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Nessa última semana que se passou foi tranquila. Ela e eu passamos quase todos os intervalos da faculdade juntas. Eu recebi meu diploma e em alguns meses minha formação completa. D'avila matriculou-se em um cursinho de inglês na esperança de aprender o idioma e ficar com outros, caras; Sanches saiu da sua “bolha social” para conhecer outras pessoas, enfrentando seus sentimentos pela Maria Luiza. É mais sensato descobrir do que supor.

Está tudo estranhamente bem.

No ‘campus’, eventualmente, teria de enfrentar Katarina Calixto. Ela provocou-me com palavras afrontosas, acredita que Thalita e eu estamos juntas apenas porque elas terminaram. E sim, estamos juntas graças a Katarina Calixto, uma mulher maravilhosamente encantadora, de aparência. Entretanto, suas atitudes a transformam em uma criatura horrível, horrenda. Do que adiantas desfrutar de venustidade se por dentro a frustração, hostilidade, ultraje a consumiu?

Acredito que, em algum lugar, pessoas empáticas ainda se acham.

É surpreendentemente aprazível sentir-se amada.

Thalita conhece o meu desejo mais importunado, compreende meus costumes, ela me tem. De uma forma que ninguém previamente nunca havia me tido. Eu gosto de pertencer a ela. E quando alguém te ama, até a forma de falar seu nome é diferente.

Ando pensando bastante em abandonar a faculdade de administração. Todavia, está quase no final. Todos sabem que não foi escolha minha optar em fazer administração. Eu sempre amei escrever. Dessa vez, vou fazer uma coisa por mim, algo que me faça feliz, que me traga entusiasmo mais uma vez. Eu vou cursar Jornalismo.

É o meu foco agora, me tornar uma profissional qualificada e alcançar diversos lugares do mundo com minha reportagem, meu sentimentalismo e deliberação.

Mamãe falara dos textos que escrevia para ela quando criança. A trilogia de estórias do “Bob, o urso”. A cada vez que mamãe lia meus livros, incentivava e acreditava na fantasia de uma criança. Mamãe foi a primeira pessoa a acreditar em mim, a primeira pessoa que fez esse sonho parecer possível. Quero espalhar para crianças esperança. Elas podem ser quem quiserem, basta ter alguém que acredite nelas.

Amanhã, sexta-feira, embarcaremos de avião para Pousada Brilho do Naufrágio para o casamento do Sam. Serão três dias hospedados em uma pousada no interior do Rio Grande do Sul. Pelo que observei nas fotografias, o lugar é bem-apresentado.

Há algumas noites, tive um sonho interessante. Era a noite, as crianças pediam benção aos seus pais antes de dormir. Em uma avenida pouco iluminada estava eu, sentada debruçada sobre o asfalto quente, quente como brasa. E eu não conseguia me mover, não conseguia levantar e ir embora. Estava frio, muito frio. A única garoa restante caída sobre minha testa. Tremendo. Frustrada. Eu quero sair daqui, pensei, no entanto, nada ocorreu. Ali naquele asfalto quente permaneci durante boas horas.

Meus sonhos são assim, cheios de mensagens. Analisando-o com paciência poderia assimilar ele a situação em que me encontro atualmente.

Frustrada. Com medo da escuridão. Apavorada o suficiente para não dormir bem quando a noite chega. É nesses momentos que encontro força. As crises de ansiedade, antes poucas devido à presença de dela, diminuíram-se. Quando deito ao seu lado antes de dormir, acaricio seu rosto quente e delicado, sinto-me acolhida, confortável. Repouso sabendo que, mesmo que tenha um pesadelo, ela estará do meu lado quando amanhecer. Irá encher meu rosto de beijos castos, abraçar-me até o medo se evaporar.

Essa é a minha parte favorita. Dormir com a cabeça em seu peito. Para outros, pode ser pouco. Para mim, a sensação é como estar deitada no amor, em pessoa.

Ela torna as minhas noites sombrias em sorrisos contínuos.

***

Você acredita em sonhos? Você acha que eles podem transmitir alguma mensagem?

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