Pela manhã, sozinha faz o sepultamento de Dartho. Tinha aprendido com o próprio pai como fazer esse ritual, pois ele sempre teve muito respeito com os animais domesticados que morriam e era assim que eles procediam um funeral.
Depois, sentindo uma solidão sem fim, ela retira o couro que revestia os assentos de feno, recortando-os na forma de quadrados. Ela une as partes das pontas e coloca alças, fazendo uma espécie de mochila. Depois separa suas túnicas, o sapatinho de odalisca, os rústicos acessórios que fazia para adornar-se e os guarda na recém-criada bolsa. Também acomoda o bumerang junto às alças, encaixando-o perfeitamente. As moedas para Madelin são guardadas na pochete, junto com os seus três brinquedos antigos e a pequena meia. Por fim, pega alguns alimentos e sai do lugar onde havia vivido até aquele dia, desprendendo-se do seu mundo conhecido até o momento. Carise está disposta a obedecer ao último pedido de seu pai e segue confiante até o vilarejo.
Ela encontra a trilha que Dartho havia lhe falado. Carise segue observando tudo ao redor. Parece deslumbrada com a quantidade de flores que encontra. Ao olhar dentro de uma gruta, encontra uma família de Minhocas Furtacor. Grandes, a fêmea carrega os filhotinhos nas costas, ficam como balas de gelatinas, molengas e coloridas. Cansada, ela decide sentar-se sobre um cogumelo gigante.
Comendo alguns vegetais, ela escuta um barulho. Era um filhote de Esquilo Pavão Albino. Gracioso, ele se aproxima desconfiado. Carise não resiste ao encanto e oferece para o pequeno animal um pouco das castanhas que trazia consigo.
O bichinho adora o petisco e logo pula no colo dela. Ela ri e acaricia o esquilinho. Seu rabo é fofo como algodão. Quando feliz, como estava naquele momento, abre-se exuberante, parecendo mesmo um pavão. Carise também parecia ter esquecido um pouco de sua tristeza e de seus medos, pois tudo era novidade e um grande desafio.
De repente o animalzinho retira de sua bolsa uma de suas pulseiras com sementes e ameaça dar uma bocada. Impulsivamente ela diz:
- Não, isso não se come! – retomando o objeto e o guardando – Eu estou indo ao vilarejo, gostaria de ir comigo?
O esquilo sobe em seu ombro direito, estranhamente parecendo aceitar o convite. Carise apanha a bolsa e continua sua jornada.
Após horas de caminhada ela avista o Castelo onde mora a realeza, cercado por vários lotes de terra cedidos para as famílias encarregadas das produções de alimentos. Novamente, ela dá uma pausa do alto de um monte, pois ali tinha uma visão privilegiada. Tinha chegado ao seu destino, o vilarejo fica próximo de onde estava, mais alguns bons passos chegaria ao seu destino.
Primeiramente, de longe observa tudo, as pessoas trabalhando em seus lotes, cuidando dos animais, plantando, colhendo. De certa forma se reconhece ali, exceto pelo fato de ter tanta gente envolvida nas atividades em comum. Seu costume era de desenvolver tudo sozinha, principalmente nos últimos anos, pois dificilmente Dartho conseguia lhe acompanhar na labuta.
Após algum tempo ela se encoraja e começa a se infiltrar naquele mundo desconhecido. Caminhando pelas vielas, observa com atenção os ferreiros, os padeiros, os carpinteiros e os artesões, todos ocupando-se com seus afazeres. Tudo é novidade. As pessoas a olham também, com certa desconfiança, pois logo percebem que ela é uma estranha entre eles; é fácil reconhecer uma novata. Nunca antes tinha visto uma criança e acaba por encontrar meia dúzia delas se distraindo com uma brincadeira de se esconderem. Um menino maiorzinho ajuda o pai debulhando milho para um velho pangaré.
O esquilo ainda estava com Carise, mas ao desviar rapidamente de uma pequena garotinha que corria por ali, o bicho pula e sai correndo entre as pessoas. Ela sai atrás do animalzinho e assim chama ainda mais atenção dos moradores, até que se distraem com a chegada do cobrador de impostos, acompanhado de fortes soldados montados em seus cavalos imponentes.
Aqueles homens carregavam o estandarte real e as pessoas os olhavam com desdém. Os comentários entre eles eram muito diferentes do que falavam antes, ao verem a desconhecida. Agora dizem sobre se sentirem explorados, surpresos com o retorno breve daquelas pessoas que haviam passado dias antes, recolhendo a maior parte do que tinham produzido. Até o semblante das crianças tinha mudado, pareciam com medo. No Império de Nede as cobranças de impostos estão ficando cada vez maiores. Os nobres, que tomam conta do reino há alguns anos, começaram a abusar da população, mas eles têm esperanças de que quando Eduardo for empossado imperador as coisas mudem e voltem a ser como antes, na época em que seu pai governava o reino, quando as coisas eram mantidas com maior igualdade. Amélia já não estava conseguindo conter os nobres por essas cobranças abusivas e alguns deles começavam a se articular para coibir a coroação de Eduardo, mas eram a minoria para a felicidade de todos. Correndo tudo bem, Eduardo logo será o justo imperador do Reino de Nede.
Contudo, os moradores entregavam prontamente aquilo que os homens vestidos com pesadas roupas de cor da terra pediam. Alguns tentavam se justificar, mas a promessa de breve retorno é enfatizada com palavras duras de: "tomaremos à força, caso não seja providenciado sua parte".
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Desígnios
FantasyDois asteroides mágicos originam reinos distintos. Por um lado havia o Império de Nede, lugar em que as pessoas viviam numa espécie de socialismo. Já no Reino de Tenebra, havia a terrível Rainha Joana, a comedora de corações. Ali nasce Sofia, portad...