Vinte e nove

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Apesar de reveladora, a conversa do meu pai se tornou confusa. Uma pequena chama se ascendia dentro de mim todas as vezes em que eu pensava no assunto. Existiam apenas cinco reinos desse lado do mar, ou seja, cinco herdeiros. E Kai poderia ser um desses. Ou eu. A pessoa que estava enfraquecendo a natureza deve ter se aproveitado da saída dos herdeiros de seus respectivos reinos, para agravar a devastação que ja aconteceria de qualquer forma. A pessoa era inteligente o suficiente para fazer tudo aquilo sem levantar grande alarde, e ainda conseguir o apoio de um dos herdeiros de Kibtaysh sem que ninguém soubesse ate ser tarde demais.

Me ajeitei na poltrona vermelho-escuro que havia escolhido esperando pacientemente por meus irmãos. Edwin já estava sentado ao meu lado, Eliah logo atrás de mim com uma mão mantida sob a espada. Batuquei as pontas dos dedos na mesa negra de granito tentando controlar minha ansiedade, e decidir o que eu falaria exatamente para eles. Comecei a traçar um plano na mente: contar sobre o "sequestro", avisar sobre o homem e montar uma estratégia de ataque. Tomando cuidado para não soltar informações demais na frente dos estrangeiros. Por maior que fosse a lealdade de Edwin e Eliah por mim, eu não podia deixar que isso me cegasse. Meu reino em primeiro lugar.

— Espero que tenha biscoitos!

Zander entra desfilando seguido de Alex que não tira os olhos de um livro enquanto caminha até a grande mesa. Ele joga uma mecha do cabelo ruivo comprido para trás e deposita um beijo em minha testa antes de se sentar. Poucos minutos depois Owen entra distribuindo sorrisos a todos antes de se sentar à minha frente. Logo em seguida um Vladmir muito bem vestido como sempre, caminha graciosamente até meu lado para largar um beijo molhado em minha bochecha antes de se sentar majestosamente na própria poltrona. Estou prestes a começar a reunião devido a demora de Kai, quando o barulho do abrir de portas me interrompe. Mas para a minha enorme surpresa, não só Kai entra pelas grandes portas... ele está acompanhando de Finn.

— Oh... isso vai esquentar.

Ignoro o comentário de Vlad tentando não fitar aqueles olhos azuis perfeitos e aquele cabelo loiro sedoso. O príncipe parece ainda mais lindo do que a última vez que o vi, parece de mentira. Seu cabelo está maior agora, ele se estica em ondas que envolvem a coroa dourada encrustada de esmeraldas, mas não o suficiente para cair pelo pescoço. Até seu corte de cabelo parece extremamente calculado. Pelo canto do olho noto que Edwin se ajeitava em sua poltrona claramente desconfortável. Mas claro que com um homem como Finn, qualquer outro ficaria incomodado... além de tudo Edwin estava sem sua coroa.

— Acho que um dos príncipes não tomou seu assento .

Os olhos de Kai queimavam em uma chama sútil de raiva. Senti do lugar onde estava, segundos antes de notar que realmente havia uma poltrona vazia ao meu lado. Timidamente, provavelmente se perguntando como Kai sabia sobre sua linhagem, Eliah saiu de sua posição atrás de mim e se sentou ao meu lado.

— Então vamos conversar sobre os príncipes que sequestraram nossa princesa?

Finn cruzou os braços enquanto concordava com a frase de Vlad. Antes que Edwin ou Eliah dissessem algo, me apressei para acalmar os ânimos.

— Eles foram motivados por boas intenções. Aprendi muito com eles e... sei que são mais nossos aliados do que inimigos.

Senti uma onda de excitação quando o joelho de Eliah tocou o meu debaixo da mesa. Meu corpo se arrepiou inteiro, tive que manter meu pescoço firme para não lançar-lhe um olhar de advertência.

— Pessoas normais solicitam uma reunião, não sequestram! E por que você? Todos sabemos que Owen seria um alvo mais fácil!

É a vez de Kai levantar os ânimos, seguido de um "ei!" Indignado de Owen pelo comentário. Alex finalmente levanta os olhos do livro para fitar Edwin a espera de algum pronunciamento.

—  Ela tinha o direito de ir embora a qualquer momento depois de ouvir o que eu tinha a dizer. Se ficou foi escolha dela.

Eu não me lembrava bem dessa parte dos acontecimentos, mas de fato concordei com os ideais de Edwin e foi escolha minha não fugir.

— Acho que nossa irmã tem idade o suficiente pra decidir esse tipo de coisa.

Alex diz voltando os olhos para o livro que aparentemente é mais interessante do que nossa discussão. Finn então entra em ação, como sempre majestoso e perigoso, me atingindo em um ponto que eu nem pensava ser possível.

— Não vai dizer nada príncipe Jasper?

Apesar de não ter sido dirigida a mim, a pergunta que fez Eliah empalidecer fez meu coração acelerar. Eu sonhava com um garoto chamado Jasper desde que minha mãe morrera, pois quando era criança o conheci em um dos aniversários de Vlad. A memória parece tão distante mas tão fresca ao mesmo tempo, que é como se Finn houvesse girado uma chave em meu cérebro para apresentá-la. Eu devia imaginar que o nome de soldado do príncipe renegado seria diferente do nome real, mas nunca esperei que esse nome fosse um nome tão conhecido por meus ouvidos. O nome que me aparecia em sonhos desde os cinco anos... o nome do garoto que me roubou o primeiro beijo.

— Eu acho que uma guerra bastante importante está por vir. E se vocês querem brincar de culpar alguém, podem me culpar por que eu invadi o palácio com os quatro selecionados e levei a princesa de vocês. Mas depois que me xingarem o suficiente podem por favor se concentrar no que realmente importa?

Jasper não elevou a voz. Não precisou. Seu tom baixo e firme era o suficiente para fazer todos prestarem atenção e respeitar. Jasper estava tão acostumado a servir Edwin como soldado que essa parte dele mal aparecia. Ele era recluso e fechado, provavelmente temendo que alguém o reconhecesse e o julgasse. Mas ali estava ele naquele instante: falando como um verdadeiro príncipe. Minha mão viajou silenciosa até a sua por baixo da vista de todos. Quando pensei que ele a recusaria, senti seus dedos se fecharem sobre os meus. Uma nova centelha brilhava ali, a esperança da união. O poder.

Filha de KibtayshOnde histórias criam vida. Descubra agora