Resgate

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Com uma velocidade que eu não sabia que tinha, quebrei o espelho e usei o pedaço maior para ferir Juan no pescoço, ele caiu desmaiado no chão e aproveitei para libertar Angeline. Ouvi passos no andar de cima e corri para trancar a porta por dentro.

Eu estava livre.

Quer dizer, quase.

Angeline libertava as meninas enquanto ouvíamos os homens tentando derrubar a porta, que era estranhamente forte. Agradeci aos céus por isso. Liguei meu celular e disquei o número de Andrew que atendeu no segundo toque.

- Graças a Deus! – ele disse – Onde você está? Você está bem? Está ferida?

- Eu não sei onde estou, Andrew – respondi – Olha o GPS, não sei quanto tempo o cara vai ficar desacordado.

- Que cara? – ele perguntou – Não importa, chego em menos de 5 minutos.

Com todas as meninas já libertas, usamos as cordas para amarrar Juan na cadeira e esperar que ele não acordasse. Pelo menos eu acreditava que ele ainda estava vivo, desconsiderando a quantidade de sangue no chão, o ferimento parecia ter sido superficial.

Assim que terminamos de o amarrar, os outros dois conseguiram abrir a porta, entrando no porão furiosos.

- Você vai pagar por isso. – disse Martin, olhando fixamente para mim.

- Protejam-se. – avisei as meninas. – A primeira que fugir, grita por ajuda – sussurrei para elas.

Montamos uma espécie de escudo humano, ficamos lado a lado, apavoradas, porém prontas para contra-atacar nossos sequestradores, mas não foi necessário, assim que Martin partia para cima de mim e Nando das outras três, um Andrew furioso invadiu o sótão com Derek logo atrás.

Uma luta se iniciou e as meninas conseguiram correr para fora do sótão. Não durou muito e Andrew e Derek deixaram os sequestradores desacordados. Saímos do sótão e trancamos a porta, os deixando para a polícia resolver.

Me mantiveram presa em uma casa grande para não levantar suspeita em um terreno que futuramente seria de condomínio.

- Você está bem? – Andrew perguntou – O que estava pensando quando decidiu sair sozinha?

- Eu estou bem, só precisava de um ar.

Então ele me abraçou, me dando a sensação de estar em casa, segura, a salvo. O abraço de Andrew me dava tanta segurança que era difícil sair de um abraço dele, especialmente depois da noite que passamos juntos, onde tudo que eu tinha era seus braços em volta do meu corpo.

Por um milésimo de segundo voltei a noite anterior, todas as sensações, sentimentos e pensamentos voltaram à tona e até mesmo a vontade de que o tempo parasse naquele momento voltou com força.

Mas não era possível.

Agora ele me odiava.

E com razão.

- Fico feliz que está bem. – disse Derek e me puxou para um abraço rápido, alheio a tudo que havia acontecido.

Ele também me odiaria.

- Vamos embora. – disse Andrew, frio – Depois de hoje, vai precisar descansar. Vamos voltar para o AP e amanhã buscaremos a última pedra.

Concordei e fomos para o apartamento.

No mais, eu estava satisfeita. As meninas estavam salvas, aqueles homens seriam presos e não voltariam a sequestrar ninguém tão cedo.

No fim das contas descobrimos que vampiros recrutavam humanos para sequestrar belas jovens em troca de muito dinheiro para as transformarem em suas esposas para que pudessem aumentar seus próprios clãs fazendo filhos com todas e as transformando, assim criariam uma legião de vampiros para guerrear com um clã inimigo. Em resumo, eram vampiros loucos com fetiches estranhos que precisavam ser parados. Os vampiros infiltrados na polícia francesa cuidariam do caso.

Chegamos no apartamento e pedi para conversar com Andrew que mesmo relutante aceitou me ouvir. Percebi um Derek cabisbaixo ao sair do meu AP e me sentia péssima por aquilo. Eu não queria que ele ficasse machucado, não queria usá-lo e logo precisaria ser sincera.

- Eu não sei bem como começar... – eu disse.

- Não precisa falar, Elisa. – Andrew me interrompeu.

- É a minha vez de falar. – eu disse – Eu quero pedir desculpas por tudo, quero que saiba que estou muito machucada e mesmo que não fiquemos juntos...

- Você sempre precisa frisar que não vamos ficar juntos? – ele perguntou, passando a mão no cabelo – Eu já sei que não vai rolar, você faz questão de deixar claro.

- Eu sei e sinto muito por isso – falei – Não queria que chegasse a esse ponto. Não queria machucar você, não percebi quando tudo isso começou a surgir, mas...

- Claro que não queria sentir nada por mim – ele disse – Ninguém nunca quer sentir nada por mim...

- Andrew, cala a boca – gritei – Você é um idiota e não enxerga. Eu te amo, caramba.

Após a última frase ele me encarou, os olhos brilhantes voltaram em sua feição. Várias coisas passaram pela minha cabeça, eu não sabia bem o motivo de ter dito aquilo, não sabia de onde aquela coragem surgira, nem mesmo se eu fiz a coisa certa.

- O que você disse? – ele perguntou após alguns minutos.

- Eu amo você. – falei novamente, mais baixo com os olhos cheios de lágrimas – E mesmo que não seja mais recíproco, mesmo que você me odeie por ter mentido, eu continuo te amando e sei que vou te amar pra sempre, ainda que não fiquemos juntos.

- Eu não odeio você, Elisa. Eu jamais odiaria você. No fim das contas meu coração é seu para partir quando quiser. – ele andou até mim – Eu só precisava de um tempo, precisa aceitar que não ficaremos juntos, mas mesmo assim, eu quero te ver segura, bem, feliz.

- Você é o vampiro mais idiota e cabeça dura que eu conheço.

- O vampiro mais idiota e cabeça dura que ama você.

Com isso, ele me beijou. Calmamente, como se fosse a coisa mais satisfatória do mundo, o que, para mim, era. Ele me levou para o quarto novamente e ficou me acariciando até que eu enfim dormisse, mas antes de pegar no sono, senti sua mão acariciando meu cabelo e passando pelo meu rosto.

Como eu o amava.

Mas eu sentia que algo estava para dar terrivelmente errado.

Quando eu era mais nova costumava ter amores platônicos por qualquer ator de filme que fosse minimamente atraente. Minha vida amorosa sempre fora um desastre e eu culpava minha total falta de percepção e quando eu conseguia sair com algum garoto, algo sempre dava errado, fosse por uma ex-namorada que voltava do inferno ou por gostos não compatíveis e eu sempre me perguntava o motivo.

Por muitas vezes eu me pegava pensando no que o futuro reservava para mim, afinal se eu não conseguia dar certo com ninguém era porque o que era meu estava me esperando, certo?

Eu não tinha mais certeza disso.

E se todos os meus fracassos amorosos me levaram até aquele momento para que eu pudesse perceber quando seria diferente?

Já estava sendo diferente de tudo que eu já vivi, mas Andrew parecia ser um sonho distante de mim.

Talvez ele fosse meu destino até aquele momento e a partir dali ele seguisse o próprio rumo e em um futuro distante voltássemos a nos encontrar em um supermercado qualquer, eu com dois filhos e um marido, ele com uma namorada linda curtindo a vida e conhecendo o mundo.

O destino realmente pregava peças.

Mas o fato de eu ser uma humana e ele um vampiro era um dos maiores empecilhos, por mais que, naquele momento, eu quisesse passar por cima de tudo para podermos ficar juntos, já que eu o amava e ele sentia o mesmo. Meu maior medo era amar sozinha, o que não era o caso, eu tinha certeza.

E se tentássemos?

Havíamos acabado de nos declarar um para o outro e o destino deveria ser generoso comigo, considerando tudo que passei.

No mais, era algo a se pensar.

Ainda assim, uma pergunta ficava martelando em minha mente e por mais que eu tentasse ignorar, era inevitável não pensar:

Andrew estava no meu destino?

As Chaves do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora