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O despertador tocaria pela primeira vez as 8h da manhã em ponto, mas 6h50 e já o havia desligado e pulado da cama como se houvesse tomado um choque. Geralmente acordo minutos depois do despertador tocar e fico encolhida em baixo do lençol decidindo dormir mais. Porém, hoje foi diferente. Ela estava ali. Observei Thalita dormindo.

Dormiu com a mesma roupa da noite passada, exceto pela jaqueta de couro. Seu cabelo castanho estava volumoso, mas mesmo assim estava lindo. Ao contrário de mim, ela não se mexe muito enquanto dorme. Poderia fita-la por horas a fio sem sequer me cansar, poderia listar cada qualidade sua e ainda sim faltariam folhas para la descrever. E mesmo com toda essa paz que sinto ao olha-la, ainda assim ela é euforia, dessas que a gente sente em um parque de diversões e sempre quer de novo. Poderia escolher me perder na imensidão de intensidade que habita dentro daquele corpo, cada átomo que constitui ela. Eu me encontro no silêncio dela.

— Laura? — diz Malu, bocejando — Ta fazendo o quê?

— Ela fica linda até babando nos meus lençóis — digo, bocejando também, são contagiantes.

— Cê sabe que isso é estranho, não é?

— Shh — continuei acariciando seus ombros impecavelmente macios e sutis. Ela cheira muito bem, um cheiro doce, mas não enjoativo. —, se continuar falando ela vai acordar.

— Eu estava certa — declarou.

— Sobre?

— Você sente alguma coisa por ela.

— Não… — retruquei. — Hum… Por que acha isso?

— Depois da festa do Kevin, você mudou. No começo pensei que fosse por causa do namoro, até conhecer Thalita — suspirou — Você se torna outra pessoa quando ela está por perto, ambas ignoram todos quando estão juntas.

Neguei com a cabeça.

— Vai mesmo mentir logo pra mim? Fala sério, te conheço melhor do que você mesma!

Não tinha como escapar dessa.
Ela era Maria Luiza D'Ávila, minha irmã postiça.

Tenho sentimentos por ela. Eu me importo com ela. Muito. Não consigo suportar quando ela não está por perto — retruquei, sentindo alívio no peito.

— Talvez esteja na hora de descobrir o que você quer, antes que alguém se machuque. Quando for a hora certa, diga a ela exatamente o que sente. E faça isso da forma mais natural possível.

A verdade é como um cobertor, sempre deixa seus pés esticarem, puxarem, esticarem, mas nunca funcionarem. E desde o momento que chegamos chorando até o momento que partimos morrendo, ele só vai cobrir o seu rosto, enquanto você geme chora e grita. Não se pode sempre fugir da verdade uma hora ela aparece sendo contada por você ou por algum estranho. Meus sentimentos são assim, confusos. Estou sendo errada em alimentar esse sentimento, enganar a mim mesmo pensando na possibilidade de ser recíproco. Apenas aguente mais um pouco — é o que digo todos os dias.

— Bom dia, meninas — disse Thalita esticando seus braços. —, o que estão fazendo acordada a essa hora?

— Estamos…

— … pensando o que fazer para o café da manhã — Malu completou.

Foi a primeira vez que disse em voz alta que sentia algo por Thalita Albuquerque. Desejei mentalmente que ela não tenha escutado.

— Creio que terei que dispensar. Tenho trabalho.

— Trabalho? — pergunta Malu, com a xícara de café nos lábios. — Hoje é domingo

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