XIX

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Enquanto estávamos na geladeira, mandei uma mensagem para a Becca, para pedir que ela arrumasse as minhas coisas e depois me entregasse na hora da saída, perto do meu carro. A Jenny pediu o mesmo para uma colega, então, depois de pegar as coisas, dirigimo-nos para casa. Estava no meu quarto a remoer a discussão que tive com o Henry, e também o facto de ele não me ter procurado depois disso, quando ouvi duas batidas na minha porta.

- Pode entrar. - respondo já sabendo de quem se trata, pois estamos apenas nós em casa.

- Hey. - ela diz baixo e entra no meu quarto fechando a porta logo em seguida. - Só queria saber como é que estás? - ela pergunta e eu franzo as sobrancelhas confusa, pois nessa situação quem deveria estar a perguntar isso seria eu.

- Como assim, bem? - pergunto erguendo a parte superior do corpo, quando apoio o meu antebraço na cama.

- Não sei, que pergunta parva. - ela diz com um sorriso envergonhado e se deita na minha cama virada para mim. - Eu só queria conversar contigo. Estou tão perdida e tu sempre consegues me guiar nessas ocasiões. - volto a me deitar na cama também a olhar para ela.

- Podes falar. - digo olhando para os seus olhos amendoados, idênticos demais com os da nossa mãe.

- O que farias no meu lugar? - ela pergunta e vejo agitação nas íris castanhas claras, iguais às do nosso pai.

- No teu lugar? - pergunto tentando entender.

- Sim, se tivessem espalhado nudes teus? - ela diz baixinho como se fosse um segredo entre nós.

- Sinceramente, não sei. Nunca pensei muito sobre isso, sabes? Pois como sempre tive medo que acontece algo assim, nunca sequer uso o meu telefone se estou sem roupa. Pode parecer exagerado, até acho que é, mas não consigo evitar. - respondo sincera.

- Tá, mas e se acontecesse? Como agirias? - ela insiste, fazendo parecer que é algo super importante.

- Enfrentaria, afinal seria a única coisa a fazer. Óbvio que no início eu poderia querer me esconder do mundo mas iria chegar uma hora em que isso já não seria possível. - respondo, mas ela não reage, então continuo. - Jenny, ter nudes espalhados não é a pior coisa que pode acontecer na tua vida. Óbvio que é horrível, pois a tua intimidade foi violada, mas não podes te sentir inferior por causa disso. Infelizmente nessa sociedade, onde somos ensinadas que a coisa mais preciosa que temos é o nosso corpo e mais nada, é normal essas coisas acontecerem e sermos julgadas por causa disso enquanto que quem espalhou nem é lembrado. Mas acredita quando digo que isso não vai acabar com a tua vida e nem vai diminuir o teu valor como pessoa. - digo e ela sorri com um brilho diferente nos olhos.

- Obrigada mana. - ela agradece sincera mas uma onda de preocupação volta a inundar os seus olhos. - Mas e agora que os pais vão saber? Eles vão me matar. Eu estou tão fodida. - sinto o desespero na sua voz.

- Acho que devias contar antes do diretor contar. - aconselho e ela olha para mim confusa.

- Só podes estar maluca. Com que cara eu vou dizer aos pais que espalharam nudes meus, não faz sentido. - ela diz perplexa.

- Com a mesma cara que sempre fazes quando fazes uma merda e tens de contar para eles. Chora, faz a vítima, atira as culpas para todo mundo menos para ti, e para mim, claro. Diz que não és tu, que alguém inventou isso para "manchar a tua reputação". Não dá para ver a tua cara, então ninguém pode provar que és tu. Porque se deixares o diretor contar para eles, podes ter certeza que ele vai te pintar como a vilã. - eu sei, não se devia aconselhar os irmãos mais novos a mentir aos pais, mas sejamos honestos, quem nunca mentiu?

- Tens razão. Tu és uma génio. - ela abre um sorriso enorme e beija a minha testa.

- Obrigada por notares, então daqui para frente cada conselho vale 10 dólares. - brinco e ela ri.

Efeito borboleta 🦋 [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora