Nem uma palavra

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Música do Capítulo = Não te largo, não te troco.

Ao entrar em sua casa, Bianca encontrou a irmã sentada no sofá da sala, encarando a parede. Queria que ela dissesse de uma vez o que quer que fosse que tinha para falar, os problemas da empresa já estavam gastando toda a sua paciência ultimamente. Aproximou-se rapidamente, sem cerimônia alguma, e se sentou de frente para Gizelly, que repousou seus olhos sobre ela. A viu inspirar lentamente e quando seus olhos se encontraram, a mais velha sentiu medo. Não sabia o que esperar dessa conversa, mas a expressão dura no rosto da irmã não a animava muito.

- Bom, como você já deve saber, a mais ou menos seis meses, alguém entrou com um processo contra mim por conta do nome do Bicalho's - A chefe falou aquilo com naturalidade, como se aquela fosse uma informação que Bianca já devesse saber, mas não sabia. Não havia ouvido uma palavra sequer sobre esse assunto.

- O que? Estão processando você? - A indignação na voz da empresária era óbvia, e Gizelly compreendia, aquele restaurante significava muito para Mari também. 

- Sim...? A Mari não contou? - As duas Bicalhos voltaram sua atenção para a baiana sentada na poltrona, à esquerda de sua chefe. Enquanto Gi a observava confusa, sua esposa demonstrava estar claramente decepcionada por não saber de algo tão importante. 

- Eu... não sabia se deveria contar. Vocês não têm a melhor relação do mundo, então não sabia se você gostaria que ela soubesse algo tão importante sobre o restaurante... - A sous chefe estava cheia de conflitos internos e seu corpo demonstrava isso de forma bem clara. Desviava do olhar de Bianca a todo momento e suplicava silenciosamente para que sua cunhada a compreendesse, já que sabia que a empresária não o faria - E a Bia nunca se interessou muito pelo meu trabalho lá no Bicalho's também, então nem sei se teria oportunidade - Gizelly não sabia de onde tinha vindo aquela última frase, mas sabia que para a baiana ter dito aquilo, é porque não era algo recente, e sim que era algo que havia se amontoado ao longo do tempo. 

Bianca encarava a esposa estática, sem qualquer capacidade de reação àquela alfinetada de Mari. Não esperava uma resposta daquela e, menos ainda, o tom amargo que pôde perceber na voz de sua amada. Doía, mas imaginava que para a baiana doía ainda mais. Estava falhando como esposa, e aquela frase era um aviso.

- Bom, eu nunca pedi para você não contar porque pensei que vocês duas dividissem tudo, mas já que esse não é o caso... Agradeço por pensar nas minhas vontades, Mari - Ofereceu um sorriso tímido para a mais nova, que retribuiu. O agradecimento de Gizelly era sincero, não esperava que a sous chefe sequer pensasse em seus interesses quando o assunto era sua irmã, pensava que, por serem almas gêmeas, nada era oculto no relacionamento delas. Mas estava errada e a cara de cachorro sem dono que a mais velha fazia à sua frente entregava que Mariana não estava mentindo em sua afirmação sobre ela não se interessar sobre seu trabalho. 

- Enfim, continue a história, você parece estar preocupada com isso... - A questão é que Mari a conhecia muito bem e a lia como ninguém, por isso percebeu a angústia nos olhos de sua chefe. Ela não havia contado aquele fato por nada, e agora as outras duas na sala estavam curiosas sobre o motivo.

- Claro... então, após alguns meses de processo, minha advogada convenceu o advogado da pessoa que havia aberto esse processo de que ele era completamente descabido, e que eles com certeza perderiam caso resolvessem ir adiante. Foi aí que ela descobriu quem era a responsável por esse auê todo - Respirou fundo antes de continuar; falar aquele nome em voz alta faria de sua teoria uma teoria válida, e isso era a última coisa que queria. Mas não podia deixar a irmã correr o risco de ser prejudicada, ainda mais por aquela mulher - Ângela Bicalho - Aquele nome deixava um gosto amargo em sua boca e desejava nunca mais ter que dizê-lo. 

No Words - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora