Capítulo 6

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Pelo lado de fora, finalmente e após a longa jornada, a comitiva do Imperador Marco chega ao Palácio. Prontamente são anunciados ao Rei Saul, que logo vem recebê-los:

- Hoje é um dia festivo em nosso reino – diz Saul tentando abraçar Marco, seu amigo da infância – Que bons ventos os trazem aqui meu amigo depois de tantos anos sem nos visitar?

O Imperador Marco chega a sentir fortemente o calor de seu corpo que se aquece quando eles se abraçam, mas de certa forma é protegido pela vestimenta que usa, pois está com uma longa capa de couro de réptil. Rapidamente ele se solta e evita o contato face a face, pois com certeza se queimaria. Como já dito, pessoas do Império de Nede não podem se encostar umas a outras, pois o calor de seus corpos é tão acentuado que elas têm uma reação química elétrica intensa e se queimam após o perigeu dos corpos.

- Primeiramente me desculpe, faz mesmo algumas décadas que não venho te visitar. Acho que a última vez que nos encontramos, se me recordo bem, foi quando nos despedimos de Chartam, o mestre guerreiro que subiu para a eternidade.

- Realmente caro amigo, foi quando ocasionalmente nos encontramos no funeral do nosso professor em comum. Meu pai nem sabia que ele também lhe ensinava sobre o manuseio da lança curva. Foram bons tempos, entre e vamos relembrá-los.

- Verdade. Ele era o melhor nessa habilidade, que bom que tivemos esse privilégio de conhecê-lo e aprender com ele tantas coisas. Mas saiba que eu aprendi muito bem e se um dia quiser atacar meu reino, utilize outras armas, pois com a lança curva você não terá chance. – fala Marco para descontrair.

- Isso jamais será necessário, nossos reinos embora autônomos, vivem em harmonia há muito séculos e assim há de continuar.

- Com certeza, caro amigo. Estou apenas brincando. – completa Marco que envergonhado muda de assunto.

- Deixe-me apresentar meu herdeiro, príncipe Eduardo.

O príncipe reverencia o rei que diz:

- Que belo garoto! Espero que tenha as mesmas habilidades que seu pai, mas não seja tão peralta quanto ele era.

- Ele é um pouco agitado sim, como todo o menino saudável, assim como nós também fomos um dia. Afinal, quem colocou fogo no galinheiro não fui eu, ou esqueceu-se? - diz Marco tentando novamente uma conversa descontraída, recordando-se de uma ocasião em que estiveram juntos na infância.

- Jamais me esqueceria. Bons e velhos tempos, quem dera pudéssemos voltar atrás – diz Saul melancolicamente.

Saul, Marco e o pequeno príncipe Eduardo entram no Palácio. Joana, vestida com uma belíssima túnica, adornada na cintura com delicadas plumas douradas e a tiara negra enfeitando-lhe a cabeça, finalizado como de costume com sua longa trança. Ela vem descendo a escada até o salão principal onde todos se encontravam. É quase meio-dia e ela continua sua caminhada estonteante sabendo que seu almoço especial logo será servido.

- Eu te desculpo pela demora em me visitar se puder me perdoar também. Afinal a distância é a mesma e eu igualmente não fui te encontrar.

Joana, a uma pequena distância deles, diz:

- Interessante querido, temos visitas?

Saul cumprimenta a Rainha com reverência e responde:

- Rainha Joana, realmente muito bonita como disseram. A gravidez lhe favorece, se me permite dizer. Creio estar ainda mais bela do que já é normalmente. – referindo-se a evidente barriga dela.

Marco acena para Eduardo, que dá passo à frente.

- Esse é meu filho, o príncipe Eduardo.

Saul delicadamente coloca a mão próxima as costas do filho. O menino também reverencia a rainha, que logo expressa:

- Forte menino, parece ter um bom coração, ou melhor, um coração como nenhum outro ser vivo possui: jovem e poderoso.

Nesse instante, a rainha sente o cheiro convidativo de seu almoço e não resiste em falar:

- Nossa, estou morrendo de fome, gostariam de me acompanhar? Mando preparar algo para vocês. Por acaso gostam de grilos?

Eduardo não resiste em demonstrar repugnância, torcendo a testa e nariz pelo prato oferecido pela rainha, afinal crianças são sinceras.

- Obrigado alteza, mas temos assuntos urgentes para resolver – diz o Imperador Marco – A propósito, é esse o motivo de nossa visita.

Saul convida todos para sentar-se e escuta com atenção a fala do outro soberano.

- Ontem uma pequena criança desapareceu do vilarejo, uma menina de quatro anos de idade. A mãe desesperada nos pediu ajuda. Já procuramos por todo o Império de Nede e encontramos algumas pegadas, que seguindo, vieram parar aqui.

- Mas que absurdo – interrompe Joana –Por acaso vieram nos acusar?

- De forma alguma Alteza, mas gostaríamos de fazer uma busca se não fosse importuná-los demais – responde o comandante que acompanha o Imperador Marco.

- Isso é um ultraje, que serviçal insolente. Você não pode permitir isso Saul, um fidalgo lhe dando ordens.

- Mas ele não faltou com respeito algum, Majestade! – fala o pequeno Eduardo tentando mostrar valentia e impressionar o pai.

O Imperador Marco apazigua a situação, protegendo seu filho da rainha e pedindo para que ele permaneça somente observando.

Saul, tentando contornar o mal entendido, diz:

- Não temos nada a ver com isso meu amigo, mas fique à vontade para procurar pelo reino. A propósito, eu mesmo o ajudarei a vasculhar os locais onde quiserem ir.

O pai de Eduardo se justifica:

- Desculpe-nos bondoso rei. Ele é apenas uma criança e não sabe se expressar, pois acha que isso é uma aventura como nos contos de guerra, aqueles que vivenciamos quando meninos.

Joana fica apreensiva, pensando se os guardas fizeram o serviço certo de se livrar da garotinha, não deixando pistas que a incriminassem.

- Cuide melhor dessa criança ou ela irá afundar seu reino, Alteza – diz Joana, que aborrecida vai se retirando; finalmente irá comer. Ela lança um olhar desaprovando a atitude do marido, que decide acompanhar a comitiva na busca pela menina desaparecida. É apenas uma lenta piscadela, mas suficiente para que ele entendesse a insatisfação da sua amada esposa.

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