No Words - Girafa

Sala Reserva

Não esqueçam da playlist. Música do capítulo de hoje = written in the stars. Boa leitura.

Rafaella acordou com o som do alarme de seu celular tocando incessantemente pelo quarto escuro. Queria dormir mais algumas horas para compensar as que perdeu divagando sobre almas gêmeas e suas diferentes realidades, mas sabia que não podia, pois cenas tinham que ser gravadas naquela manhã. Por isso, não enrolou na cama e foi logo se preparando para o dia de trabalho que tinha pela frente.

Ao chegar no Projac, a primeira pessoa que viu foi Manoela, sua única e melhor amiga no Rio de Janeiro. As duas jovens se conheceram no segundo trabalho de Rafa na Globo, onde a mineira interpretava uma típica "piriguete" e irmã mais velha da personagem interpretada pela menor. A convivência constante fez com que ambas as mulheres desenvolvessem certo apreço pela companheira de cena, e aos poucos foram virando confidentes.

Manu era a única pessoa, além de Luís, que sabia da história da mineira, inclusive sua triste mudança de comportamento causada pela frustração sobre sua alma gêmea. A baixinha constantemente tentava fazer a amiga repensar e ver as coisas por um lado diferente, mas nunca obtinha sucesso. Rafaella era cabeça dura quando queria.

A cumplicidade entre elas foi justamente o que fez com que a paulista percebesse que a amiga estava diferente no momento em que a mais alta atravessou a porta de seu camarim. Estava dispersa, e Rafaella Kalimann nunca era dispersa durante o horário de trabalho. Algo estava acontecendo, e ela descobriria.

- Amiga? Tudo bem com você? Sua cara não é das melhores... - A mineira se jogou ao lado da amiga, fechando os olhos, como se aqueles míseros segundos pudessem recarregar toda a energia que a noite mal dormida consumiu. Aquilo foi resposta o suficiente para a amiga. - Ei, o que foi, Rafa? Aconteceu alguma coisa? - Sem pronunciar uma palavra, Rafaella se jogou nos braços da amiga, procurando o conforto que não teve desde que saiu do Bicalho's na noite anterior. - Ei, calma! Respira, Rafa! - O choro da mais alta já molhava a camiseta de Manoela, que tentava desesperadamente entender o que se passava com a amiga.

- Eu encontrei, Manu. Minha alma gêmea, eu encontrei. - Manu não conseguiu conter o sorriso que se formou em seus lábios ao ouvir aquilo. Sabia o quão apegada à ideia de almas gêmeas Rafaella era, e o quanto a demora em encontrar a sua, afetou sua vida pessoal, fazendo-a até se afastar de sua família.

- Meu Deus! Isso é incrível, amiga! Eu sempre soube que esse dia chegaria. - Manu estava claramente muito contente com a notícia, mas logo percebeu que a mesma animação não contagiava a amiga, e sua mente se encheu de perguntas. - Se você encontrou a sua pessoa, por que essa carinha?

- Porque eu não tenho sorte, Manu. Eu encontro a minha alma gêmea e ela finge que eu não existo. - A baixinha não estava entendendo nada e a mais alta percebeu, por isso contou tudo. Contou sobre a falta de reconhecimento de Gizelly e sobre como esperou que a chef a procurasse a noite toda, só para ter suas esperanças destruídas no final dela. Contou tudo e deixou a amiga sem palavras. - Entendeu agora? Eu encontrei a minha alma gêmea só para ela ser uma descrente, amiga. Ela me tratou como se eu fosse uma cliente normal, em nenhum momento pareceu me reconhecer. Eu sabia que tinha nascido para ficar sozinha, é o que eu mereço. Nem sei como ousei ter esperanças. - Não acreditava no que Rafa dizia, não era possível que alguém fosse tão fria assim. Sabia que existiam pessoas descrentes e que escolhiam viver a vida conforme suas próprias escolhas, ignorando as frases em seus corpos, mas mesmo essas pessoas tinham uma conversa esclarecedora com sua alma gêmea antes de se desprenderem. Não queria acreditar que sua melhor amiga tinha dado tanto azar a ponto de ter uma descrente sem consideração pelo seu par. Ela não merecia tamanho descaso, e por isso se revoltou.