Capítulo 16

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No vilarejo, muitas pessoas caminham pelas ruas e Carise continua em perseguição ao esquilo, que reaparece atrás de alguns barris.

Ela corre para alcançar o animal e acaba trombando novamente em alguém.

- Ou, ou! Porque tanta pressa moça? – diz com voz forte o moço de um metro e oitenta, que carregava algumas ferramentas consigo.

- Meu animalzinho, você o viu? – pergunta Carise.

- Um esquilo pavão branco?

- Isso mesmo – responde empolgada.

- Não vi não! – fala ele tirando onda dela que o olha seriamente.

– Ei! Calma! Ele subiu no telhado daquela casa.

- Qual casa?

- Aquela com duas janelas cheias de flores.

Carise procura a casa, mas existiam umas dez casas com as floreiras exuberantes. Parecem que todos ali gostam muito das cores e aromas da natureza.

- Ah tá. Fácil! Algum idiota constrói todas as casas exatamente iguais se você não percebeu. Todas têm duas janelas e com floreiras lotadas de flores por sinal.

Derek, o belo jovem de ombros largos e cheiro másculo se vira para observar as casas. Carise cruza os braços, parecendo brava. Além disso, está cansada. Havia caminhado o dia todo e a noite já se aproxima sem que ela tenha localizado a pessoa que estava procurando.

- Sabe, antes de eu começar a construir algumas dessas casas, já era tradição local fazerem as moradias todas iguais. E eu respeito o que é designado e até as acho bem bonitinhas, você não acha?

Carise percebe que deu uma gafe e fica toda envergonhada.

- A me desculpe, eu não quis dizer que...

- Prazer, eu sou Derek, o mestre-obreiro. – diz a certa distância, enfatizando as sobrancelhas grossas ao franzir a testa.

- Eu sou Carise, a moça que acabou de lhe dizer grandes bobagens.

- Seu bichinho subiu naquela moradia ali, com telhado de sapê – ele aponta para uma das casas com esse tipo de cobertura – mas já deve estar bem longe, sinto muito.

Ele recolhe algumas ferramentas que tinha caído da cesta que estava carregando. Uma suave brisa carrega até ele o natural perfume da bela moça, a mais linda que já tinha visto, de olhos azuis marcantes e bochechas rosadas.

- Na verdade, ele não era meu, sabe. Eu o encontrei na trilha, vindo pra cá.

Carise aproveita a oportunidade para conversar com ele, a primeira pessoa com quem teve contato até o momento. Precisa muito de ajuda e consegue total atenção do jovem que é encantador e que parece confiável.

- De onde você vem?

- Das montanhas do oeste.

- O que faz aqui de tão longe moça?

Ela tira da bolsa o pedaço do palimpsesto com a descrição de Madelin.

- Procuro essa senhora, você a conhece?

- Moça eu não sei ler, conheço os números e os desenhos, mas as letras não.

- O irmão dela tem um lote por aqui, é ferreiro e o nome dela é Madelin.

Ele para de juntar seu material e a interrompe.

– O que você quer com minha mãe?

- Sua mãe? Eu posso vê-la.

- O que você quer com ela? – insiste.

- Preciso lhe entregar algo.

Derek silencia alguns instantes, pensativo, e conclui que a pobre moça não deve representar perigo algum.

- Venha, vou te levar até ela.

Pelo caminho, Carise sente uma enorme vontade de perguntar inúmeras coisas para o lindo moço que a conduz. São tantas curiosidades, tudo tão novo, mas envergonhada e não querendo parecer boba demais, embora seja ela realmente ingênua no universo recém-descoberto, decide permanecer em silêncio. Assim, seguem calados se observando pelo canto dos olhos. Derek lhe remete a lembrança antiga do seu pai falecido, bem antes de adoecer. Um homem forte, ombros largos com musculatura definida, moreno de barba bem feita e olhos castanhos. Também é muito gentil, de fala compassada e voz eloquente. Demonstra cortesia ao deixá-la caminhar sempre um passo à frente dele. Carise segue com a cabeça erguida, de forma bem diferente de como as mulheres do vilarejo costumam andar.

Durante o percurso Derek interrompe a caminhada ao conversar com o leiteiro, quando combinam uma troca de um carregamento de feno por uma parte duma vaca que seria abatida na manhã seguinte. Após o acordo feito sem nenhuma proporção definida, porém em consenso, os homens se despedem e o casal continua sua jornada.

Muitas coisas passam pela cabeça dela. Recorda-se de que perdeu sua única referência masculina de toda sua a vida. Antes da penúltima manhã conhecia, praticamente, apenas um rosto, somente uma voz lhe era familiar. Contudo, no período vespertino do dia anterior, foi encontrada por um príncipe desconhecido que lhe encantou o olhar e agora estava ao lado de outro misterioso jovem com quem compartilha passadas.

Num monólogo interior Carise se questiona sobre o que aqueles belos jovens podem ter em comum. Como vivem suas vidas, quais as qualidades, defeitos por trás de rostos tão agradáveis de serem vistos. Seriam confiáveis? perigosos? estaria sendo levada para o lugar certo? Ele fala a verdade? onde estaria o outro jovem? quem ele é? o que faz?

Apavora-se e depois, respira fundo. Segue caminhando, embora o medo a instigue a voltar...parar... seguir outra rota. Recorda-se de que não tem alternativa, apenas confiar que tudo vai certo.

Carise não imagina que parte de seus questionamentos encontram resposta a alguns poucos quilômetros do vilarejo. Por entre as espessas paredes do Castelo habita Eduardo, o outro jovem em que estava também a pensar, numa variação de imagens mentais. Porém, somente o tempo e a convivência com as pessoas poderiam trazer os argumentos para qualquer tipo de conclusão.

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