♱ capítulo 30

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Barrington, New Jersey. USA

22 de setembro de 2019

Diarra POV
Muitos supõem que ser policial em uma cidade com pouco mais de vinte mil habitantes é pura tranquilidade. Antigamente, eu concordava com esta suposição e ainda sonhava com o dia que meu departamento me mandaria para alguma cidade assim. Até que me mandaram para Barrington e eu passei a discordar completamente disso.

Nos meus primeiros dias de trabalho aqui, já consegui perceber inúmeros acontecimentos, no mínimo, anormais. Sempre procuro saber se já houveram casos de assassinato ou afins em cada cidade que sou mandada a trabalho — eu gosto de ter uma noção da forma como cada local necessita que eu exerça meu serviço. Com Barrington não foi diferente, procurei pelo nome da cidade e não havia registro de nenhum caso assim. Não me espantei, era uma cidade pequena.

Porém, bastaram duas conversas com policiais antigos para que eu percebesse que as coisas não eram tão simples. Coisas estranhas pairavam sobre o ar: a trágica história da garota que teve sua vida ceifada e tudo que a cercava. Fiquei completamente instigada e obcecada pela história. A maneira como esse acontecimento simplesmente não existe em qualquer mídia fora daqui, o desprezível descaso que os pais da garota tiveram ao decidirem arquivar o caso com pouco mais de uma semana após o corpo ser encontrado e de como eles apenas sumiram depois de tudo, os amigos suspeitos nunca investigados; tudo isso me instigava porque nada fazia sentido. Eu precisava saber mais sobre ela, era quase como uma necessidade.

Continua sendo, na verdade. Agora mais do que nunca.

A polícia já desconfiava — enquanto eu tinha plena certeza — que todos esses assassinatos, de alguma forma, se relacionavam com a trágica história de Sofya Plotnikova; porém, apenas dia 21 de setembro, a confirmação total da relação dos casos veio à tona. O caminho para a resolução do caso da Pessoa do Gancho, como popularmente apelidaram (o que soa como uma externalização sutil da fantasia alimentada pela mídia de que Barrington seja lembrada por algo, não importa quão nojento esse algo seja), finalmente estava se endireitando.

Agora, com uma direção certa à ser seguida, estávamos tendo que trabalhar sem parar. E é por isso que estou arrumada tão formalmente para o que, antes, seria um domingo comum de trabalho. Agora não era mais, obviamente. E continuaria não sendo até darmos um ponto final nessa história.

Preparo duas xícaras de café puro — único que me dará o ânimo que preciso para aguentar mais reuniões estressantes com autoridades maiores da cidade — e uso as duas para preencher a garrafa térmica que levarei ao trabalho. Lavo os recipientes e, antes de finalmente sair de casa, só por precaução, confiro se peguei as chaves corretas (à propósito, sim, peguei).

Eu estava adiantada como de costume, hoje talvez um pouco mais do que o normal — não gosto de fazer nada apressadamente e, muito menos, de chegar atrasada (e não me importo em acordar mais cedo para que isso não aconteça) —, mas não espero nem mais um minuto para seguir em direção à delegacia.

Pretendo, com esse tempo à mais, organizar tudo que temos em uma linha do tempo. Já fiz isso mentalmente, porém, posso ter deixado algo passar. E nada pode ser deixado de lado em um momento crucial para o caminho das investigações como esse — um passo errado e teríamos que recomeçar, e não tínhamos condições de voltar para a estaca zero —, tudo tem que ser analisado novamente. Coisas que não faziam sentido antes, agora podem fazer.

Demoro um pouco para chegar ao local, pois minha casa é mais afastada da cidade — sempre preferi lugares sem vizinhos próximos (são irritantes e intrometidos) —; porém, mesmo com a pequena demora, fico surpresa ao ver dois carros bem conhecidos por mim já estacionados em frente à delegacia.

ɪ ᴋɴᴏᴡ ᴡʜᴀᴛ ʏᴏᴜ ᴅɪᴅ ʟᴀsᴛ sᴜᴍᴍᴇʀ Onde histórias criam vida. Descubra agora