Efeito borboleta 🦋 [Concluído]

XXIX

O meu corpo repousa sobre a cama macia da Becca e os meus olhos se perdem no teto estrelado do quarto dela. Faz um semana que aquilo aconteceu, consequentemente, uma semana que não falo com a Marie. Mas, infelizmente, não faz uma semana que não a vejo. Pois, mesmo não querendo, os meus olhos procuram por ela por todo lado, talvez buscam algum resquício de arrependimento em seus olhos opacos, o que nunca acham. E, coincidência ou não, eu ando muito mais próxima da Becca, talvez a Marie nos afastasse mesmo.

Olho para o lado e vejo a nuvem cor de rosa que enfeita a cabeça de um dos seres mais preciosos da minha vida. A minha mão toca nos fios sedosos e macios que mais parecem algodão. O cabelo dela encontra-se em uma tonalidade ainda mais pálida do que antes, mostrado que talvez esteja na hora de retocar a cor.

- Irás retocar essa cor ou pintar de outra? - pergunto e os seus olhos claros que estavam vidrados no teto olham para mim.

- Ainda não sei. - responde em um suspiro. - Não tenho pensado muito nisso. Há umas semanas atrás eu queria tanto pintar de laranja, mas depois de tudo o que aconteceu com a Chris  já não fez sentido para mim uma cor tão vibrante. - responde me deixando tocar nos seus cabelos, um privilégio que ela não concede à muitos.

- E agora? Que está tudo relativamente bem, não te apetece pintar? - pergunto e ela puxa um cacho para que possa analisar e dá de ombros.

- Acho que estou a gostar dessa cor. Talvez fique loiro daqui a pouco. - ela levanta o tronco a apoiar-se no seu braço que está dobrado na cama. - Sinceramente não sei. - me oferece um sorriso bonito. - E tu? Quando pintas o teu "tesouro"? - faz as aspas com os dedos a se referir ao meu cabelo, que ela está louca para encher de químicos e mudar a sua cor natural.

- Nunca, senhorita Becca. Por mim, ele vai permanecer preto para sempre. - ela faz um beicinho pela resposta negativa.

- Mas assim é tão aborrecido. - embirra como uma criança que lhe privam de brincar com o seu brinquedo favorito.

- Tal como eu. - digo com um sorriso e fico na mesma posição que ela.

- Tu não és aborrecida. - diz e pega no meu cabelo que está solto em um twist out. - Tu és a pessoa mais carinhosa, paciente e companheira que conheço. - ela diz e eu faço uma cara de estúpida.

- Isso não me faz nem mais, nem menos aborrecida amiga. - rio. - Tu és péssima a consolar, sabes né? - ela ri e empurra o meu ombro o que me faz cair de volta na cama.

- Eu sei, por isso nem tento. - ri ajoelhada na cama enquanto eu rio e levanto o tronco apoiada nos braços.

- Fazes bem. - enquanto falo chega uma notificação de mensagem no meu telefone então eu pego o aparelho que está do meu lado. - Darias um péssima psicóloga. - provoco e franzo e cenho quando vejo que a mensagem é da Marie. Fico tentada a desligar o telefone, mas como ela não me contacta desde aquele dia e como ela enviou-me um áudio, a curiosidade ganha e eu desbloqueio o telefone.

- Óbvio né? Como é que uma pessoa toda fodida da cabeça vai ajudar outras pessoas assim. - ela enviou-me duas mensagens, uma foto e um áudio de  4:00 min. - Tu é que darias uma boa psicóloga. - abro a imagem e é a foto da ponte que ela desenhou, com mais detalhes do que a última vez que eu vi, o que me deixa ainda mais confusa. - O que foi? - Becca pergunta a notar a minha expressão, mas eu não respondo e dou play no áudio.

Quando a música começa, uma sensação horrível me domina, como um mau presságio, o que me faz sentar na cama rápido e até assustar a Becca. "Se eu for me suicidar envio antes essa canção para ti" - essa sua frase ecoa na minha cabeça, como um lembrete. Que merda é essa? É sério isso? Eu coloco os meu pés no chão e começo a calçar rapidamente. Isso não pode ser sério. Isso não deve ser sério. Se ela acha que isso vai me fazer falar com ela, ela está muito enganada. Então porquê a preocupação se isso não deve ser sério? - meu subconsciente sussurra. Levanto da cama apressada. Eu preciso descobrir onde fica essa ponte.