NÃO!

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Música do Capítulo = please don't say you love me.

As duas mulheres entraram no restaurante e atravessaram o salão principal para chegar até a sala que, na cabeça de Gizelly, já era vista como "delas". No caminho, ouviram uma das clientes fazendo pedidos um tanto quanto inusitados, o que fez com que a atriz encarar a chefe, que logo engatou uma explicação.



- Acredite, esse não foi o pedido mais estranho que Roberta já fez - Já encostada na parede ao lado da porta que dava para a sala reserva, que já parecia estranhamente familiar para ambas, a mais alta arregalou os olhos, surpresa.



- Ela conseguiu pedir algo ainda pior que um frango com azeitona em um restaurante como esse? Ela acha que está onde? Em um bastantão de bairro? - A indignação de Rafaella fez a capixaba rir alto, ela ficava fofa quando defendia a "honra" do seu restaurante.



- Roberta sempre foi assim. Ela vem uma vez na semana, escolhe três pratos, tenta fazer umas exigências estranhas sobre eles, e quando não consegue o que quer, acaba aceitando como está escrito no menu - No começo, os funcionários do Bicalho's desconfiavam que a mulher fazia aquilo somente para incomodar, mas com o tempo viram que era apenas o jeito dela, e acabaram por adotá-la como uma espécie de mascote do local - Diz ela que pretende experimentar tudo que há no menu. Eu que não irei questioná-la, não é mesmo? - Compartilharam as risadas com as peculiaridades da jovem cliente enquanto a chefe esperava a mais nova dar indícios do que consumiria naquele dia.



- Confesso que gostaria de ser como essa Roberta e passear pelo menu todo, mas aquele risoto de sexta-feira não sai da minha cabeça. O que sugere que eu faça, chefe Gizelly? - Sem titubear, a capixaba rebate com uma sugestão inesperada.



- E se, para que você consiga fazer as duas coisas, você pega o risoto, eu pego um Filé Rossini com demi glace e então dividimos? - Gizelly sabia que isso era algo muito comum entre casais, pois via acontecendo todo dia dentro do salão, lembra de sempre achar lindo a forma como eles sempre pareciam brincar durante a refeição, fingindo "roubar" a comida de seu par, só para receber uma garfada do próprio na vez posterior. Desejava aquilo, mas sabia que nunca teria, já estava conformada com isso. Mas não poderia doer sugeri-lo, já que resolveria o pequeno dilema de Rafaella.



A mineira a encarava perdida. Seu coração queria pular de alegria, sorrir para que todos vissem e cantar canções animadas aos quatro ventos, enquanto isso, seu cérebro travava uma batalha persistente contra ele. Teria Gizelly noção do que aquela sugestão a fazia sentir? Será que ela não pensava, nem por um minuto, no quanto aquelas poucas palavras a afetavam? Ela se importava tão pouco assim? O coração ganhou, como sempre acontecia, e Rafaella liberou sorriso que estava esperando permissão no canto de seus lábios.



- Essa é uma ótima ideia - Recebeu um sorriso tímido e, se o que havia percebido sobre a chefe estava certo, envergonhado como resposta.



- Ótimo!





**



Entre garfadas, Rafa contava sobre os acontecimentos desses três dias eternos que haviam passado sem se ver. Contava sobre os machucados ganhos, as horas de sono perdidas e as infinitas reclamações que ouvia de todos os lados. O cansaço era evidente na voz da atriz.



- Pelo menos terá algum tempo de férias agora, e poderá descansar. Ou vocês atores não descansam como nós, meros mortais?



- Não sei se ser a melhor chefe do Brasil não te exclui da categoria de "meros mortais" viu, dona Gizelly? E fique sabendo que nós descansamos sim, tá? Mas alguns descansam mais que os outros. Eu, por exemplo, não terei muitos meses de férias, já que logo precisarei começar a caça por um novo papel - Como toda vez que a mais nova a elogiava, Gizelly corou violentamente e, para disfarçar, rebateu com outra pergunta.



No Words - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora