Paris

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- Elisa? – a voz de Andrew me fez perceber que eu estava em um sonho lúcido.

Estávamos no mesmo lugar do primeiro sonho que tive invadido por ele. O sol estava para nascer novamente e eu estava em pé, virando para seguir o som de sua voz.

Como ele estava bonito. A luz do sol nascente refletia bem sua beleza no corpo escultural de Andrew que...

Não...

Por qual motivo eu estava com esses pensamentos?

Instintivamente corri para abraça-lo.

- Você está bem? – ele perguntou.

- Eu? – o soltei e dei um passo para trás – Quero saber é se você está bem.

- Sim – ele passou a mão por seu cabelo – Você falou com a Rosy? Ela mexeu alguns pauzinhos e o rei me liberou mais cedo do que o esperado. Amanhã mesmo estarei indo encontrar você. – ele riu – Me espere antes de ir a última busca.

- Está bem.

- Agora me conte como você está. – perguntou – Derek está se comportando?

Eu entendi bem o que estava por trás dessa última pergunta, mas eu não sabia se era uma boa ideia contar a ele sobre o beijo e sobre a proposta de Derek em lhe dar uma chance, então resolvi ignorar sua última pergunta e contar o que aconteceu desde que fugi com Derek do castelo – pulando a parte do beijo – até aquele momento em que eu estava dormindo no avião e provavelmente quase chegando em Paris, pois a viagem não era tão longa.

- Comprarei um celular quando pousarmos e te passarei o endereço do hotel que vamos escolher – falei a ele

- Está bem – ele disse – Qualquer problema que tiver, não excite em me procurar.

- Espero não correr mais nenhum perigo até você chegar. – falei e ele riu

- Elisa, acho que precisamos falar de nós.

- Não, Andrew – comecei – Não é o momento certo. Talvez quando tudo isso passar a gente consiga...

- Tenho algo para te falar, mas tem que ser pessoalmente. – ele segurou minhas mãos e as beijou – Antes que vá, preciso de um abraço.

Olhei bem em seus olhos e vi a urgência e a vontade de ter um abraço meu, mais parecia uma despedida e aquilo me deixou um pouco desconfortável, mas mesmo assim o abracei e quando o soltei, ele não fez o mesmo, acabando por prender meus olhos aos seus e quando percebi, nossos lábios já estavam encostados em um movimento leve e suave, doce e de certa forma, urgente.

O beijo do Andrew era como um bote salva vidas, um alicerce que me tirava da escuridão e do perigo, me mantendo segura e com a plena consciência do que eu sentia, era só ele me soltar que meus sentimentos já viravam um fone de ouvido com fios guardado na bolsa. De certa forma, eu queria a sensação dos beijos de Andrew enquanto eu vivesse, mas por outro lado, eu estava consciente de que não era certo, pois além de todo o fato de acabarmos extremamente machucados, havia o fato de que tínhamos uma diferença completamente inevitável.

Eu era humana.

Ele era um vampiro.

Não iria dar certo mesmo que a possibilidade de acabarmos machucados fosse nula.

Aquilo não ia rolar.

Jamais.

Sem mais nem menos, senti a presença de Andrew se esvaindo aos poucos, o que interrompeu o beijo.

Eu estava sendo acordada.

Pousamos em Paris em poucas horas e, após comprar um celular novo para mim, procuramos um hotel que podíamos pagar, pedi um quarto só para mim e Derek acabou ficando em outro na frente do meu, mas afirmou que estaria sempre de olho.

As Pedras do Desígnio me deram mais segurança. De alguma forma inexplicável eu me sentia mais forte.

Peguei no sono depois de deitar na cama e acordei horas depois com alguém batendo na porta. Era Derek.

- Vim te fazer companhia. – disse ele quando abri a porta. Dei passagem para que entrasse.

- Está tudo certo ao redor? – perguntei, observando enquanto ele sentava no sofá.

O hotel que pegamos era mais ou menos parecido com o que ficamos no Egito, mas ainda assim, eu preferi um só para mim. Precisava ficar sozinha por um tempo. Me ajudava a pensar.

- Não farejei nenhum sanguessuga por perto – ele disse – Tudo tranquilo. Você está bem?

- Estou descansada – falei – No momento é o que importa.

- Você pensou sobre o que eu disse? – perguntou

- Esquece, Derek. – andei até a cozinha e peguei um copo de água – Não vou te usar como estepe.

- Não veja como estepe – ele riu – Veja como um investimento sentimental.

- Isso não existe. – abri os armários atrás de algo para que eu pudesse cozinhar.

- Acabei de criar – ele gritou da sala, ouvi a TV ligada.

Ignorei seu comentário e peguei meu celular e mandei uma mensagem para Andrew dando todos os detalhes de onde eu estava, em seguida abri o aplicativo de pedir coisas em geral, calçados, roupas, comidas, entrei em um supermercado e comprei os ingredientes para fazer estrogonofe de frango. Depois do que passei, tudo que eu queria era um momento só para mim mesma fazendo algo que não faço normalmente.

Cozinhar iria me concentrada, portanto eu não teria tempo de divagar meus pensamentos e no fim de tudo acabar pousando-os em Andrew, como normalmente acontecia, então aproveitei para pedir os ingredientes de um bolo de chocolate para fazer no dia seguinte, pois já era noite e eu precisava ter boa noite de sono.

Sentei ao lado de Derek enquanto o entregador não chegava e começamos a assistir o jornal local, no qual a repórter noticiava estranhos desaparecimentos de jovens francesas fazia uma semana.

- "... Hoje faz uma semana que Nicole Roux, Angeline Bernard e Elaine Plessis, todas de 23 anos desapareceram misteriosamente após saírem da faculdade, onde foram vistas pela última vez por seus amigos. Os familiares das meninas estão espalhando cartazes por toda a cidade e imploram para quem as sequestrou, as devolvam em segurança e a salvo." – dizia a repórter, exibindo suas fotos, uma loira, uma preta e uma morena, respectivamente.

- Você acha que tem vampiros por trás disso? – perguntei a Derek

- Tenho quase certeza disso. – ele respondeu – Nem imagino o desespero da família dessas meninas, se fosse com você, eu reviraria essa cidade de cabeça pra baixo até te encontrar.

- Espero que elas estejam bem. – falei e levantei para atender a campainha que acabara de tocar. Era o entregador com meus pedidos.

Segui para a cozinha e comecei a preparar a janta, Derek se dispôs a me ajudar e pedi para ele cortar o frango em cubos enquanto eu adicionava as coisas do molho em uma panela.

- Quando o Andrew volta? – ele perguntou.

- Acho que amanhã.

- Ele poderia ficar mais uns dias fora, não acha? Ele não faz falta alguma.

Derek não fazia ideia de como estava enganado. Fazia apenas alguns dias longe de Andrew, mas pareciam meses. Eu não fazia ideia de como seria quando eu me afastasse dele.

Como eu conseguiria não ouvir suas piadas sem graça o tempo todo?

Como eu conseguiria não ver seus lindos olhos brilhantes me encarando?

De toda forma, eu teria que me acostumar. Era minha única saída.

Droga.

Eu não queria admitir para mim mesma.

Mas já era tarde.

Muito tarde.

E eu não consegui evitar.

Não consegui impedir.

O sol já havia nascido. Aquecendo todo o meu coração.

Eu estava perdidamente apaixonada.

As Chaves do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora