial para mim quando criança. Lembro-me que entrava no quarto escondido para abri-la... – seu sorriso carente era nítido. – Quando a bailarina aparecia eu ficava apreciando a música e o movimento que ela fazia, e tentando fazer igual. Foi assim que sonhei em ser patinadora.

- É tudo que quer?

- Tudo que eu realmente queria acabou. Eu queria o amor dela, queria o reconhecimento. Mas não vou mais ter isso. – Se lamentou. – Amy? Será que ela realmente me amava? Se essa carta for falsa? E se ela só fez isso para se livrar de mim? Se ela na verdade...

- Jeongyeon olha as besteiras que você está perguntando... Para com isso, sua mãe escolheu o modo errado de te mostrar que a amava, não precisava ter feito o que fez, talvez se ela tivesse dado uma chance para você, as duas pudessem ser uma família feliz agora. Mas acredite o que ela fez não foi por não amar você e sim porque não sabia como te mostrar que a amava demais, ela se sentia culpada e não conseguia dar a si mesma, o perdão.

- Eu teria perdoado...

- Eu sei que teria. - Digo e Yeon me encara como se tivesse tentando encontrar alguma coisa perdida em mim.

- O que foi?

- O caminho que ela escolheu não foi certo...

- Não! Não apoiaria ninguém a segui-lo, mesmo que eu me sinta hipócrita te dizendo isso.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora