Flashback II: Anastasiya

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Apenas alguns dias depois de ter sido capturada por Mikael, Anastasiya começou a sentir os efeitos do que se tornara. Sem nada para se alimentar, segurando forte a carta de Niklaus na mão, o corpo da menina começara a se enfraquecer.

Semanas depois, Anastasiya quase não conseguia se mover. Sentia seus batimentos cardíacos diminuindo o ritmo gradualmente. A vida esvaindo de seu corpo. A fome e o desespero que cresciam sem parar.

Depois de meses, quase completamente imóvel, sua pele havia ganhado um forte tom acizentado. As poucas vezes que tinha força para abrir suas pálpebras, era quando escutava algum barulho do lado de fora da casa, esperando ser alguém que viera lhe ajudar. Nunca era.

Um dia fechou seus olhos, e assim permaneceu por longos meses, até que um gosto metálico familiar caiu em sua boca. Sem total controle de suas ações e emoções, Anastasiya segurou firme a fonte de seu alimento. Bebeu todo o sangue até que não restasse nada para ser sugado. Foi quando percebeu que mordia o pescoço de uma mulher, talvez alguns anos mais velha que Anastasiya.

O corpo da mulher à sua frente caiu em seus pés, aterrorizando a menina. Ergueu os olhos espantados para cima, esperando que fosse apenas um pesadelo, mas avistou algo pior. Mikael estava na sua frente, parado, apenas a observando, com um ar maléfico a sua volta. Apesar de tudo, Anastasiya ainda temia sua morte. E, sentada ali, totalmente indefesa, sentia que sua hora havia chegado.

Mikael se aproximou, agarrando o rosto da garota com força, fazendo-a se levantar, e começou a encará-la, deixando-a assustada. Anastasiya tentava pensar em uma maneira de livrar-se de alguém tão mais forte que ela, quando Mikael falou:

─ Onde meus filhos estão? ─ perguntou, com raiva em sua voz, olhando no fundo dos olhos de Anastasiya. ─ Você sabe de algo, não sabe?

Apesar de não saber nada, Anastasiya não sentia vontade de lhe responder. Tentou desviar seu olhar, mas Mikael a segurou com mais força, pondo uma estaca de madeira pressionada contra seu peito, onde ficava o coração.

─ Este pedaço de madeira é capaz de matar gente como você. Eu poderia matá-la agora. ─ avisou. ─ Onde eles estão? ─ perguntou, compelindo-a.

─ Eu não sei. ─ respondeu, aproximando-se de Mikael, tentando mostrar que não sentia medo do homem à sua frente.

Mikael pareceu se irritar mais, e Anastasiya temeu por sua vida quando sentiu a ponta da estaca perfurar sua pele. O homem se afastou bruscamente, fazendo a menina soltar o ar que nem havia percebido ter prendido.

─ Vamos. ─ falou, segurando seu braço com força. ─ Aqui não é seguro para você.

─ Por quê? ─ perguntou Anastasiya assustada.

─ Você é uma arma. Uma importante arma. ─ falou, puxando Anastasiya para fora da casa. ─ Precisa ficar em um lugar onde jamais poderão te achar e aqui é muito óbvio. ─ respondeu, usando sua velocidade em seguida para se afastar o máximo que podia da antiga casa.

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Após meses presa em um barco ao lado de Mikael e algumas outras pessoas, Anastasiya finalmente havia chegado ao que o homem um dia chamou de lar.

─ Não importa para onde você me leve, alguém irá me encontrar um dia. ─ falou Anastasiya.

─ Como podem procurar por alguém que ninguém sabe que está desaparecido? ─ perguntou Mikael, guiando Anastasiya por dentro da floresta.

Quando enfim chegaram a algum lugar, Mikael a compeliu para que não fugisse, e voltou horas mais tarde, puxando uma mulher pelos braços e, às vezes, pelos longos e escuros cabelos ondulados. Mikael a segurou pelo pescoço e lhe falou algo que Anastasiya não pudera entender. Era outro idioma. A mulher, aterrorizada, parou em frente a cabana e fechou seus olhos, falando algo em outro idioma, igualmente desconhecido para Anastasiya.

A garota sentiu o ar ao seu redor mudar, como se tivesse ido para outro lugar em segundos. Viu luzes fracas descerem pelas paredes e se encontrarem no chão.

Ao terminar, a mulher pronunciou palavras raivosas para Mikael, que agarrou seu braço e retrucou no mesmo tom. Anastasiya observava tudo pela porta, que fora compelida a não ultrapassar. Sentia que Mikael poderia ter matado aquela mulher, mas talvez fosse precisar dela outra vez, pois a deixou partir, diferente do que fez no ano anterior, ao matar a outra mulher.

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