— Você está bem? —pergunta Thalita olhando para estrada — Quer que eu pare o carro?
A presença de Thalita deixa meu corpo confuso. Vários sentimentos confusos estão retornando todos ao mesmo tempo, sinto que não estou no controle do meu próprio corpo. Sua expressão é séria enquanto dirige me deixando com ainda mais vontade de pressiona-lá contra mim firmemente. As poucas mexas louras existentes em seu cabelo castanho escuro, a fazem parecer mais velha do que aparenta ser, mas ela continua elegante e carismática exatamente como me lembrava.
— Hã? Estou bem, não precisa se preocupar.
Depois de quase 25 minutos chegamos finalmente a pequena sorveteria da avenida 114. Não entendia o por que dela me levar tão longe para uma conversa matinal. Thalita tirou seu cinto de segurança e abriu a porta para mim, mostrando que ainda é muito educada. A sorveteria era simples, o acabamento era de cores pasteis rosa e azul, um lugar bastante convidativo e confortável. Thalita e eu sentamos na mesa mais reservada dali, tinha uma enorme janela de transparente que dava para observar quem passa por ali.
Ela perguntou o que eu queria tomar e disse que era por sua conta. Pedi o meu sabor favorito, flocos e ela de limão.
— Engraçado… tive uma amiga há muito tempo e sempre que saímos para tomar sorvete ela escolhia flocos. — disse ela
— Coincidência, não é mesmo?
Eu e Thalita saíamos para tomar sorvete toda terça-feira depois das três aulas seguidas de física. Sempre pedia flocos e ela qualquer outro novo sabor que tivesse no cartaz. Se ela não gostasse do sabor roubava um pouco do meu. Era divertido. Tentei puxar conversa com Thalita para quebrar o silêncio repentino.
— Por que estamos aqui?
— Ah! Kevin pediu para que eu tentasse conversar com você.
Kevin. Kevin. Kevin. Sempre Kevin.
— Não estava me sentindo bem e fui embora, apenas.
Esse era o momento ideal para conhecê-la, mas tinha em mente que qualquer pergunta mal interpretada poderia a ofender.
— Quantos anos você tem? — pergunto, ainda tensa — Hã... você responde se quiser claro.
Ela olha para mim e sorri finalmente quebrando a tensão que sentia.
— Vinte e quatro anos.
Exatamente como calculei Thalita é 1 ano mais, velha.
— Você está saindo com alguém? Quero dizer… Kevin e eu adoraríamos sair em casal.
— Isso significa que vocês dois já se resolveram? Ah, eu não estou saindo com ninguém.
Isso era tudo o que eu queria ouvir. “Não estou saindo com ninguém”
Thalita me analisa por alguns instantes e diz:
— Você me parece familiar… Nós conhecemos?
— Não! — exclamo rápido demais — A gente não se conhece.
Por que eu estava fingindo que não a conhecia? Talvez seja porque quero que ela lembre de mim, sozinha.
Estava saboreando minha tigela com sorvete e Thalita parecia não estar gostando muito do seu, estava esperando ela pedir para experimentar o meu como antigamente.
— Quer experimentar o meu? — pergunto — Parece estar melhor que esse.
Ela assentiu e experimenta o sorvete que estava na minha tigela. Então ela abriu o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, o que me fez lembrar daquela atriz, Alexxis Lemire, mas o sorriso daquela mulher não chegava nem aos pés da minha garota. Tentei conversar mais sobre ela, e ela sempre mudava o assunto. Ela ainda continua misteriosa quando se trata de sua vida.
Ela se aproxima da cadeira, me observando o tempo todo. Pega um pouco de sorvete com a colher e leva até a boca.
— Não quero parecer rude, mas prefiro não falar sobre mim. — Ela tira a colher dos lábios — Vamos falar de você e Kevin.
Não consigo parar de encarar aquela colher. Acho que amo aquela colher.
Thalita pergunta o que realmente tinha acontecido, disse a ela que estava confusa com alguns assuntos pessoais. Ela diz que Kevin está apaixonado por mim que ele é um garoto bom, compreensivo e carinhoso e jamais faria nenhum mal para mim. Aquelas palavras saem de sua boca com tanta sinceridade que estou começando a acreditar. Talvez seja melhor eu ficar com Kevin pelo menos ele se _lembra_ de mim.
— Você pode me deixar em casa, por favor? — peço para Thalita
Ela diz que sim e me leva embora. A viagem de volta foi totalmente diferente da ida, ela me falou todas aquelas coisas sinal que não sente minha falta ou ela realmente não se lembrou de mim. Continuo olhando para ela principalmente para suas mãos inquietas que não ficam quietas nunca.
— Gosto das suas mãos inquietas. — digo
E por um instante Thalita tira o foco da estrada e olha para mim. Sua expressão parece de surpresa.
— O que você disse? — pergunta Thalita.
Não entendi o que acabou de acontecer talvez ela tenha levado para o lado pessoal ou tenha lembrado de alguma coisa. A única coisa que sei é que aquela calça jeans preta extremamente apertada está mexendo comigo.
Mais 25 minutos e chegamos ao ‘campus’. Convidei ela para entrar e ela aceitou. Abro a porta e encontro Malu sentada na minha escrivania como de costume.
— Maria Luiza, está fazendo o que aqui?
— Estava apenas deixando um recado para você.
— Recado? Que recado?
— De Eliza. Ela está sem telefone.
Eliza me deixando recados? Espero que ela esteja bem.
Malu e Thalita se encaram.
— Hã... Malu essa é Thalita, Thalita essa é Malu.
— Namorada nova Laurinha? E… — interrompi ela.
Malu como sempre me envergonhado. Eu estava mais constrangida que Thalita procurando o buraco mais próximo para enfiar minha cabeça.
— Não te devo satisfação e ela… não é minha namorada.
Malu convidou Thalita para entrar. Ela… aceitou? Estranho ter minha melhor amiga e minha ex namorada que é melhor amiga do meu quase-namorado juntos no mesmo lugar. Confuso? Penso que o nome desse diário deveria ser as confusões da vida amorosa de Laura Andrade. Liguei a TV no HBO e assistimos um filme. Foi menos constrangedor e confuso do que estava esperando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
THE (new) DIARY of BISSEXUAL
Teen FictionTerceiro e último livro de TDOB Oito anos se passaram desde que Laura mudou-se. Na faculdade, ela está com dificuldade para acompanhar a rotina universitária. Laura só não esperava a volta de um amor do passado. Antigos sentimentos voltam à tona, ag...