Trinta e três

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Deixei que as mãos de Nani percorressem toda a extensão de minha coluna nua em uma massagem extremamente calmante. Meus músculos tensos pela discussão com meu irmão estavam aos poucos cedendo. Depois que relacionei a voz do herdeiro de Rithan com o possível inimigo da floresta, larguei a festa e arrastei Kai comigo. Pensando que podia contar com ele, disse tudo o que me deixava aflita, recebendo de troco sua risada de escárnio. Meu sangue subiu à cabeça e me lembro de dizer "Tá na hora de crescer Kai, não quero que isso aqui vire uma bagunça." Mas ele respondeu "Relaxa que eu estou acostumado a limpar sua bagunça." Então ele virou as costas e voltou para o baile, me deixando sozinha e atordoada em um corredor vazio. Foi quando corri para meu quarto com lágrimas brotando dos olhos, chamando por Nani e Buni. Precisava de alguém para me ouvir chorar, e se Kai não acreditou em mim, dificilmente meus irmãos me levariam em conta.

— Tente relaxar senhorita, só funciona se você se permitir.

Tentei ao máximo soltar meus músculos que estavam inconscientemente rígidos demais. Me afundei na cama de bruços aproveitando as sensações caudadas pelas mãos mágicas de Nani. Buni me trouxe chá e biscoitos, já que minha pressa para esconder as lágrimas me impediu de comer qualquer coisa no baile.

Ainda nua desfruto das comidas que Buni trouxe além dos biscoitos prometidos, manjar, um caldo e carne. O sono quase me vence depois da barriga praticamente estufar, mas mantenho os olhos arregalados. Resgato um dos livros que Alex havia esquecido em meu quarto, o quarto volume do reino de Kibtaysh.

Conta a história de uma das rainhas de Kibtaysh, que surgiu oitenta anos após a primeira, também herdeira. O sangue da rainha Kibtaysh secou assim como quando eu e Kai nascemos, mas assim que uma gota do sangue da princesa Kinea foi acrescentado, a pasta voltou a ser líquida. É assim funcionava todas as vezes em que um herdeiro surgia, uma gota de sangue do herdeiro atual é depositada junto com os herdeiros anteriores, assim o sangue ficava cada vez mais poderoso. Os herdeiros de Kibtaysh carregavam no nome a inicial do reino. Kinea, Koley, Kenan, Kelvin, Kai e eu. E mais alguns que eu não me lembro o nome. Todos naturalmente ruivos, característica da realeza de Kibtaysh, e chamados com a inicial K. Aparentemente essa regra não se estendia por todos os reinos, visto que os herdeiros não possuíam a inicial de seu primeiro rei.

Essa herdeira do livro em especial, era chamada de "herdeira da floresta", já que de acordo com o livro ela podia sentir a terra. Apesar de seus dons já testados serem o fogo, sua mãe era natural de Orn, então as pessoas consideravam que sua afeição pela natureza tenha vindo da linhagem de controle da terra do povo de Orn. Mas Jasper já havia mencionado uma ou duas vezes que seu poder incluía manipular a terra e nada mais que isso. E ele era um herdeiro. Segundo os registros, Kinea foi a única rainha que saia pelos bosques e florestas de Kibtaysh sem medo nem receio, sempre caçando sem matar. Ela governou um reino pacífico e o fez crescer, entregando de bandeja um lar calmo e tranquilo para seus filhos. Seu retrato na sala dos quadros era excepcional. Ela era de longe a mulher mais linda que eu já havia visto, algo em seu olhar selvagem me chamava muito a atenção. Segundo o livro ela tinha amor por três homens, e decidiu qual deles escolher através de uma competição. Ri com a ideia de colocar Jasper, Finn e Edwin para lutar por minha mão. Não pude deixar de sentir uma leve sensação de importância que certamente me percorreria durante uma competição assim. Mas como a princesa simplesmente não pode escolher entre os três, eles concordaram entre si que os dois perdedores sairiam do reino para sempre.

Batidas formes soaram pela porta rosa me retirando da extrema concentração na história da princesa. Fechei o livro em um estalo e busquei o roupão mais próximo, já me dirigindo a porta. Abri apenas uma fresta até avistar Jasper, que mantinha uma expressão tensa com um braço apoiado do umbral da porta. Escancarei-a e fiz sinal para que o príncipe mascarado entrasse. Assim que a fechei atrás de mim, Jasper retira o tecido que cobre o rosto e o joga na cama.

— Algo errado?

Me aproximo dele e deixo que seus dedos passeiem pelas minhas bochechas enquanto ele me analisa. Corro um dedo pelas superfícies saltadas de suas cicatrizes até que ele me mande parar, ou que o sangue de meu braço se acabe.

— Muita coisa está errada Kali. Não confio naquele Lúcios.

Ele joga a cabeça para trás e respira fundo. Então o puxo para a cama, enquanto ele retira os sapatos para subir na mesma. Já estamos entrelaçados em um abraço deitados quando sinto sua frustração em palavras:

— Depois que você saiu, ele veio me dizer o quando seu corpo era lindo e... ele disse para Kai que adoraria tê-lo em sua família. Imagino que não a veja como cunhado afinal.

Jasper trinca os dentes, com a cabeça em seu peito consigo sentir quando seu coração se acelera de raiva. Afago seus cabelos e deixo que sua mão corra por minhas costelas através do tecido fino, sem me preocupar com o calor que o movimento me causa.

— Não se preocupe, não vou me casar com Lúcios.

— Talvez com ele não. Mas com Finn...

A frase morre em seus lábios. Seu braço agarra a lateral de meu corpo enquanto ele pressiona seu corpo contra o meu. Desço os dedos para seu peitoral e deixo que eles se fechem sobre a camisa antes não amassada dele. Não precisamos falar nada, mas sei que ele está com medo da mesma coisa que eu. Voltamos a algum tempo, e ainda não foi mencionado a situação de meu casamento. Mas tecnicamente o noivado nunca foi terminado. E era desejo de meu pai. As coisas não mudaram, a diferença é que agora eu sei porque ele queria o casamento afinal. Força. Força não contra as outras nações, mas contra o certo homem que suga vitalidade de nossos reinos. E de acordo com as linhagens, os filhos mais fortes tem um pai de Bulhart é uma mãe de Kibtaysh. Parece brincadeira, mas é a única combinação que da filhos capazes de manipular os poderes de ambos os pais. Sei o que meu povo espera de mim, mas pela primeira vez sinto que sei o que Jasper quer de mim. Ele espera que eu coloque meu povo em primeiro lugar, mas ele quer... por suas mãos, pelo seu coração acelerado e a intensidade de seu olhar... eu sei que ele me quer. Mas preciso ouvir dele. Então afasto nossos corpos e me sento na cama determinada. Ele faz o mesmo, um pouco confuso.

— O que sente por mim Jasper?

Ele fica confuso por alguns instantes, mas não desvia o olhar e nem transmite nervosismo. Sua resposta é alta e clara:

— Eu te amo Kalishta.

Filha de KibtayshOnde histórias criam vida. Descubra agora