Capítulo 5

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A alvorada surge com o céu sem nuvens, prometendo um iluminado dia. O príncipe Eduardo é o primeiro a acordar, junto com o canto de pássaros pretos que rondavam sua janela.

Quando o Imperador Marco chega perto dos guardas, encontra todos preparados para viajar a manhã toda, os cavalos selados e também seu filho já pronto e empolgado com a aventura que o dia estava prometendo. Para ele, o momento que estava vivendo é divertidíssimo, uma oportunidade para aprender coisas novas e fazer grandes descobertas.

O príncipe, apesar da pouca idade, já era um bom cavaleiro. Desde bem pequeno frequentava aulas de hipismo, artes da guerra e defesa pessoal. Seu pai, ao aproximar dele pergunta:

- Está mesmo com vontade de ir? É um longo caminho e não sabemos o que vamos encontrar pela frente, nem que horas iremos voltar.

Eduardo monta em seu animal, mostrando claramente sua intenção.

O Imperador chama seu melhor soldado e ordena que Eduardo não saia de perto dele, delegando a este a tarefa de trazê-lo de volta sem pestanejar, caso aconteça alguma coisa. A ordem foi clara e concisa: se necessário durante a viagem, deveria o filho obedecer ao comando de retornar são e salvo para casa. Por fim conclui ao herdeiro:

- Quero que me prometa que vai fazer exatamente o que eu mandar, tudo bem?

- Sim papai. – respondeu confiante o garoto.

A duquesa Amélia chega ainda vestida com roupa de dormir e de longe acena para o sobrinho, jogando-lhe um beijo. O Imperador Marco vai ao encontro da esposa para despedir-se, quando escuta dela:

- Tome cuidado meu querido e cuide bem de nosso pequeno. Espero vocês para o jantar, vou providenciar para que recolham as verduras mais perfeitas do reino, bem como abater o melhor carneiro que eu mesma vou escolher.

- Interessante! Você nunca selecionou um animal antes; fico imensamente satisfeito que se interesse pela criação, mas é melhor pedir ajuda para não escolher os que seja algum animal reprodutor.

Ele a beija com um perigeu aproximando-se da testa dela, mas sem tocá-la. Por fim, entrega-lhe o cordão que mantém sobre o pescoço, onde está guardada pelo sorriso a estrela, a Cadente da Luz. O místico pingente deve ser mantido sempre aquecido, próximo ao coração, pois é sensível ao frio, perdendo seus poderes.

- Por que vai me deixar o pingente, você nunca o tira? Pode precisar da magia dele.

- Não vou precisar, vai ser uma busca simples e logo estaremos de volta. Não se preocupe – diz o Rei enquanto monta em seu animal.

Todos estão em seus cavalos e a comitiva começa a jornada pela busca da menina perdida. O vento sopra forte, o dia continua ensolarado. Atravessar a floresta até o portal que separa os dois reinos foi bastante divertido para o pequeno príncipe. Pelo caminho, o Imperador Marco ensina ao filho os poderes das plantas, pois algumas delas com propriedades curativas. Ele mostra a toca de marsupiais, aquele seria um bom esconderijo caso precisasse. Tinha também a pedra ponta de flecha, um eficaz objeto de ataque que foi descoberto na antiguidade e que até aqueles dias ainda é muito utilizado. Falou também sobre um cipó verde muito raro que por sorte encontraram pelo caminho. Quando queimado, esse cipó ao invés de fazer fumaça, acaba soltando uma névoa fria, ótima para fazer desaparecer. Eduardo guarda um pequeno pedaço desse cipó amarrado ao cinto quando seu pai o corta e entrega para ele.

A viagem continua interessante, algumas músicas são cantadas pelo caminho. Eduardo olha tudo com muito entusiasmo. Era a primeira vez que ele saia acompanhando uma comitiva numa missão especial. Antes, ele tinha saído com os guardas apenas para caçar animais da floresta, nos arredores do castelo, mas agora é uma missão de resgate muito mais interessante e perigosa.

No entanto, ao atravessarem o Portal que separava os reinos, o semblante do menino muda. Não só o dele, mas também de todos. Poucos anos antes o Imperador Marco havia passado por ali e o local era diferente. Era um pântano de certa forma bonito, mais iluminado. A entrada de Tenebra era recoberto por um tipo de flores amarelo-avermelhadas, em formato de trevo sobreposto, uma espécie bastante resistente. O rei, que sempre se atentou bastante à botânica, estranha o fato dessa planta não estar mais ali. Costumavam também ser encontrados naquele local muitos tipos de animais. Ademais existia um rio vibrante com diversas qualidades de peixe, inclusive um tipo minúsculo com propriedade curativa que quando uma pessoa estivesse doente, era só o engoli-lo que ao sair pela urina, retirava do organismo tudo o que estava fazendo mal. Havia muitas mudanças pelo lado de Tenebra e isso de certa forma assustou a todos, pois fazia alguns anos que não visitavam aquele reino e acabaram encontrando muitas diferenças.

O Imperador conclui que as pessoas que vivem ali são sofridas e enfrentam muitas dificuldades por morarem num lugar tão feio, assim considera seu reino superior em qualidade de vida quando comparado com o reino vizinho. Aproveita para recomendar ao filho sobre continuar preservando a igualdade entre as pessoas, não lhes deixando faltar o suficiente para viverem bem e felizes, bem como o respeito pela natureza, pois dela se extrai tudo o que se precisa para viver; com isso, ele terá respeito e obediência do povo. Para tanto, bastava seguir as leis de seus antecessores e se necessário, criar suas próprias leis para garantir a ordem, sem nunca se esquecer de ser bondoso. Assim todos o amariam, disse o pai.

Enquanto a comitiva segue viagem em busca da criança, na cozinha do palácio uma das cozinheiras recebe a encomenda trazida pelo guarda que acatou a ordem da rainha Joana.

A serviçal desembrulha a entrega e diz:

- Nunca vi um desses, de que animal será?

Rosália se aproxima e exclama espantada:

- Oh não! Não posso acreditar! Depois de tantos anos, não pode ser verdade!

Ela se afasta e derruba sem querer uma jarra com leite na mesa. Permanece atordoada por alguns segundos e sua colega a ajuda para que não caia desequilibrada.

- O que foi Rosália? – diz a cozinheira enquanto a socorre.

- É humano – responde Rosália.

- Não pode ser, onde conseguiram?

Elas permanecem se olhando mais um pouco. Rosália coloca as mãos sobre o ventre grávido, inconscientemente tentando proteger a criança que carrega consigo.

- É tão pequeno. – lamenta a cozinheira ao pegar novamente o embrulho.

A governanta recobre a consciência e rapidamente coloca o avental que usa para não sujar sua túnica já bem gasta e diz:

- Não importa agora, não podemos fazer mais nada a não ser prepará-lo rapidamente, antes que a rainha se enfureça e desconte seu descontentamento no pobre e coitado rei.

Ambas estão muito entristecidas. Contudo, a malvada rainha teria seu cobiçado almoço, preparado com seu preferido molho de hemácias e tendo como acompanhamento um delicioso sarapatel.


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