Ela olhava para mim como se estivesse me analisando, enquanto eu tentava em vão desviar meu olhar do seu. Procurei fugir de sua observação constante. Estávamos frente a frente, só ela e eu na sala velha. O Oppa resolveu nos deixar sozinhas. No fundo, queria que ele tivesse ficado comigo, pelo menos não sentiria tanto medo, porém, acho que ele fez o certo, há anos vinha fugindo daquela conversa, mas chegamos a um impasse, e eu não tinha mais como fugir.
Examinei melhor as expressões de seu rosto procurando os resquícios de fúria, porém seu semblante permanecia impassível. Uma dúvida cruel começou a rondar minha mente. Será que ela irá me perdoar quando soubesse a verdade?
Algo pontudo e afiado como a lâmina de uma faca acertou meu coração fazendo-o palpitar de dor, à vontade de começar a dizer de uma vez lutava em um empate contra a vontade de sair correndo daquela casa o mais rápido que conseguisse. Não podia, mas precisava. Respirei fundo uma, duas, três vezes buscando tirar a coragem de algum lugar.
Só queria que ela me perdoasse, e aquele silencio estava me matando, podia ouvir nossas respirações se misturarem na sala quieta, era sufocante. Uma de nós precisava dizer alguma coisa ou teríamos um colapso nervoso. Não podia continuar com isso por muito mais tempo, eu precisava...
- Por que fez isso? – perguntou em um sussurro. Permaneceu olhando o nada, como se fosse incapaz de me ver em sua frente. Ela não queria olhar para mim, não queria enxergar uma mentirosa.
Não respondi de imediato, tentei pensar em uma resposta coerente primeiro. Minhas ideias estavam uma bagunça, não sabia o que dizer exatamente, por mais que tentasse nada fazia sentido, como explicaria se eu mesma não estava entendendo nada?
- Por que tentou me abandonar? – dessa vez pareceu ter perdido um pouco a paciência, esperava uma resposta, queria que eu explicasse e estava determinada a me fazer falar. Era tudo ou nada.
Olhou diretamente em meus olhos e pude captar em sua expressão a preocupação, justamente o que eu não queria que sentisse por mim. – Eu fiz papel de boba. A garota que se jogou de uma ponte... Foi você. – As lágrimas grossas começaram a rolar por seu rosto e um sorriso pequeno e atormentado tomou seus lábios, seus olhos estavam tristes e pesados.
Mesmo assim não consegui dizer nada.
- Onde você estava com a cabeça Amarílis? – ela secou as lágrimas voltando a olhar em volta. – Você poderia ter morrido.
- Ele não tinha o direito de te contar. – Eu fui incapaz de ouvir minha própria voz.
- Como não? – ela se virou rápido para mim, mostrando a angústia que sentia nitidamente em seus olhos verdes esmeralda. – Como ele não me contaria uma coisa tão seria como essa? Há quanto tempo você está tentando fazer isso?
- Há muito tempo. – disse quase que em um sussurro, desviando o olhar dos seus, não teria coragem de falar se estivesse olhando para ela.
Ela desabou em prantos e tudo que pude fazer foi observar seu desespero despedaçar meu coração.
- Amarílis você não entende... Você é tudo que eu tenho, e mesmo assim faz com que eu me sinta impotente. Eu prometi a sua mãe que cuidaria de você, fiz o melhor que pude e é isso que você me dá em troca?
- Você não sabe como eu me sinto.
- Eu nunca vou saber se você não me disser.
- Eu queria te contar antes, mas... Você não deveria ter descoberto assim.
- Quando você pretendia me contar, depois que já estivesse num caixão? Depois que eu já estivesse morrendo de tristeza e remorso por achar que fui a pior pessoa do mundo? O que ia fazer? Deixar uma carta explicando que morreu para me proteger? O que mais você anda me escondendo Amarílis? Será que depois de tudo que vivemos, você ainda não confia em mim? Eu criei você! – ela gritou magoada.
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Segunda Chance
RomanceAmy nunca foi uma garota muito sociável, mas após uma tentativa de suicídio mal sucedida, sua vida vira de cabeça para baixo e surge a oportunidade perfeita para alcançar seu maior sonho, porem o que ela não imaginava era que a ajuda que tanto preci...