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Na segunda-feira de manhã, saí de casa o mais rápido que pude. Segui para campus, escolhendo o caminho mais tranquilo que pudesse encontrar, e atravessei o pátio principal perto da fonte e da biblioteca enquanto as pessoas se dirigiam para as salas de aula. Fui para a biblioteca. Desde que entrei aqui, eu passava lá uma ou duas vezes por semana. Descobri a seção de culinária e carreguei uma pilha de livros até um espaço vazio no terceiro andar. Me debrucei sobre receitas, coberturas, arranjos de bolo. Não me atrevo a cozinhar porque sei que não tenho jeito e me recuso a jogar comida fora. Prefiro imaginá-los. Preparei bolos imaginários, um de cada vez, desfrutando do mais consistente dos meus devaneios. O primeiro tinha cinco andares; era quadrado, com uma fita preta e esmalte comestível de caramelo que formavam verticalmente arranjos ao redor. O segundo era um clássico com recheio de baunilha com cobertura azul-clara e enfeites de flores brancas.

— Minha mãe diz que o segredo para preparar bolos é usar uma travessa aquecida. Não que eu saiba. Mal consigo preparar uma tigela de cereal. — diz Kevin. 

Kevin sempre aparecera do nada. Era como se me conhecesse tão bem para saber todos os lugares em que frequentava. O sorriso sem graça dele sugeria que aquilo era bem provável, e fiquei levemente encantada quando ele enfiou a mão no bolso, envergonhado.

— Desde quando você se interessa por culinária? — perguntou, desviando seu olhar.

— Sempre me interessei por culinária. Embora não me atrevo a pratica-lá.

Ele sorriu. Olhando para o nada.

— Eu… eu…

— Você?

Kevin soltou uma risada nervosa.

— Podemos conversar agora? Se estiver ocupada posso ir embora…

— Eu gostaria que você ficasse. — respondi. Queria escutar o que ele tinha a dizer.

— Com você me sinto a melhor pessoa que existe, como se eu pudesse ser útil para o resto do mundo. Sem você eu não consigo enxergar motivo algum. — Ele respira, engole seco e prossegue — O que estou querendo dizer, Laura, é que você fez parecer tudo tão fácil. Quando penso em você meu coração se enche com esperança, se enche de amor. O som da sua risada me acalma e eu quero escuta-lá pelo resto dos meus dias. Laura… você quer namorar comigo?

Engoli seco. As palavras saíram de sua boca de maneira suave. Por mais que sentisse necessidade em responder aquilo, não encontrava palavras. Não encontrava as palavras. Novamente perdi o controle sobre a reação do meu corpo.

— Isso é sério?

— Eu nunca falei tão sério assim na minha vida. — Ele responde com um largo sorriso no rosto.

— Não estou conseguindo encontrar as palavras certas para a resposta certa.

Ele se aproximou, segurou minhas mãos e disse:

— Não existe resposta certa, Laura. Você apenas tem que fazer o que seu coração exigir.

Ele estava certo tinha que respeitar minhas emoções. Eu me sentia segura com ele. Kevin não se importava com o meu cabelo bagunçado, nem reclamara quando fico olhando para um ponto fixo qualquer. Ele era atencioso e sempre estava fazendo o que estava ao seu alcance para me ajudar. Penso que esse momento finalmente chegou. O momento em que vou entregar meu coração á ele.

— Você vai continuar gostando de mim quando eu for rude? — disse — Veja bem, às vezes não consigo controlar minha delicadeza.

— Até mesmo se você assassinar alguém vou estar lá por você. E o principal: eu nunca vou deixar de gostar de você.

Olhei por alguns instantes para um ponto fixo qualquer pensando na minha resposta. Seja qual for a minha resposta, estou seguindo meu coração.

— Se eu te disser que sim, você vai me beijar?

Ele faz que sim com a cabeça e vem na minha direção. Ele me beija. Envolvo minhas mãos em sua cintura, e pela primeira vez em muito tempo eu estava bem e segura. Com o meu namorado. Vai demorar um pouco até que me acostume a chama-ló assim.

— Sim. Quero namorar você, Kevin Duarte.

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