XXI

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Estaciono o carro enfrente à minha casa. Observo que, tanto o carro do meu pai, como o da minha mãe se encontram na garagem, o que quer dizer que eles tiraram o dia inteiro de folga. Fiquei um pouco desanimada, não queria encontrar a minha mãe agora. Sei que pareço aquelas adolescentes que têm sérios problemas com a mãe, mas eu a conheço e sei o quão insuportável ela pode ser, confiem em mim. Ainda mais quando está irritada por algo que aconteceu com a Jenny, ela sempre descarrega em mim e faz parecer que a culpa é minha. Como uma vez em que a Jenny havia reprovado em um semestre e eu havia passado com honras, ela disse que se eu me preocupasse mais em ajudar a minha irmã isso não teria acontecido. Não que eu não possa a ajudar, mas ela fez parecer que o meu esforço foi anulado pela falta de esforço dela.

É melhor parar de pensar nisso, pois desperta em mim sentimentos que eu odeio. Saio do carro e caminho até a porta de entrada enquanto procuro as minhas chaves. Abro a porta depois de as ter achado e entro na casa colocando-as no suporte.

- Não achas que estás a exagerar? - ouço a voz do meu pai quando chego mais perto da sala de estar.

- Exagerar? Achas que é um exagero tentar proteger a minha filha? - minha mãe pergunta um pouco alterada.

- Mas aquela escola... não acho que a Jenny vá gostar. Seria demais para ela. - meu pai diz.

Que escola? - penso curiosa enquanto caminho na direção deles.

- Nesse momento o que ela gosta não está em discussão, mas sim o que precisa e ela precisa disso. - minha mãe responde firme.

- Não vai parecer que estamos a punir ela? - meu pai pergunta e eu me aproximo mais um pouco da entrada da sala para ouvir melhor.

- Pois, é o que parece. - minha mãe responde e eu franzo o cenho confusa.

- Porquê? Tu achas que é ela nas fotos? Achas que ela mentiu para nós? - um nó se formou na minha garganta só de pensar nessa possibilidade.

- Eu vi as fotos e eu conheço as minhas filhas e... - minha mãe para de falar quando, sem querer, bato em uma mesa que tem um vaso encima e quase deixo cair o mesmo. - Jenny? - pergunta ela e eu fico no impasse de dizer que ouvi a conversa ou que apenas estava a passar.

- Oi, acabei de chegar da escola. - respondo tão nervosa que é nítido a falta de verdade nas minhas falas. - E posso ter ouvido um pouco da vossa conversa. - resolvo me entregar.

- Boa tarde filha. - meu pai cumprimenta do centro da sala de paredes claras onde ele se encontrava de pé.

- Tu sabias? - minha mãe pergunta, incrivelmente sem o tom de acusação que normalmente usa comigo nessas ocasiões.

- O quê? - já fazia uma ideia do que ela estava a falar, mas da mesma maneira que ainda não tive coragem de entrar na sala para fazer realmente parte desse conversa, não tenho coragem de responder essa pergunta sem ter a certeza de que é disso que ela está a falar.

- Que é a tua irmã nas fotos. - quando ela acaba de dizer eu olho na direção das escadas à minha esquerda incerta do que deva responder. - Anda cá Jade. - ela chama do lado do meu pai. Tenho vontade de correr para o meu quarto e evitar essa conversa. Isso não tem nada a ver comigo, porquê que tenho de estar numa situação dessas? Mas limito-me apenas a caminhar até eles, até parar na poltrona castanha da sala. - Tu não precisas responder. Eu já estive no lugar da tua irmã e entendo o facto de terem mentido, apesar de não achar o mais correto. - eu devo ter feito uma expressão tão surpresa quanto à do meu pai, ou pior. Minha mãe não é conhecida por ser uma pessoa compreensiva.

- Como assim? - pergunto ainda confusa.

- Quando eu tinha mais ou menos a vossa idade, algo meio parecido com isso aconteceu comigo. - ela começa e depois se senta e nós fazemos o mesmo. - Eu havia acabado de entrar no ensino médio. Era nova na escola e na cidade, então não conhecia muito bem as pessoas de lá. Fiz algumas "amizades" rapidamente, pois sempre fui alguém muito extrovertida. No meio dessas amizades havia um rapaz, ele foi a minha primeira paixão. Mas como eu vinha de uma família muito religiosa e ele era mais velho eu não queria perder a virgindade ainda. De início ele aceitou, mas depois foi insistindo e insistindo até que cedi. Mas depois ele começou a ficar muito agressivo até que eu decidi terminar tudo com ele. Ele ameaçou dizer que eu havia dormido com todo o grupo de amigos dele se eu o deixasse mas mesmo assim não voltei atrás. Então, no dia seguinte eu havia virado fofoca, todo mundo me achava uma puta. Desculpa a linguagem. - minha mãe se desculpou pois não havia o costume de ofender afrente de nós. - Havia rapazes que juravam de pés juntos que já haviam dormido comigo, sendo que eu mal falava com eles. E como sempre, as pessoas preferiram acreditar nos rapazes brancos do que em uma menina negra, dando-se ao direto de me julgarem e ofenderem como se eu fosse a maior pecadora. - ela deu uma breve risada sem graça, como quem está a reviver memórias amargas. - No fim eu tive de sair da cidade, pois nenhum ser humano aguentaria essa perseguição. Ele virou todos contra mim, até pessoas que se diziam minhas amigas. Os meus irmãos também me ajudaram a mentir para os meus pais que eu ainda era virgem e que todos aqueles boatos eram falsos. Por isso eu te entendo Jade, à ti e à tua irmã. - ela parou de falar e a sala foi consumida por um silêncio ensurdecedor.

Efeito borboleta 🦋 [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora