Flashback V: Uma pintura de ti

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Inglaterra, 1650

Aos sons de uma terrível tempestade, que parecia engolir a pequena vila onde estava, Niklaus encarava a grande tela em branco à sua frente. Um pincel em sua mão direita e um pequeno pote de tinta na outra aguardavam ansiosamente para serem utilizados.

Em sua mente, Niklaus lutava contra seus próprios sentimentos. Sabia o que queria pintar. O que queria deixar guardado em uma tela para que jamais pudesse se esquecer. Sua mente o dizia para não fazer aquilo. Não se entregar aos seus sentimentos. Não voltar a ser o fraco Niklaus que fora antes.

Faria mal se entregar àquele sentimento só daquela vez mais? Niklaus podia sentir aquela bela memória se esvair lentamente de sua mente. Limpou a lágrima solitária que escorria por sua bochecha. Ao seu lado, estavam as cores que havia escolhido para pintar aquela dolorosa memória.

Mergulhou o pincel em uma das tintas de tons claros e começou pela pele, formando a base para rosto perfeitamente moldado. A chuva ao lado de fora aumentava sua intensidade. Niklaus começou a adicionar os tons mais escuros e mais claros para contornos e iluminações. Em poucos minutos, o rosto de Anastasiya começava a ganhar vida, com suas bochechas rosadas e cheias de sardas.

Niklaus escolheu um dos pincéis mais finos que tinha e misturou algumas cores para criar o tom perfeito de verde que a garota continha em seus olhos. Depois de adicionar os detalhes que se lembrava, Niklaus sentia-se encarando a amada novamente.

Correu o pincel pela tela e com um tom alaranjado começou a pintar o mais belo cabelo que havia visto em todos os séculos que passara vivo. Seus olhos estavam atentos e sua mente trabalhava a mil por hora para se recordar de todas as memórias possíveis que tivera com Anastasiya. Queria deixar aquela pintura a mais perfeita possível e que sua técnica o permitia.

Os raios e as trovoadas no céu pareciam querer acompanhar a intensidade dos sentimentos de Niklaus naquele momento.
De repente, o pincel parou ao se aproximar de um tom azulado na mão do rapaz. A frustração subiu por sua espinha, quando Niklaus percebeu que não conseguia se lembrar do vestido azul favorito de Anastasiya.

Encarou a pintura à sua frente e levou as mãos sujas de tinta ao rosto. Fechou os olhos e tentou imaginar o que Anastasiya lhe diria. Sua mente o permitiu viajar para uma de suas memórias mais felizes com a garota. Chovia, como naquele dia, com a diferença de que não relampejava e o Sol não se escondia atrás das nuvens.

Niklaus lembrou que Anastasiya usava o vestido azul, que fora presente de seu pai. A menina parecia mais feliz do que nunca naquele dia. Passeavam pelo jardim, um dos lugares favoritos de Anastasiya, atrás apenas da biblioteca que a garota tinha em casa. Os pingos fracos da chuva escorriam por sua testa, encharcavam seu cabelo e roupas, mas a menina não se importava. Estampava um grande sorriso em seu rosto.

O homem não conseguia lembrar um motivo exato para Anastasiya estar tão feliz naquele dia. Talvez, ela só tivesse acordado daquela forma, mas ver o sorriso em seu rosto era tudo o que o coração de Niklaus precisava para manter-se aquecido. Anastasiya pulava e girava pelo jardim, enquanto algumas flores e plantas agarravam em seu vestido.

Niklaus apenas assistia de longe, rindo, mas Anastasiya logo o puxou para uma dança debaixo da chuva. Naquele dia, molhados pela água que caía do céu, jamais imaginaram tudo o que iria acontecer. Tudo o que iriam perder.

O homem afastou a memória de sua cabeça e limpou outra lágrima. Mergulhou o pincel na tinta azul e o levou novamente até a tela. Havia lembrado como era o vestido. Enquanto pintava, sentimentos ruins voltavam gradualmente. Niklaus nunca aceitou o que havia acontecido. Enquanto Elijah enganava a si mesmo acreditando que Anastasiya havia tido uma vida feliz, Niklaus era incapaz de ignorar as más sensações. Era como se algo estivesse errado.

Outro pincel foi escolhido, daquela vez um mais fino, e Niklaus começou a fazer os poucos detalhes que conseguira recordar. Sua cabeça já se ocupava pensando em qual livro o rapaz pintaria nas mãos de Anastasiya.

Algumas horas mais tarde, todos os detalhes haviam sido aplicados, e Niklaus sentia-se plenamente satisfeito com o que havia feito. Sentia que agora, por mais que sua mente insistisse em tentar, ele jamais poderia esquecer do rosto de Anastasiya.

 Sentia que agora, por mais que sua mente insistisse em tentar, ele jamais poderia esquecer do rosto de Anastasiya

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Notas da autora: Essa foi a primeira manipulação que fiz deste tipo, então espero que gostem ❤

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