Perguntas como "quem são vocês?", " Para quem trabalham?", e "O que querem comigo?" foram facilmente ignoradas. Eliah me arrastou para uma das tendas verdes do acampamento, que se resumia a um pequeno cômodo com uma cama baixa, uma banheira pequena e um baú. Ele chamou uma oficial mulher e avisou que me escoltaria quando eu acabasse de me arrumar. Não consegui me livrar do olhar da mulher nem quando já estava nua na banheira. A pele dela era morena como a do guarda carrancudo que havia viajado conosco. Ela me olhava estagnada, e colocava a mão sob a espada todas as vezes em que movia meus braços, provavelmente imaginando que eu conjuraria uma chama ali mesmo. Mas quem me acertou na cabeça, havia mirado muito bem, pois a batida havia prejudicado seriamente meus dons de fogo.
— Qual é seu nome?
Perguntei para a garota enquanto ela me ajudava a colocar um vestido leve preto, liso e simples, com nada além de alças e tecidos.
— Não é importante.
A garota tinha o rosto de uma guerreira. Traços firmes e firmados do rosto, um corpo aparentemente torneado e mãos ágeis para reflexo, notei enquanto fechava o vestido em mim. Vendo dessa forma, ela era uma boa guerreira, e bons guerreiros geralmente gostam do que são. Ela deveria estar caçando algo ou alguém, e provavelmente pensava isso também, estava rebaixada a uma serviçal da princesa sequestrada.
— Pra mim é.
— Guennya
Eu sinceramente não entendi qual era a dos nomes das pessoas naquele lugar. Eliah e Guennya haviam se recusado a pronunciar os próprios nomes na primeira vez, como se fosse algum pecado se eu não insistisse. Talvez fosse apenas cultural. Ou talvez fosse parte das ordens que eles eram obrigados a seguir. Me perguntei o motivo pelo qual eles estavam ali, o que havia os levado a lutar contra seu próprio rei? Meu pai era um bom rei, sustentara a paz por muito tempo... não tive tempo de perguntar, pois assim que havia terminado de calçar meus sapatos, Guennya chamou Eliah, que entrou e agarrou meu pulso começando a me arrastar para fora. Pisquei meus olhos mal acostumados com a claridade e o segui pelas tendas armadas aleatoriamente, formando um pequeno labirinto na clareira. Algumas eram tão pequenas que imaginei servirem apenas de armário ou arsenal. Em determinada parte do acampamento, as cabanas formavam um círculo ao redor de uma maior. Dois guardas praticamente petrificados se mantinham eretos de cada lado da abertura da tenda, alguém importante dormia lá. Com uma pequena ordem com as mãos, Eliah fez com que os guardas abrissem o pano escuro que cobria a entrada. Piscando os olhos novamente para me acostumar com a escuridão da tenda, fui colocada entre Eliah e outro guarda, bem a frente de um homem que sentava ao trono dourado brega no centro da tenda. A não ser pelo trono e pelos guardas e tapetes, aquela tenda era praticamente vazia. Enorme demais para estar tão vazia. O homem sentado ao trono era espetacularmente bonito. Sua pele era dourada , tinha cabelos de cobre e olhos prateados. Usava uma coroa negra na cabeça, e anéis da mesma cor nos dedos longos. Um meio sorriso se formou em seus lábios quando nossos olhares se encontraram, seus dedos passeando pelo braço do trono.
— Qual é seu nome?
Percebi que os guardas enrijeceram quando perguntei. Parte de mim se arrependeu da pergunta precipitada, mas não parte o suficiente para me fazer corar ou desviar os olhos. Minha curiosidade foi maior. O lindo garoto metido a rei inclinou levemente a cabeça enquanto se levantava lentamente do trono. Ele passou os olhos pelo meu vestido negro, da mesma cor de suas vestes, o que me fez chorar. O vestido tinha pouco tecido, e quando no sol, fazia pouco do meu corpo sobrar para imaginação. Um decote generoso descia até o começo do meu estômago, dando uma bela visão dos meus seios. Além disso a barra do vestido era assustadoramente alta, o que me fazia ter a impressão de que se eu andasse rápido demais, mais partes íntimas podiam ser facilmente observadas.
— Meu nome é Edwin.
— O que estou fazendo aqui?
O garoto metido a rei analisou meu rosto. Tentei manter minha expressão misteriosa, mas parte de mim só queria chacoalhar aquele arrogante. O soldado moreno que havia me desprezado na carroça, zombou de Eliah:
— Não foi tão difícil engana-la certo? A garota é mais burra que uma porta.
— Silêncio Asher.
O príncipe apenas sussurrou, mas as gargalhadas de Asher pararam como um estalo. O sorriso do príncipe menino aumentou quando minha boca se escancarou involuntariamente com a demonstração de autoridade. Me senti um pedaço de vazio naquele lugar, eu não era mais uma princesa e nem uma conjuradora do fogo, eu era nada perto daquele falso príncipe a minha frente. Seus dedos longos deslisaram de seus bolsos para a minha cintura em segundos, e pude sentir a postura de Eliah ao meu lado mudar. Virando-se totalmente para mim, Edwin indicou com o queixo uma mesa que aparecera do nada no outro canto da tenda.
— Vamos conversar ali.
Agora sentada na cadeira que ficava exatamente na frente de Edwin, eu procurava em minha mente maneiras de esconder o ronco insistente do meu estômago quando uma serva carregou bandejas de biscoitos caramelizados para nós. Minha boca se encheu de água, mas eu não comeria nada daquela gente, nada que não viesse diretamente da terra ou de árvores.
— Princesa de Kibtaysh. Você está aqui para salvar nosso reino.
Edwin mordiscou um dos biscoitos com seus dentes perfeitamente alinhados e brancos, fazendo um barulho que provou a crocância do alimento. Esperei que ele continuasse, entrelaçando os dedos para evitar tremer. Com um olhar de curiosidade, sustentei o dele, até que ele por fim resolveu explicar:
— Quatro soldados superdotados invadiram a festa de seu irmão porque queriam você, porque eu queria você, para comandar nossas forças políticas e militares.
— Quem são esses? Quem é você exatamente? E o que querem de mim? Exatamente?
Edwin riu, fazendo uma covinha funda aparecer em sua bochecha direita. Aquilo o tornada estranhamente jovem, dava a ele uma forma mais inocente.
— Dois deles, Asher e Eliah vieram com você na carruagem, eu sou Edwin de Rithan, o quarto na linha de sucessão, e... tudo Kalishta... queremos tudo de você.

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Filha de Kibtaysh
FantasyO reino de Kibtaysh é pacífico e harmonioso, até onde se sabe. A família real conjuradora do fogo, leva a paz em suas costas desde muito tempo atrás. Até que ataques direcionados a pontos fracos do reino, fazem todos questionarem a paz pela qual o...