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Às vezes, meu pensamento bloqueia minhas emoções. Depois que você cresce e percebe que aquele amor foi mais passageiro que muitas viagens de ônibus, você aprende a dar mais valor para sua própria companhia. Antes que eu tenha um traumatismo craniano por mergulhar em pessoas rasas, eu prefiro me respeitar. Respeitar meu próprio tempo. Eu sempre fui assim, mesmo que as pessoas não me entendam. Eu só consigo me apaixonar de uma maneira intensa por alguém capaz de manter uma conversa durante horas. Eu aprendi que o verdadeiro amor é a liberdade de ser quem sou. Sozinha ou acompanhada. Já tentei mudar meu pensamento. Não vai ser dessa vez. Ninguém precisa de outro alguém para se sentir completo. Aprendi a dar valor a mim mesma.

— ... e eu não sei como as coisas dão tão errado na minha vida. O que você acha? — pergunta malu esperando a minha resposta. Não digo nada. — Laurinha?

Estava distraída pensando no meu presente e em como as coisas tem dado certo para mim. Eu tenho uma relação ótima com os meus pais, uma melhor amiga incrível, notas boas na faculdade... Sinto falta de compartilhar minha vida com alguém, e sou a única pessoa capaz de mudar isso.

— Sim, sim eu concordo. — digo.

Malu está vermelha como um pimentão não sei distinguir se está com vergonha ou furiosa.

— Não acredito que estou desabafando minhas dores e você nem ao menos dá mínima para escutar!

— Não por querer. Eu estava refletindo um pouco sobre a minha vida...

— Refletindo sobre o quanto ela é entediante? — diz Malu, segurando o riso.

— Eu quero um meio amor.

— Não gosto de nada pela metade e menos ainda se for amor.

— Meio amor, sem começo e sem final. Um amor onde eu possa me entregar por completo sem sentir medo do fim.

— Não vejo nada te impedindo. Sua insegurança é o seu "defeito mortal". — faz aspas com os dedos — Kevin é um bom garoto e ele demonstrou gostar de você.

Kevin é um bom garoto. Encantador. Mas eu não encontrara nele o que precisava. E se me permitir afundar mais a fundo nesse oceano de emoções imprevisíveis... eu não sei nadar. Eu não sei como reagir. Eu não conseguia retirar de meus pensamentos aquela garota. Ela parecia encantadora e eu queria muito conhecê-la. Mas dentro do meu peito sentia margura quando pensava nela. Nem a menos à conhecia e provavelmente nunca irei de vê-la novamente. Se ao menos conseguisse lembrar de seu rosto...

Eu não estava esperando visitas essa noite. Minha colega de quarto Ellen também não. Malu saiu agora pouco, provavelmente deve ter esquecido algo. Vou em direção a porta fechada e a destranco. Olho pela brecha da porta e não vejo nada além de uma sombra. A sombra se aproxima da porta novamente e eu reconheço no mesmo instante. Era Kevin.

— Kevin? O que você está fazendo aqui?

Ele me olha confuso, provavelmente tão surpreso quanto eu.

— Ah... Malu disse que tinha falado com você... pra gente sair... hoje...

Ela deve ter falado enquanto eu estava distraída. Pausas. Eu adoro suas pausas.

— Eu acho que me esqueci. — eu disse.

— Se estiver atrapalhando, eu posso... ir embora... se quiser...

E ele estava atrapalhando. Eu tinha que resolver alguns exercícios sobre contabilidade, mas não deixaria Kevin vir até aqui. Eu vou sair com ele.

— Não. Não está. Eu... só preciso pegar meu casaco.

Fomos caminhando em silêncio, ele não disse para onde estávamos indo. Não entendi o suspense já que íamos assistir um filme. Garotos... sempre bobinhos. Andamos mais um pouco e eu vi balões. Balões flutuando acima de mim e logo a frente um escorregador. Ele me trouxe para um parque de diversões.

— Um parque de diversões?

Ele fez que sim com a cabeça.

— Não gostou? A gente pode ir para outro lugar se quiser....

Quando eu tinha 7 anos de idade conheci o meu pior pesadelo até então. A altura. A primeira vez que fui a um parque de diversões com meus primos mais velhos e eles me convenceram a subir no brinquedo mais alto. Eu tinha acabado de comer 3 fatias de pizza de mussarela e um copo enorme de milkshake de morango. Todos os três primos e eu subimos, a prima mais velha, Kelly tinha 17 anos, ela ficou ao meu lado. Kelly me disse para não ter medo e que eu poderia segurar sua mão caso sentisse. O brinquedo começou a rodar nas alturas e nos primeiros segundos me concentrei em fechar os olhos. Kelly gritava: Abra seus olhos Laurinha, você não sabe o que está perdendo. Abra! Escutar Kelly soltando aquelas palavras me fez abrir os olhos imediatamente. O primeiro contato que tive foi olhando para cima. Até então tudo bem, lá estava meus outros dois primos se divertindo. Depois abaixei a cabeça e olhei para o carrinho de algodão doce lá em baixo. Entrei em prantos e comecei a gritar sem parar, eu gritava tanto que todos naquele brinquedo gigante me olhavam apavorados sem saber o que fazer. O homem que controlava o brinquedo parou um pouco depois e me tirou de lá. Uma das poucas coisas que me recordo era do homem reclamando com meus primos por terem me colocado naquele brinquedo, e logo em seguida eu desmaiei. Pouca coisa para uma criança, não é mesmo? Desde de então eu não ia em brinquedos como aquele e nem subira em lugares muito altos.

Péssimas lembranças. Você não vai querer saber.

Ele sorri meio constrangido.

Kevin comprou para nós um algodão doce e entradas para ir no carrosel. Foi divertido, tinham várias crianças querendo subir no brinquedo e nós dizíamos que era a nossa vez ser criança. Esse é o tipo de lembrança que gostaria de ter. Não aquela.

— Foi divertido, obrigada. — disse sorridente — Mas eu preciso ir.

— Vai tão rápido assim, Cinderela? Deixa seu sapatinho de cristal pra mim como recompensa por te fazer sorrir!

— Cinderela que calça 40. — ele ri — Desculpe, mas vai ter que se contentar com um beijinho na bochecha.

Ele me abraça e eu beijo sua bochecha esquerda. Kevin tenta virar a boca para me roubar um beijo, mas recuso de imediato.

— Certo... eu já entendi... amigos, não é?

— Acho melhor por enquanto... não quero que crie expectativas no momento.

— Tudo bem, eu te entendo. De verdade. Posso retribuir o beijo?

Fiz que sim com a cabeça e ele beijou minhas bochechas suavemente. Kevin é um bom garoto, de verdade, porém uma coisa que aprendi nessa vida é nunca dizer nunca. Senti falta das suas inúmeras pausas enquanto fala.

THE (new) DIARY of BISSEXUAL Onde histórias criam vida. Descubra agora