No Words - Girafa

Vou Estar Aqui

Música pro capítulo = Ninguém dá certo comigo.

Gizelly notou os olhos inchados da atriz assim que adentrou a sala novamente, mas preferiu não comentar sobre, já tinha se intrometido demais na vida da mulher por uma noite. Para alegrá-la, tinha preparado uma massa ao pesto com o peito de frango do Bicalho's, a proteína mais pedida do menu devido à mistura especial de temperos feita pela própria Gizelly. Tomou a liberdade de pedir a Gilberto, o especialista em vinhos do restaurante, para escolher o que melhor combinava com o prato que escolhera, e ele sugeriu um vinho branco, coincidentemente o favorito da proprietária.

A porta havia sido aberta quando o aroma da comida se espalhou pela sala, chegando até Rafaella, que sentiu seu estômago roncar. Quando a chef abriu a cloche, a mineira quase caiu para trás. O empratamento era impecável; perfeito em cada pó de pimenta, em cada onda de molho, em cada fio de macarrão. Seu comentário da noite anterior voltou à mente, e a obrigou a pegar o celular, a fim de capturar tamanha beleza. Ao levantar os olhos novamente, percebeu que Gizelly a encarava, com uma expressão confusa. 

- Obra de arte, lembra? Merece ser eternizada. - O sorriso bobo no rosto da capixaba a tornava mais jovem, e tirava um pouco o peso do olhar cansado. Ficava linda sorrindo, pensou Rafaella. 

- Você é muito gentil, Rafaella. - Ah, se Gizelly soubesse o quão "gentil" a atriz conseguia ser com as pessoas.... Provavelmente não iria querer vê-la nem pintada de ouro.

- Eu apenas digo o que sinto, e se for preciso vou voltar todo dia para convencê-la. - O tom de voz da mais alta era brincalhão, mas ela falava sério. Voltaria todo dia se isso convencesse a jovem chef de que seu talento era algo especial e único, e que ela deveria se valorizar mais.

- Se eu fosse você, começaria a abrir espaço na sua agenda, porque eu com certeza precisarei de convencimento. - Aquele ar de brincadeira mexia com o interior de Gizelly, que se repreendia. 

- Pois saiba que eu farei. 

- As portas do Bicalho's sempre estarão abertas para você. E se vier no horário de almoço, talvez eu me junte a você para lhe ouvir e deixá-la me convencer. - Quis bater em si mesma, o que estava pensando? Flertar com clientes era algo que nunca havia feito, além de ser nada profissional de sua parte.

- Quando você menos esperar, estará almoçando comigo, enquanto faço papel de coaching para você, a obrigando a aceitar elogios. Me aguarde, dona Gizelly! - Estavam se divertindo com aquela conversa, e as risadas de ambas eram prova suficiente disso. Quando o relógio da chef apitou, sinalizando o final de mais uma hora, ela pareceu acordar, e lembrar de onde estavam.

- Precisam de mim na cozinha, mas qualquer coisa que precise é só clicar em um dos botões na lateral da mesa que algum funcionário virá atendê-la - Estranhou a sensação incômoda que sentia ao dizer aquilo, era como se, ao sair de perto da atriz, seu corpo começasse a protestar. Talvez estivesse ficando louca, ou estivesse cansada demais depois da noite passada.

- Tudo bem. Muito obrigada por ter me trazido até aqui, comer sem sentir diversos pares de olho em você pelo menos uma vez será algo que aproveitarei muitíssimo. - Ao invés de um "de nada", recebeu apenas um aceno como resposta, e não soube interpretar o gesto. Até a despedida, Gizelly parecia estar confortável com a situação, e até entrava em suas brincadeiras, mas do nada sua postura havia mudado. O que tinha acontecido ali?

**

Após o jantar, Rafaella foi direto para o seu apartamento, sua mente estava ocupada demais teorizando sobre o ocorrido no Bicalho's, para se concentrar em qualquer outra coisa. Abriu a porta e foi logo atirando sua bolsa no sofá, planejando se jogar logo atrás, mas o gritinho que ouviu quando a bolsa fez contato com o móvel a impediu.