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Quando cheguei ao alojamento era um pouco tarde. Gostei bastante da presença de Kevin. Ele é engraçado. Tomei um banho rápido, coloquei meu pijama azul celeste, logo em seguida adormeço.

Em meus sonhos, eu estava sentada no refeitório da faculdade com Malu. Ela estava provando uma porção de batatas fritas com pedaços de tiras de queijo, e eu escrevendo em meu diário, como de costume. Maria Luiza estava devorando aquelas batatas fritas como se fossem as únicas em um mundo pós-apocalíptico. Não apenas me tirava do sério como também minha concentração. Ela sabia que eu detestara o barulho daquela bomba calórica e mesmo assim continuava. Perdi o foco do diário e olhei para ela, mas o que eu vi me surpreendeu. Não era Malu que estava sentada à minha frente, era outra garota. Ela me observava meticulosamente enquanto comia, eu estava apavorada. Todos ali estavam quietos, os únicos sons que conseguia distinguir era o de nossas respirações totalmente ofegantes.

Ela me parece vagamente familiar, mas não sei de onde a conheço. O que é estranho, pois ela é bem bonita e sinto como se eu devesse saber o nome ou lembra onde foi que à vi. Ela tem olhos encantadores e convidativos. Senti que ela tinha acesso total aos meus pensamentos para conhecer meus desejos mais profundos e obscuros. A garota dos olhos convidativos se aproximava. Estava paralisada, não conseguia me mexer nem falar. Seu hálito quente envolvia meu pescoço conduzindo-se até a minha orelha. A garota estava muito próximo à mim, eu queria toca-lá mas meu corpo não reagia. Ainda com a respiração ofegante ela me dissera aquilo que eu gostaria de ouvir: "Eu gosto mais ainda quando você fica tensa". Ela me provocava como se soubesse que estava em suas mãos. Era torturante. Deu continuação a sua fala me deixando com desejo de pressiona-lá contra a mesa: " Nunca pense em se esquecer de mim, amor". Ela se foi antes que eu percebesse entre as mesas do refeitório.

Acordei com o barulho ensurdecedor do alarme. Aquilo que a garota dissera ficava repetindo-se na minha cabeça: "Nunca pense em se esquecer de mim, amor". Amor? Estava cedo demais para raciocinar. Tomei o café da manhã normalmente, uma xícara de café bem amarga com biscoitinhos de manteiga. Malu sempre me chamava de "garota da vida monótona" por manter uma rotina diariamente. Criar uma rotina e seguir todos os dias, sem exceção, me fazia sentir no comando. Hoje é sabado, o dia que Malu vem dormir no meu dormitório. Todos os sábados revezamos, na semana passada eu dormi no dormitório dela e agora ela quem vem. Planejei para gente uma noite da pizza com direito a fofocas à noite inteira. Vou aproveitar meu tempo livre e ir visitar Eliza. Ela não estava se sentindo muito bem hoje.

— Eliza? Está aí?

Ela abre a porta e me convida para entrar.

— O que está fazendo aqui? — ela pergunta — Achei que só fosse disponível para Malu...

— Você sabia que é dramática?

Ela me abraça e eu beijo a sua testa.

— Tá se sentindo melhor?

— Eu não estou muito bem.

Ficamos algumas horas conversando sobre a faculdade e em como estava sendo cansativo. Eu estava fazendo carinho em seu cabelo e às vezes a abraçava, ela estava sensível e não soltava as minhas mãos. Eliza me contava sobre quando caiu de bicicleta e quebrou seu dente, até os dias atuais ainda faltava um pedação do seu dente inferior. Disse que precisava ir e desejei que ela ficasse bem logo.

Pedi por telefone 3 pizzas para a noite das meninas, uma de mussarela, uma de milho verde e outra portuguesa. De acompanhamento dois refrigerantes de capacidade máxima. Gostávamos do efeito do refrigerante na gente e essa noite com certeza vai render. Coloquei minha roupa de dormir e me sentei na escrivaninha esperando por Malu.

— Noite das meninas! — Ela está entusiasmada.

A noite das meninas tem um significado especial para nós, sempre compartilhamos momentos bons e agimos como se fôssemos crianças. É bom esquecer das responsabilidades da vida adulta de vez em quando. Abri a caixa de pizza de milho verde e peguei a primeira fatia. Contei para Malu como aquelas frases repetiam-se no meu pensamento incontáveis vezes. Por que um inofensivo sonho estava fazendo esse estrago todo na minha mente?

— Laurinha foi apenas um sonho, normalmente a maioria dos sonhos não têm significado.

— Como você pode ter tanta certeza? Aquela sensação era a mesma que senti naquela festa...

— Está falando da festa em que você e Kevin se conheceram?

Percebi que não contei sobre a garota, estava ocupada demais com a faculdade e acabei não dando muita importância. Contei o que aconteceu e ela ficou em silêncio por alguns instantes.

— Então você acha que a garota dos seus sonhos é a mesma daquela festa?

Malu pega uma fatia de mussarela.

— Eu ainda não sei... estou tentando lembrar de onde a conheço...

— Você pode enganar a si mesma como quiser, mas a Kevin não. Se essa garota mexeu com você é melhor você decidir o que quer com ela. Ele não merece a sua confusão.

Ela estava certa, mas eu ainda não entendia o que estava sentindo. Eu não me apaixonei por uma total desconhecida, só nos vimos uma única vez, além disso eu não sei seu nome nem lembro seu rosto. O fato dela estar nos meus pensamentos frequentemente não significa nada. Pelo menos eu espero. Continuamos a nossa noite com direito a brigadeiro no final. Eu nunca contei isso para Malu, mas ela ronca. Ronca muito alto. Parecia um motor de carro enferrujado. Eu a amava tanto que não me importava com o seu ronco. Desejei em silêncio sonhar com a garota dos meus sonhos outra vez.

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