Ela...morreu?

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Música do capítulo = take it all.

- Eu sei que meu café é o melhor do mundo, mas eu duvido que tomar três canecas dele seja considerado saudável, Mariana - A sous chefe virava a caneca do líquido quente como se fosse água, o que preocupava a mais velha imensamente. Mas ela precisava daquilo, precisa acordar para a vida novamente, como havia feito ao arrumar sua mala para deixar o lugar que havia chamado de lar nos últimos três anos, mesmo que ele muitas vezes não tivesse parecido um, e aquele café gostoso era uma ótima maneira de fazer isso.

- Eu sei, mas eu preciso de coragem, e ele me dá isso - Deu um gole na bebida, que já estava no fim, para tentar salientar seu ponto, mas se arrependeu profundamente quando a amiga fez um de seus comentários irreverentes.

- Bebida errada, amada, isso aí é café e não pinga - O balcão da cozinha da dona do Bicalho's não demorou a ser coberto por respingos de café, cuspidos pela mais nova.

- Gizelly! Quase morro engasgada por sua causa! - A mais alta tentava repreender Gizelly, mas a improbabilidade daquilo tudo fez com que ela desse início à gostosas gargalhadas, que logo ganharam a companhia das da menor. Quando elas cessaram, as mulheres se encararam por alguns minutos, até que a chefe caminhou até Mari e pegou em sua mão.

- Você sabe que eu não me importo com sua presença aqui, mas o que causou ela? - A baiana respirou fundo, lutando contra sua garganta, que teimava em querer fechar. Ela precisava pôr para fora, tinha aguentado tempo demais calada, tinha ido até a mansão justamente para isso, então por que era tão difícil?

- A Bia... - Péssimo começo, mas pelo menos indicava o caminho da conversa a seguir.

- O que tem ela? Ela fez alguma coisa para você? Disse algo desagradável? Porque você sabe que ela é a rainha de dizer coisas desagradáveis, e se for isso você veio ao lugar certo, pois eu sou especialista em lidar com os absurdos que saem da boca da minha irmã - Como Gizelly conseguia fazê-la rir em um momento tão difícil? Não sabia, mas a aura leve da capixaba sempre a relaxava era assim desde que se conheceram.

- Não, ela não disse nada. Esse é exatamente o problema - Ok, agora a Bicalho estava oficialmente perdida no assunto. Não tinha certeza se estava entendendo a cunhada corretamente, mas se tivesse que dar um palpite, diria que sua querida irmã mais velha havia mentido.

- Er... Eu não entendi, ela não te contou algo?

- Isso... mas é que não foi algo qualquer, sabe? Desde que ela resolveu se afastar de você, ela vem se fechando cada dia mais e me deixando de fora por tudo que se passava na cabeça dela. No começo, isso afetava a minha relação com você e a relação de vocês duas, mas chegou em um momento em que começou a afetar a nossa relação de casal - Era possível ver a tristeza no rosto da mais nova, cada traço de decepção estava cravado naquela bela figura. Era óbvio que, o que quer que esteja acontecendo em seu casamento a estava afetando negativamente - Eu me sentia em um casamento unilateral, onde eu me doava, era verdadeira e dava tudo de mim e recebia o mínimo para não reclamar. Às vezes parecia que eu era uma obrigação e não um desejo sabe? - Após o breve desabafo, os olhos castanhos da baiana foram tomados por lágrimas, o que fez com que a cunhada largasse sua mão e a abraçasse, confortando-a. O silêncio que se seguiu serviu como um momento de reflexão para ambas. Para Mariana, era o tempo necessário para se acostumar às sensações que esvaziar seu peito causava nela. Para Gizelly, era um momento para digerir a informação de que talvez Bianca não fosse somente uma péssima irmã, talvez ela fosse assim na vida, e isso era ainda mais triste. A versão mais nova da mais velha das Bicalhos provavelmente não se reconheceria na figura em que havia se tornado.

No Words - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora