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A minha experiência com o ensino médio pode ser classificada em 2 estágios: estágio 1; aceitação. Esse, sem dúvida alguma é uma das etapas mais difíceis do ensino médio. Eu me reconheci bissexual no primeiro ano do ensino médio e, digamos que, acabei "arrastando" outra pessoa para essa etapa cruel de aceitação. Estágio 2: primeiro amor. A minha primeira paixão do ensino médio, Thalita Albuquerque. Ela tinha sua própria beleza como também se destacava entre as demais garotas. Quero enfatizar aqui que o meu primeiro ano foi em um colégio católico só para meninas. Infelizmente, alguns romances do colegial não conseguem evoluir juntos.

Segundo ano da faculdade de Administração e quando não estou estudando, estou escrevendo em meu diário. Minha vida mudou em alguns aspectos quando meus pais finalmente me reconheceram como bissexual ( acho que eles perceberam que um internato para garotas, mudança de escola e país não deram resultado). Administração não era exatamente o que planejava fazer, porém... para agradar papai e mamãe aqui estou eu. Faculdade não é festinhas toda semana; não é fraternidade lotadas com garotos bêbados e seminus. Faculdade é cansativo, é exaustante. Eu, por exemplo, tenho um relatório para entregar sobre estatística e o prazo é daqui a 2 horas, ou seja, estou ferrada.

— Ainda escrevendo nesse diário? — uma voz pergunta — Quando vai começar a agir como uma universitária e não como uma adolescente careta?

Eu compreendia a repulsa dela. Malu via meu diário como uma obsessão.

— Você sabe muito bem que não me encaixo nesse perfil de universitária rebelde, mesmo que eu tenha algumas recaídas e perca o foco, preciso lembrar sempre o porquê de estar aqui.

— Caramba. Só por hoje vamos dar uma voltinha no campus?

— Malu, não insiste. Eu estou ocupada com esses relatórios todos...

Malu olha para a escrivaninha com várias apostilas e as joga no chão. Eu passei horas organizando.

— Porra Maria Luiza, o que você fez?

— Eu estou tentando tirar você desse quarto, você precisa conhecer novas pessoas. Laura, você precisa sair, namorar...

— Namorar, Malu?

— Beijar na boca. Conhece? Quando foi à última vez que fez isso?

Ela não estava totalmente errada. Eu estava tentando ser uma menina boazinha que respeita os pais (o que na verdade era muito difícil e entediante), mas o que ela está falando é verdade. Não que eu esteja exagerando, mas beijar na boca? O que é isso?

Depois de muita insistência por parte de Malu, resolvi sair. Um relatório a menos para entregar não vai me prejudicar. Eu sou à garota mais careta do mundo. Meu guarda-roupa é movido por moletons e blusas de cores neutras, o que parecia que eu trajava sempre o mesmo conjunto; calça jeans, moletom com estampa de flores, e qualquer outra coisa que deixassem meus pés confortáveis. Era quase um estilo próprio.

Conhecendo bem Malu, ela não me deixaria usar as mesmas roupas de sempre. De acordo com ela, eu pareço estar em um velório eterno. Malu e eu somos amigas desde que cheguei aqui. Ela foi uma das poucas garotas que não me diminuiu na frente de todos. Mesmo sendo amigas, eu não sabia muito à respeito de Malu. Ela sempre se fazia misteriosa quando falava de si mesma. Malu vasculha meu guarda-roupa dos pés a cabeça e, por sua reação enojada, sei que não se agradou muito com o que viu.

— Você tem algo menos... gótico? Algo colorido, até mesmo a bandeira LGBT se você tiver...

Aquele comentário infeliz de Malu parecia mais uma crítica. Vou ignorá-la.

THE (new) DIARY of BISSEXUAL Onde histórias criam vida. Descubra agora