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Antes de deitar imaginei mil e uma versões minhas. Todas juntas. Todas esperando a minha aprovação. Todas tentando se encontrar. Via-me correndo dos meus próprios devaneios, escondendo-me nos lugares mais escuros que encontrara. Esse pensamento entra. Esvazia. Volta. Não era intencional. Era meus pensamentos me mantendo presa a traumas do passado, revivendo memórias insignificantes que deixei para trás. Apesar disso, continuava. Não importa o que eu fizesse. Aquilo não parava. Nunca.

Há pouco menos de 2 meses nós conhecemos. Há pouco menos de 3 semanas estamos namorando. Esse está sendo meu relacionamento mais rápido e duradouro. Na maior parte do tempo não faço ideia do que se passa na cabeça dele. Ele é tão confuso e instável como eu, isso me irrita. Ele permite que eu desabe em seus braços, me permite ficar. E eu acho isso incrível.

— … Eu realmente conheço você. Sei que é inteligente, cuidadoso e estranho, e engraçado…

Segurei um riso.

— Você me acha tudo isso mesmo? Tá achando engraçado?

Levanto a cabeça e vejo que os olhos dele já estão rindo para mim.

— É que às vezes é bom ter alguém pra conversar, alguém que te faça sorrir mesmo quando as coisas não vão bem.

Eu me joguei no sofá. Ele se sentou ao meu lado e puxou minhas pernas para o seu colo. Ele veio na minha direção, e parou a poucos centímetros de mim. Suas mãos tomaram o meu rosto, e sua respiração acelerou enquanto ele me olhava cuidadosamente. Antes que eu tivesse a hipótese de imaginar se ele ia me beijar ou não, Kevin segurou meu rosto e me puxou para perto, pressionando os lábios nos meus. Lábios macios, quentes e maravilhosos. Ele se afastou um pouco, depois me beijou de novo.

Seu telefone vibrou na mesa de cabeceira e ele sorriu, segurando-o perto do ouvido.

— Nhã… não posso conversar agora mãe… Eu estou com a Laura agora. Um jantar? Está bem, estaremos lá.

Eu ainda não conhecia sua família. Sabia apenas o nome da mãe, Rosângela Duarte.

— Meus pais convidaram a gente para jantar.

Engoli seco.

— Ahã… que… bom?

— Minha mãe está esperando a gente. Vamos!.

— Estou toda desarrumada! — falei, franzindo a testa ao me olhar no espelho.

— Você não percebe que é linda? — ele perguntou, beijando meu pescoço.

— É a primeira vez que vou encontrar seus pais… e você quer que eu me acalme?

Ele se virou, encostou no meu rosto e me beijou.

— Eles vão amar você, que nem eu amo.

“Eles vão amar você, que nem eu amo”. Essa frase foi o mais próximo de um eu te amo que recebera. Seria possível alguém se apaixonar com tamanha intensidade em apenas dois meses?

— Um momento. — falei, enfiando uma camiseta e uma calças, jeans.

Ele manteve o braço em volta de mim e não o soltou até que estivéssemos sentados à mesa do restaurante. O ambiente era agradável, as cores eram neutras, preto e branco. Uma placa na entrada dizia: 歓迎します ( bem-vindo). As mesas eram todas retangulares com um pequeno jarro redondo de flores de cerejeira sakura centralizadas no meio. O tom rosa-claro das flores davam vida ao local, deixando-o confortável para uma refeição.

Um casal e uma criança estavam sentados na entrada. A mulher aparentava ser mais velha que o marido. Ela tinha seus cabelos grisalhos curtos, usava óculos de grau. Sua pele era bem cuidada, mal notava as verrugas embaixo dos olhos. A mulher usava um vestido cinza na altura dos joelhos com uma maquiagem básica no rosto. O marido era casual, usava calça preta com a blusa azul escura. A criança tinha tranças no cabelo loiro, um belo vestido rosa escuro.

— Ah, Kevin. Você veio!

A mulher beijou seu rosto e o abraçou.

— Você deve ser a Laura, certo? — perguntou a mãe, com uma expressão divertida no rosto.

— É um prazer conhecê-la. — retruquei, sorrindo.

— Que falta de educação a minha! Eu sou Rosângela. E este é o meu marido, Lourenço Duarte. E essa coisinha linda aqui é a minha filha, Anna Júlia.

Kevin apontou para a irmã.

Ela acenou com a cabeça. Os olhos eram de um castanho esverdeado, e os cabelos, loiros-escuros. Não se parecia nada com Kevin.

— Então Laura, meu filhão aqui disse que você faz Administração na faculdade… — disse Lourenço, gesticulando para Kevin.

Pressionei os lábios um no outro e fiz que sim com a cabeça.

— Você mora no alojamento da faculdade, também? Seus pais moram aqui na cidade?

— Pai… — disse Kevin, constrangido.

— Tudo bem, Kevin. — digo — Atualmente minha mãe mora no interior e meu pai na capital de Mato Grosso.

— Seus pais são separados? — pergunta a mãe.

— Desde do ensino médio.

— Sempre viveu por aqui?

— Hã... na verdade… — engoli seco — Morava no interior com a minha mãe…

— E por que veio parar na capital? — indagou.

Fiquei em silêncio. Não sabia se era o momento ideal para revelar minha orientação sexual, e muito menos dizer o porquê de vir morar na capital. Ah, claro, senhora, vim morar aqui porque minha família conservadora descobriu que estava apaixonada por uma garota e resolveram me colocar em um colégio católico. Claro!

— Ahã… Então, cadê a comida? Estou faminto! — Kevin diz quebrando o silêncio constrangedor que rondava a mesa.

Comemos comida japonesa enquanto eu dava risada por causa das habilidades de Kevin com os palitinhos. O jantar fluiu normalmente. Aquele sushi de salmãoHum, estava uma delícia!
Seu pai ofereceu o Honda Civic 2.0 emprestado para Kevin me deixar em casa.

— Eu estraguei o jantar, acredito que eles não gostaram de mim. — falei, oferecendo-lhe um sorriso como um pedido de desculpas.

— Está brincando? Eles amaram você! — ele disse — Quem deve se desculpar sou eu. Eles podem ser um pouquinho evasivos às vezes…

— Eu amei a noite. Obrigada,

Ele me deu um beijo de boa noite e se foi. Aceno em despedida, observando enquanto ele descia os degraus em direção ao carro.

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