♱ capítulo 32

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Barrington, New Jersey. USA

1 de outubro de 2019

Heyoon POV
Eu nunca pensei que viveria até os 26 anos, honestamente. Não que eu não quisesse viver até esta idade ou passá-la — mesmo que o desejo de uma vida longa também não me agrade —, mas convenhamos que meu trabalho traz grandes riscos, a Pessoa do Gancho não chegando a ser o pior.

Ela, apesar de ser bastante inteligente — não tanto quanto assassinos famosos, claro, mas ainda excepcionalmente inteligente —, tem suas vítimas predefinidas e as mata em um vasto espaço de tempo, diferente de outros casos que já vivi em outras cidades. Isso não é totalmente uma vantagem, embora, faz com que o caso dure mais tempo do que provavelmente duraria.

E casos longos demais cansam consideravelmente a polícia e a família das vítimas, que, depois de um certo período, acabam deixando-os em segundo plano. Mas não estou dizendo isso como uma regra, é apenas baseado no que já vivenciei.

Temo que o caso da Pessoa do Gancho se encaixe nos da minha vivência — como qualquer outro profissional da delegacia de Barrington teme —, apesar de não achar a ideia muito plausível, levando em conta as pistas dadas de bandeja pela assassina.

Acredito que o caso se encerrará, do jeito que as coisas estão fluindo, até o final deste ano e espero que não seja tragicamente. Eu e Pepe estamos trabalhando arduamente para que não seja assim; o tempo todo, se posso especificar mais. É só que não podemos deixar que algum deles acabe morrendo, e não de um jeito profissionalmente falando. Esta situação já ultrapassou os limites do profissional há muito tempo, tem sentimentalismo envolvido nisso.

Tanto sentimentalismo à ponto de passarmos dias em claro para podermos pesquisar mais, mal tendo tempo para viver propriamente. É emocional e fisicamente desgastante, de tal modo que agradeço só por ter alguns minutos de paz quando vou ao supermercado — algo que eu odiava fazer.

Ver aqueles montes de pacotes de comida, sabonetes, escovas, entre outras centenas de produtos, está sendo um sinônimo de alegria para mim, neste exato momento.

Já é começo da noite, umas nove horas suponho, coloco as compras que fiz no porta-malas — Pepe disse que estávamos sem nenhuma caixa de leite, mas sei que é apenas uma desculpa para que ele prepare um jantar, em comemoração ao meu aniversário, enquanto não estou em casa. Tento retardar meus movimentos ao máximo, para que ele tenha tempo de arrumar tudo o que quer.

Depois de ajeitar todas as sacolas, sento-me no banco do motorista e espero um pouco antes de sair com o carro, lentamente, em direção à minha casa.

Em pouco mais de dez minutos, estou estacionando no jardim, em cima da grama — maior do que eu gostaria, à propósito (nota mental: cortá-la, se arranjar tempo). Saio do automóvel e pego as sacolas com minhas compras, dividindo-as entre meus dois braços, ainda demorando bem mais do que o necessário.

Fecho o porta-malas com força, na intenção de que o barulho demonstre minha chegada, e caminho para a porta da frente, abrindo-a — ou, melhor, me encaminhando para abri-la, já que o toque do meu celular me interrompeu.

Atendo, sem nem olhar o visor, já sabendo que seria meu melhor amigo do outro lado da linha, provavelmente me pedindo para tardar mais.

Olha, Pepe, honestamente, minha capacidade de enrolar está chegando no limite. Arrume esse jantar logo, pelo amor de Deus! - esbravejo.

Sinto muito por atrapalhar, seja lá o quê vocês estejam fazendo. - uma voz conhecida por mim diz, ironicamente, pelo outro lado da linha. - Mas preciso ter uma conversa séria com vocês dois, na minha casa, agora!

ɪ ᴋɴᴏᴡ ᴡʜᴀᴛ ʏᴏᴜ ᴅɪᴅ ʟᴀsᴛ sᴜᴍᴍᴇʀ Onde histórias criam vida. Descubra agora