Capítulo 7

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A comitiva sai em busca de seu objetivo; seguem procurando até o pôr do sol, mas, infelizmente, sem nada encontrarem. Dartho, que havia se retirado para uma ronda, tentando espairecer, chega exatamente quando os soberanos estão se despedindo. De longe, ao retirar a sela do cavalo, pode ouvir o príncipe Eduardo dizendo ao seu pai:

- A mãe da menina, Madelin, ficará muito triste em saber que não a encontramos.

- Sinto muito pela frustração de vocês – diz o Rei Saul – se houver mais alguma coisa que eu possa fazer, estarei à disposição.

- Agradeço meu amigo, mas infelizmente teremos que conviver com esse mistério. Tomara que tenha sido apenas um incidente e que a criança ainda apareça. Essa senhora, mãe da menina, fora abandonada pelo marido quando ainda estava grávida dela, será muito difícil conviver com esse triste fato.

Para Dartho tudo fica esclarecido e o remorso começa a consumi-lo por dentro.

A comitiva segue o caminho de volta. Eduardo pode observar os olhares curiosos da rainha Joana enquanto se afastavam. É uma encarada intimidadora e ele jamais a esqueceria. Naquele momento, intuitivamente ele percebe que ela estava escondendo algo.

Dartho, após saber da origem da menina como sendo sua própria filha, fica enfurecido e perdendo todo o senso de lucidez, dirige-se até a rainha Joana, enquanto a comitiva do Imperador Marco segue seu caminho de volta. Ele, que raramente adentra o palácio, agora segue pelas escadas e corredores velozmente.

Joana está em seu quarto, acompanhada como sempre da temível centobra. Ela arruma seus longos cabelos negros. Rosália prepara a cama para que a rainha possa descansar mais um pouco, pois aquele contratempo tinha lhe cansado. Repentinamente, toda aquela tranquilidade é interrompida por Dartho adentrando o quarto. Possuído de raiva e ódio, ele, com o rosto transtornado, fala vigorosamente:

- Eu vou matá-la agora, sua bruxa.

Joana levanta-se e ordena que Rosália chame os guardas. Rapidamente ela vai para o corredor e começa a gritar por socorro. O Rei Saul também corre em direção ao quarto.

- Como ousa entrar aqui seu vassalo – diz Joana – você não é ninguém. Aquela garotinha não era ninguém.

- Aquela garotinha era minha filha e você a matou.

A centobra se coloca na frente de Dartho, em posição de ataque para defender sua amada dona.

Dartho retira um chicote da cintura e começa a atacar o animal. Joana se diverte com a luta. Rindo sem sorrir com sarcasmo pelo que estava acontecendo, continua insinuando:

- O coração dela estava delicioso. Temos ótimas cozinheiras aqui, ao contrário de soldados.

Dartho atinge a centobra, que é lançada violentamente contra a parede.

O Rei Saul chega ao quarto, acompanhado de vários guardas. Dartho, com um punhal consegue se aproximar da rainha, levando-a para a beira da janela, encurralada.

- Pare Dartho, agora! – diz o Rei enfurecido.

A centobra recobra a consciência e rasteja em direção a Dartho. Os guardas estão todos com as espadas direcionadas para ele. Vendo que não tem saída, chorando, diz:

- Essa mulher matou minha filha.

Joana está prestes a cair, mas lança seu olhar poderoso sobre Dartho, que começa a perder suas forças. Agora ele está em prantos, não consegue falar mais nada, nem se defender. A rainha se justifica:

- Seu louco, você não tem família nenhuma, como pode inventar uma mentira dessas contra mim que sou a rainha.

O rei sem entender nada e ciente de que Joana não se ausentou do palácio, portanto não matando ninguém, diz aos soldados que vieram com ele socorrer a rainha, gritando com vigor:

- Prendam-no, você quase matou minha mulher e meu filho. Meu filho! – fala batendo no peito com indignação. – Amanhã você será enforcado, tornou-se um perigo para nós.

Joana pega a centobra, acariciando a cabeça do bicho que havia atingido a parede.

Rosália, que assistiu toda a cena junto com vários soldados, observa Dartho aos prantos, sendo levado até o calabouço. A governanta espera até que ele esteja devidamente aprisionado. Eles são muito amigos e então ela começa a pensarem como libertá-lo, pois ao amanhecer, como disse o rei, ele seria morto. Pela amizade, eles diversas vezes se consolaram um ao outro, principalmente nas ocasiões em que ele tinha que matar alguém para trazer o coração para que ela o preparasse para a rainha. Nunca concordaram com aquilo, mas faziam e encobertavam Joana para o Rei Saul não descobrisse e tomasse atitudes ainda mais drásticas. Contudo, nos últimos anos não estava sendo possível ofertar corações à rainha, pois o rei havia transformado quase todos os órgãos em pedra e os que ainda restavam, eram protegidos pelas famílias.

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