Catorze

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Edwin andava de um lado para o outro agitado com a noticia de que meus poderes haviam voltado, fazendo planos e mais planos para adaptar nossa jornada inicial com a nova situação.

-- Agora podemos atravessar pelos vales congelados de Reybern, sem morrermos congelados, alem de que demonstrações de sua forca vão ser cruciais agora, ah minha nossa!

Edwin falava tao rapido, que eu só conseguia assimilar metade das informações. Torcia meu vestido nervosa, esperando que ele parasse por um instante para me ouvir dizer que talvez eu não fosse tão forte assim. Arlo com certeza manteria uma chama constante por dias acima das cabeças de uma legião inteira, e ainda não chamaria de desafio. Mas eu... eu ainda era fraca demais. De repente, como se tivesse levado um choque, o príncipe parou de percorrer o circulo desenhado no enorme tapete abaixo de nos, e me encarou curioso.

-- Como exatamente isso aconteceu? E por que?

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas pela milésima vez no dia. Elias pigarreou para que os soldados nos deixassem a sós, e com a permissão do príncipe eles obedeceram.

-- Estávamos na floresta e... aconteceu.

Edwin cruzou os bracos e se sentou no trono, a espera de mais detalhes. Nós dois sabíamos que ele não nos deixaria sair daquela tenda antes que ele soubesse tudo. E não se pode mentir para Edwin, ele lê os olhos das pessoas. Então juntei o resquício de coragem que me restara e levantei o queixo, contando a historia toda para o Principe. Contei cada detalhe que me permiti, e quando terminei, o príncipe gritou:

-- Ele deixou você ver o rosto dele?

— Não deixou você?

Edwin se levantou do trono em um salto, então andou até Eliah e deu um soco brincalhão em seu peito.

— Traidor

O príncipe murmurou. Eliah riu e explicou que eu não tinha o visto de fato, explicou dos olhos fechados, e contemplamos um príncipe fazendo cara de decepção. Tentei não pensar no fato de que quando questionei a Eliah quem havia visto seu rosto, ele mencionou o príncipe. Aparentemente isso era uma mentira, mas tudo bem né? Ele devia ter seus motivos. Em nosso tempo restante naquela tenda, Edwin conseguiu facilmente encaixar cada detalhe de nosso plano, e avisar a todos os responsáveis por nos transportar pelos campos. No fim iríamos passar pelo limite de Reybern, não exatamente na parte congelada, mas faria toda a diferença na velocidade da viagem.

Pelo resto da tarde, Eliah estaria ocupado demais, então me esgueirei pela cabana em que Edwin dormia para roubar alguns doces que eu sabia que o príncipe possuía. Posso dizer que o príncipe era viciado em balinhas coloridas de mel, cinco sacos enormes estavam escondidos atrás de um baú cheio de roupas. Peguei apenas um, mas quando já me virava para sair, minha intenção é interrompida.

— Ladrazinha

Dei um pulo de susto com a voz de Asher atrás de mim. O príncipe ria ao seu lado, mas sua expressão era dura. Asher por algum motivo tinha que transmitir para todos o quanto não gostava de ninguém. Mas eu sabia que ele suspirava por Guennya quando ninguém olhava. Sabia que ele admirava as flores e falava com os passarinhos, em lugares que ninguém podia vê-lo.

— Asher, já pode ir. Eu cuido disso.

O soldado fez uma mesura apressada e se retirou pela cabana. Por alguns minutos o príncipe ficou apenas me olhando com um sorriso bobo no rosto. Pensei que levaria uma bronca, ou talvez uma sessão de zombarias, mas quando ele se aproximou, apenas se sentou na cama atrás de mim e estendeu a mão. Ainda relutante sobre o que fazer, estendi o saco que ainda apertava contra o peito, e o coloquei em sua não grande estendida. Ele desamarrou as gordinhas finas que prendiam a abertura do saco de doces, e me estendeu o conteúdo de volta enquanto me olhava nos olhos. Por alguma razão meu coração achou que seria sábio acelerar o ritmo. Por algum motivo tive que fechar a boca, pois por algum motivo ela estava parcialmente aberta.

— Você poderia me pedir sabe... eu daria a você.

Em seus olhos percebi que ele falava mais do que apenas sobre as balas. Ele era um garoto lindo, talvez o mais lindo que eu já tinha visto. Tudo nele era perfeitamente calculado, desde o tamanho da testa até as marcações dos músculos . Ele parecia esculpido em puro ouro, parecia planejado por deuses.

— Não sabia se tinha permissão para isso.

— Pode fazer o que quiser comigo Kalishta

— Ainda estamos falando das balas?

Eu já tinha me levantado com o saco na mão. Um impulso maior do que eu me empurrou até onde o príncipe estava sentado, então ele também se levantou. Parte de mim se sentia mal, queria empurra-lo e ir procurar Eliah. Mas outra grande parte de mim queimava em curiosidade por aquela boca e aquelas mãos. Talvez essa parte fosse muito maior que a outra, pois quando ele se aproximou mais ainda, deixando pouco ar entre nos, não recuei. Olhei naqueles olhos prateados fundidos em fogo e o desejei. Quis me arrepender, quis pensar em algo para acalmar minha pele escaldante, mas não pude. Era fraca demais. Quando nossas bocas estavam a centímetros de distância, me lembrei de que aquele toque podia literalmente nos queimar.

— Eu posso incinerar a tenda.

Consegui sussurrar enquanto fitava seus lábios. Seus braços deslisaram ao redor do meu corpo, se instalando em minha cintura. Ele me puxou para mais perto, fazendo meu corpo colar com o dele.

— Duvido que eu seja tão bom quanto um soldado. Além disso... que queime.

Algo em mim, algo que não era fogo realmente queimou. Desisti de resistir, Edwin percebeu isso quando minhas mãos não conseguiram mais segurar o saco de doces que se espatifou no chão. Minhas mãos agora envolviam seu pescoço, seus braços me puxando cada vez mais perto. Então ele inclinou seu pescoço e senti seus lábios nos meus. Só fechei os olhos quando quase sentia a sensação do beijo dele. Seu cheiro invadia meus pulmões, me deixando entorpecida por tudo aquilo, por ele. Deixei que ele me conduzisse pela cabana aos beijos, deixei que ele me pressionasse contra uma das pilastras de madeira que sustentava a tenda, e deixei que ele me prensasse contra ela. Durou muito, muito mais do que eu podia me lembrar. Poderia ter durado horas, todo aquele contato e aqueles fogos e explosões. Mas quando ele se afastou, e finalmente consegui respirar, parecia ter durado dois segundos. Seus olhos estavam arregalados, e seu cabelo completamente desgrenhado... provavelmente pelos passeios dos meus dedos neles. Mas o que me chamou a atenção mesmo, foram as marcas pretas que se estendiam em seu uniforme, em cada lugar que eu havia tocado. Mas sua pele estava intacta. As palmas das minhas mãos estavam quase se apagando quando soltei:

— Acho que um príncipe pode ser tão bom quanto um soldado afinal...

Filha de KibtayshOnde histórias criam vida. Descubra agora