Vinte e oito

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Meu irmão não estava morto. Zander havia sobrevivido ao golpe da espada graças a falta de força devido ao nervosismo de Edwin. Não que perdão fosse uma opção pra ele. Mas Aslo... estava morto. Pelo menos em meu coração. Assim que meus irmãos me soltaram daquela imensa esfera de abraços desesperados despejados em mim assim que cheguei, eles me contaram que não estava no baile porque havia partido de Kibtaysh "em busca de um reino mais interessante " segundo a carta que deixou. Meu pai fora envenenado e acharam o veneno no quarto de Arlo. No fundo essa história estava muito suspeita para que eu acreditasse logo de cara, mas até descobrir quem estava tentando jogar conosco, eu me passaria por uma princesa burra de luto.

Não era muito difícil já que no momento eu me preparava para encontrar meu pai doente graças a meu irmão. Eliah continuava sendo meu guarda pessoal, alegando que eu corria perigo até em meu próprio reino. Assim que minha visita ao meu pai acabasse, eu deveria reunir todos os meu irmãos pra discutir e explicar tudo sobre meu suposto "sequestro", acompanhada de Edwin, Eliah e Asher.

Eliah me escoltava e silencio ate os aposentos do rei, mantendo as maos atras das costas em uma pose de respeito. De alguma forme aquele castelo me fazia sentir como uma princesa realmente, o que combinava com sua conduta. Meu coração ainda ansiava pelas florestas e horas de caca, pelas fogueiras e banhos nos rios... coisas que eu não tinha como uma princesa. As pessoas pensam que o poder trás felicidade. Mas ele apenas despeja obrigações e modelos que você deve seguir, condutas a manter e aparências que deve mascarar. A primeira rainha Kibtaysh, era a mais doce e livre. Espirito liberto é como a conhecemos, uma mulher que mudou o reino que antes vivia em guerra, uma rainha que não se importava de usar calcas em vez de vestidos, e de sair com grupos de caca aos fins de semana por pura diversão.

Ao parar enfrente a porta dourada do rei, dou apenas duas batidas antes que o servo se apresse para abri-la. Adentrei pelo recinto mantendo os olhos sobre o corpo pálido do meu pai praticamente soterrado por cobertores, um resquício do homem alto e potente que um dia fora.

-- Adoeço por alguns meses e consideram tempo o suficiente para transformar a corte em uma gruta para vermes.

Seus olhos verdes se estreitam quando seu olhar cai sobre meu guarda. Ele não parece se ofender, mantém a cabeça erguida e o olhar fixo em algum ponto da parede vermelha a sua frente. Dou um passo afrente, esperando que a atenção de meu pai recaia sobre mim novamente.

-- O que um soldado de Orn faz piscando seus lindos olhos ornianos em meu palácio? E por que usa uma mascara? Tem algo a esconder criança?

Posso sentir a tensão no corpo de Eliah quando ele murmura um "não senhor". Meu corpo se arrepia, posso imaginar como deve ser humilhante se prostrar a um rei inimigo quando você mesmo tem direito a um trono. Me aproximo ainda mais de sua cama, fazendo com que Eliah se torna um plano de fundo para meu pai. Coloco uma mao sobre a sua e me pouco dizer:

-- Tenho algumas mudanças para propor pai.

Ele solta minha mao como se a risada de desgosto solta por sua garganta acompanhasse o movimento. Então com muito esforço se senta e mergulha em pensamentos por alguns segundos.

--Preciso ficar a sos com minha filha.

Ele se dirige aos servos que se mantinham de pé ao fundo do quarto pra socorre-lo caso algo desse errado. Mas Eliah também entendeu o recado. Apenas depois de estarmos completamente sozinhos, meu pai voltou a falar, pedindo que eu contasse a ele as mudanças. Orgulhosa de mim mesma por ter conseguido sua atenção, começo a descrever o plano de Edwin pelos tópicos, as alianças e como vamos cuidar da natureza ao parar de provocar guerras. Quando acabei minha breve explicação, um estranho misto de orgulho e pena moldou seus traços. Esticando a mao para uma taca de vidro que repousava ao lado de sua cama, meu pai bebe um gole do liquido estudando minha postura

-- Eu acho linda a sua intenção Kali. Mas não é tao simples quanto seu príncipe faz parecer. -- troco o peso do corpo de uma perna para a outra esperando que ele continue-- Acha que eu causei os danos a natureza? Ou Bulhart? A questão é muito maior do que esta. A natureza esta sendo sufocada por alguém.

Uma lufada de vento invade o quatro através das grandes janelas abertas, balançando meu cabelo parcialmente solto como chamas alimentadas pelo oxigênio. Uma esperança se ascende em mim, esperança de que talvez papai não tenha nada a ver com a morte da natureza, que talvez seja apenas um mal-entendido de Edwin. Afinal, as florestas de Kibtaysh permaneciam quase intactas.

-- As florestas leste do nosso reino começaram a secar pouquíssimo tempo atras, e pararam hoje. Você sabe o porque?

Faço um sinal negativo com a cabeça, mantendo a bofe fechada o máximo possível, antes que meu pai se arrependa e pare de me contar as coisas. Não era de se surpreender que fui enganada tao facilmente, eu nunca havia ficado a par das coisas que aconteciam em meu próprio reino. Que tipo de rainha eu seria dessa forma?

-- Até dezenove anos atras, o sangue contido atras do quadro de Kibtaysh mantinha as florestas saudáveis. É um tipo de magia que todos os reinos tem, mas a nossa é maior. De tempos em tempos um herdeiro do reino tem a vida em si, a habilidade e o dever de manter o aproprio reino vivo. Quando você e Kai nasceram, o sangue secou. O que significa que um de vocês era o herdeiro de Kibtaysh. Não tínhamos certeza de qual dos dois era ate que você foi sequestrada... e as florestas permaneceram intactas. Mas quando Kai depois de dois meses saiu para te procurar ignorando minhas ordens, a floresta começou a adoecer. Quem esta fazendo isso com todos os reinos, é um herdeiro das sombras. Um tipo de pessoa que também nasce de tempos em tempos, com o poder de sufocar a magia. Mas ainda não sabemos quem é.

Mal escutei o resto das frases que meu pai disse. Não consegui parar de pensar no mal entendido que se formava naquele lugar. Fui feita de refém, mas permaneci em soldo Kibtaysh. Eu reconhecia as arvores e cores por onde passava no acampamento. E depois de dois meses, no momento exato quando meu irmão saiu de casa, eu fui levada para Elliwe.

Filha de KibtayshOnde histórias criam vida. Descubra agora