Capítulo 14

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Certo dia, Eduardo, durante uma cavalgada em reconhecimento de suas terras, partiu para lugares distantes do reino. Nos limites das montanhas do oeste estava em companhia de outros três soldados que faziam sua proteção. Ao pararem para descansar um pouco, enquanto se refrescavam num riacho, ficou a observar as borboletas gigantes, aquelas que tinham uma longa fita colorida entre as asas e que faziam lindos desenhos pelo ar. O movimento das borboletas enchia de beleza o ambiente. Distraído, enquanto os outros descansavam, o príncipe começou a seguir os encantadores desenhos e por trás de algumas árvores, escutou alguém cantando suavemente.

Cuidando da horta estava Carise, que com todo o cuidado plantava algumas mudas de vegetais. Alguns canteiros estavam formados com exuberantes brócolis, couve-flor, couve, alface, rabanete, entre tantas outras plantas. Havia fartura naquele lugar devidamente organizado e adubado. Embora Carise usasse técnicas rudimentares, o sucesso da colheita é garantido e alimentos não faltariam para ela ou para o pai doente.

A bela moça arruma a túnica entre as pernas e senta-se na terra fresca para cavar os buracos. Com ambas as mãos recolhe um pouco da terra e a cheira, parecendo inalar sua energia. Chega a cerrar os olhos com tamanha satisfação. Continua com a música cantada que "da terra nasce a vida que em mim se perpetua... da terra não me separo até que um dia nos tornemos um único ser". Sua voz é doce e melodiosa, fazendo com que o príncipe que a observa em silêncio fique encantado.

Ela usa um véu amarrado ao pescoço para se proteger do sol forte e fixar o cabelo atrás e assim não deixá-lo atrapalhar os movimentos do corpo durante a tarefa realizada. As pontas de seu claro cabelo brilhava feito ouro toda vez que um raio de sol nele penetrava. Sem perceber, Eduardo foi se aproximando daquela desconhecida de voz suave, que de costas parecia uma jovem abadessa.

Dingo, o pombo manso e já adulto, pousa bem próximo dela que prontamente percebe sua presença e lança alguns farelos para ele se alimentar.

- Olá Dingo, está com fome! – ela ri enquanto fala – você vive com fome!

O bicho chega a subir nas pernas da jovem e comer na mão dela, pois tinha ficado domesticado com o trato ao passar de tantos anos de convivência juntos.

Para não assustá-la e já bem próximo dela Eduardo diz suavemente:

- Olá senhora!

Carise se levanta rapidamente e vira-se. O pombo voa. Contudo, ele se corrige encabulado, percebendo ser ela muito jovem:

- Digo, senhorita?

- Quem é você?

Ao ver o príncipe, um moço muito bonito de olhos claros feitos estrelas do céu, assustada, acaba ficando imóvel enquanto ele, hipnotizado por uma beleza nunca antes vista, com finos cabelos levados pelo vento, também permanece sem se movimentar.

Eduardo avança um passo e ela se afasta um passo. O tempo parece estacionado enquanto os olhares fixam-se um ao outro. Ele faz outra tentativa, levanta as grossas sobrancelhas e titubeia com os passos. Carise recolhe um tufo de cabelo caído sobre o rosto. Com medo daquele alto e belo desconhecido com pele de bebe, escuros cabelos encaracolados iguais de anjo e olhos azuis como o seu, ela se afasta. Para mudar o foco e buscando se defender do estranho a sua frente, ela se estica toda e alcança o bumerang que estava no chão:

- Afasta-se e retorne de onde veio, senão...

O príncipe, ao tentar esboçar uma reação para que ela não fuja, diz:

- Acalme-se senhorita, não vou machucá-la.

Contudo, seus companheiros aparecem e o distrai. Carise, percebendo-se em perigo, lança o objeto na direção do príncipe e já corre para alcançá-lo do outro lado, em direção próxima da mata densa.

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