XI

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Antes do horário de almoço terminar dirigi-me até à casa de banho. Aproveite que o refeitório estava cheio, para não ter de entrar numa casa de banho com super lotação. Assim que entrei, fui direto para o espelho. Passei as mãos pelos fios alisados que se encontravam na minha cabeça. " Já deviam ter voltado ao seu estado natural" - diz uma vozinha na minha cabeça. Bem, apesar de estar na minha cabeça sei que apenas repete o que Becca vem dizendo nas últimas duas semanas. Sei que é um tempo considerável, mas sinceramente, não tenho tido tempo de lavar ele.

Entrei em uma das cabines pra fazer as minhas necessidades. Enquanto estava lá ouvi alguém entrar de rompante, e depois de um tempo pude ouvir essa mesma pessoa vomitar. Não naturalmente, como se estivesse enjoada, mas esforçadamente. Dava para notar o esforço que a pessoa fazia para, o que quer que seja, saia de dentro dela. Acabei o que estava a fazer e fui lavar as minhas mãos, nessa altura a pessoa já havia parado. Estava pronta para sair quando ouvi um choro baixinho, apenas notei ser um choro por causa dos soluços regulares.

- Está tudo bem? - pergunto depois de bater levemente na porta da cabine. Ouvi a pessoa fungar.

- Uhum. - ela responde simplesmente. Não sei se estou a ser intrometida, mas sento que essa pessoa precisa de um ombro amigo. Ajoelhei-me diante à porta e apoiei a minha testa na mesma.

- Sei que podemos não nos conhecer, mas sinto que precisas de ajuda e nunca me perdoaria por ignorar o teu pedido silencioso. Se quiseres podes desabafar comigo que eu estou disposta a apenas ouvir-te. - silêncio foi a resposta. Mas eu continuei onde estava, só sairia se ela pedisse. Depois de um tempo ouvi a porta ser destrancada. - Chris! - ela está sentada no chão,com os joelho junto ao peito e apoiada à parede do lado direito do cabine. Está com os olhos verdes inchados e vermelhos, o nariz coberto de sardas não para de fungar e está rubro como o de um palhaço. Ela tenta oferecer um sorriso leve para mim, então, sento-me de frente para ela, com os joelhos dobrados tal como ela. - Estás a sentir-te mal? - pergunto preocupada e alarmada, pois eu não havia notado que se passava algo com ela.

- Não... - ela coloca o cabelo ruivo atrás das orelhas. - Quer dizer, um pouco enjoada só. Não estou grávida nem nada, só devo ter comido algo que não caiu muito bem. - ela força de novo um sorriso e uma mecha ondulada do seu cabelo escapa da orelha.

- O quê que pode não ter te caído bem? Uma salada? Ou a maçã que comeste no almoço? - digo num tom irônico, pois ela não come mais nada além disso e por não ter acreditado no que ela disse. Ela baixa a cabeça. - Desculpa, não queria ser rude. Mas Chris, tu não comes quase nada e esse vômito não pareceu de enjoo. - ela volta a olhar para mim. Agora estou preocupada com ela, quer dizer, eu sei que ela tem o sonho de ser uma top model e tem a altura e beleza suficiente para isso, mas mesmo assim mal come e ainda força o corpo para tirar o mínimo.

- Não é o que estás a pensar Jade. - retruca na defensiva.

- Então o que é? - pergunto calma.

- Apenas um mal estar, nada demais. - ela tenta se levantar mas volta a sentar e fecha os olhos, como quem está com tonturas.

- Chris, estás muito fraca. Não vez o que estás a fazer com o teu corpo? Que, diga-se de passagem, já é perfeito. - ela ri sem graça e olha para o teto.

- Eu só preciso descansar um pouco. - ela volta a fechar os olhos. Ajoelho-me em frente a ela e seguro o rosto dela com carinho.

- Amiga, eu sei que não vez que possuis um transtorno alimentar, mas tens de confiar em mim. Se continuares assim podes danificar gravemente o teu corpo. - ela tira as minhas mãos da cara dela.

- Eu estou bem, ok. Não tens de te preocupar. - ela tenta me convencer mas eu não acredito no que ela diz.

- Como não vou me preocupar, Chris? Entendo que tens o sonho de ser uma modelo famosa, mas não é preciso esse sacrifício tão extremo. - falo um pouco alterada.

Efeito borboleta 🦋 [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora