XXVI

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O cheiro à detergente de lavanda e o barulho das solas secas dos sapatos do uniforme incomodam-me como nunca. Nunca gostei de colégios, ainda mais religiosos. Sinto que eles usam da desculpa da religião para tentar programar a cabeça dos jovens a serem preconceituosos e intolerantes. Claro que isso pode não ser a realidade de todos, mas ao meu ver, a maioria é assim.

Olho para as meninas que transitam no Hall onde se encontra o banco que estamos sentadas. Os seus uniformes impecáveis constituídos por uma polo, um colete, um casaco (opcional), meias e sapatos horrendos me fazem rir internamente por não imaginar a minha irmã com tais trajes. E o olhar de desgosto que notei na cara dela, quando virei a minha cabeça para o lado, só confirmou isso.

- Apreciando o teu novo guarda roupa? - pergunto irónica e ela vira para mim o que faz os seus cabelos longos e alisados balançarem junto ao movimento.

- Vai te foder Jade. - diz baixinho para não ser repreendida pelas madres que andam de um lado para o outro como soldados.

- Tu agora és praticamente uma mini madre, não podes falar essas coisas. - brinco e ela ri.

- Acho que tu estás mais para madre do que eu. Afinal, qual igreja irá aceitar uma madre com nudes a circular pela internet? - pergunta retoricamente.

- Tens razão. Mas acho que se te confessares eles perdoam-te, não podes desistir dos teus sonhos. - digo exagerada e ela me lança um olhar desacreditado.

- Está amarrado. - sussurra me fazendo rir.

O meu olhar é atraído para um grupo de meninas que parou a mais ou menos três metros de nós. Mas, mais especificamente, para um ser minúsculo mas com olhos atrevidos e cabelos extremamente pretos e lisos. Ela estuda aqui? Mas como é que a Becca conheceu essa miúda? Quer dizer, ela não se parece com nenhuma "namorada" passada dela e ainda é católica, está tudo muito confuso para mim.

Sou tirada dos meus pensamentos quando os olhos levemente rasgados encontram os meus. De início achei que ela fosse apenas acenar, tanto que até levantei a mão, mas para a minha surpresa ela começou a vir em nossa direção.

- Jade. - cumprimenta com um abraço caloroso que eu recebo e retribuo de bom grado.

- Annie. - cumprimento já nos distanciando.

- Tu deves ser a Jenny. - cumprimenta ela com um sorriso simpático que a minha irmã retribui. - És mesmo linda. - a elogia inflando o ego já enorme da minha irmã que dá um sorriso ainda mais largo.

- Obrigada. Tu também és muito linda. - retribui o elogio que foi o suficiente para fazer ela começar a gostar da Annie.

- Obrigada. O que fazem aqui? Vão ser transferidas para o colégio? - Annie pergunta curiosa.

- Eu não, felizmente, mas a Jenny sim. - respondo a olhar de perto para o uniforme de uma paleta de cores branco, cinza e vermelho. - Eu não sabia que estudavas aqui e nem que eras católica. Por seres asiática sabes. Quer dizer, é claro que existem asiáticos cristãos, mas acho que entendeste. - digo atrapalhada por sentir que possa ter falado algo preconceituoso, mas ela ri, o que me acalma.

- Entendi, não precisas ficar assim. Apesar de ser descendente de asiática, a minha mãe é católica desde berço e o meu pai converteu-se depois. Então eu também sou. - ela responde docemente. Annie é o tipo de pessoa que é difícil odiar.

- E estudas aqui há quanto tempo? - Jenny pergunta curiosa.

- Desde a sexta classe, mas antes eu também ficava no internato. Graças a Deus quando eu entrei no ensino médio os meus pais conseguiram uma casa perto da escola, o que me poupou de passar 24h trancada nesse inferno. Desculpa. - não parece ter pedido para nós, mas sim para outro alguém, pois olhou para cima.

Efeito borboleta 🦋 [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora