VI

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O clima no carro está estranho, sei que ele está chateado e sei também que ele não vai reclamar porque sabe que eu prezo muito pelas minhas amigas. Eu não sei o que dizer e ele não ajuda pois não diz uma palavra, sendo ele o mais comunicativo entre nós, essa atitude vinda dele me deixa meio desconfortável.

- Esse outono não está tão frio quanto o passado, né? - falei a primeira coisa que me veio à cabeça para quebrar o gelo. Ele olhou para mim como se eu tivesse dito algo que ele não compreendeu, então acrescentei. - Eu acho, mas até gosto, não sou muito fã do frio, me deixa inchada e preguiçosa.

- Mas ele ainda mal começou, por isso que ainda não está a esfriar tanto. - ele disse com os olhos vidrados na estrada.

- Hmmmm. Deves ter razão. - se fosse em alguma outra ocasião ele diria algo como " não é o frio que te faz preguiçosa, tu já nasceste assim" ou algo assim apenas para me provocar. Dando essa resposta ele só mostra o quão incomodado está, mas eu não penso em voltar atrás. Apoio a cabeça na janela do carro e aprecio a paisagem.

Nesse momento estamos a passar por um parque, um daqueles onde as pessoas vão passear os cães, fazer piqueniques, levar as crianças para brincar e esse tipo de coisas. Mas esse eu conhecia bem. Quando eu, a Becca e a Marie éramos crianças os nossos pais costumam levar-nos para esse parque em quase todos os domingos quentes, para fazermos um piquenique em família, bons tempos.

Essas memórias nostálgicas dissipam-se quando a nossa escola entra no meu campo de visão. Henry estaciona o carro perto ao meu que ainda está no estacionamento.

- Não fiques chateado. Sei que preparaste tudo com muito carinho, mas eu não poderia simplesmente ignorar. - peço para ele, não gosto nada que ele fique chateado comigo.

- Não estou chateado, só um pouco incomodado, mas eu te entendo, acho que no teu lugar faria o mesmo. Mesmo assim não consigo disfarçar o incômodo. - ele diz sincero com os olhos fixos nos meus.

Destravo o cinto de segurança e estendo os meus braços para ele. Agarro o seu pescoço e olho bem fundo nos olhos dele. Ele sorri e eu também, então selo os nossos lábios que ainda sorriem.

- Prometo que vou te compensar. - digo com a testa encostada na dele.

- Não é preciso. - ele diz enquanto acaricia a minha bochecha com o polegar. - A nossa tarde foi perfeita. Agora vai ajudar a tua amiga que está a precisar mais de ti. - ele diz e eu beijo-lhe.

- Te amo. - digo afastando-me do aperto dele.

- Também te amo.

Tiro o cinto de segurança, despeço-me dele com um selinho e saio do carro. Entro no meu e vou para um café que fica perto da escola, é onde a Hannah pediu para encontra-lhe. Eu não sabia o que havia se passado, mas tinha a certeza que não era bom. A Hannah disse que explicaria tudo quando estivéssemos juntas, então não insisti. Quando chego no café, mando uma mensagem para ela a avisar e ela responde logo em seguida.

Cravo o meu olhar na porta à espera dela. Eu não sei o que pode ter acontecido. Ultimamente ela anda meio distante, mas não fiquei preocupada, apenas achei que ela queria passar mais tempo com o Kevin. Ela passa pela porta e vem na minha direção. Está com a cabeça baixa, o que faz os cabelos loiros esconderem a cara dela, e uma postura cansada. Quando ela entra no meu carro a primeira coisa que noto são os seus olhos vermelhos e inchados, ela me abraça.

- Obrigada amiga, eu sei que não tenho sido uma boa amiga ultimamente. - ela diz enquanto me abraça e eu retribuo o abraço.

- Tudo bem, tudo bem, não estou aqui para te julgar ok. - tento lhe oferecer conforto, ela desfaz o abraço e limpa uma lágrima.

Efeito borboleta 🦋 [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora