Capítulo 15: Mil anos depois

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Suas pálpebras pesadas se abriram lentamente quando sentiu um líquido quente cair em sua boca. Fazia tanto tempo que havia se alimentado, que Anastasiya era incapaz de se mover. Sua pele tinha um forte tom de cinza e seus ossos marcavam todo o seu corpo. Seus batimentos cardíacos eram quase inexistentes.

Há quantos anos estaria presa ali? Há quantos séculos? Niklaus ainda se lembraria dela como prometera? Conseguiria ela superar todo o sofrimento que passou um dia? Ela iria sair dali?

Mais sangue caiu em sua boca e a menina começou a retomar os movimentos lentamente. Quando já estava forte o suficiente, agarrou o pulso à sua frente. Sugou todo o sangue necessário para se recuperar e abriu os olhos. Um corpo caiu a sua frente, mas Anastasiya ainda ouvia seu coração bater.

Aqueles sons altos, os sentimentos mais fortes que o normal. A menina ainda não sabia quase nada sobre o que se tornara. Mikael apareceu apenas algumas vezes em todo aquele tempo, mas nunca lhe respondia nada.

Sentiu algo diferente em seu corpo. Aquilo que a prendia antes havia desaparecido. Mikael estava, enfim, morto. Usando toda sua velocidade correu para fora da casa, mas logo voltou ao perceber que se queimara. Fortes queimaduras em seu corpo começaram a curar rapidamente.

O corpo caído ao seu lado começou a se mexer. A pessoa estava acordando. Era um rapaz alto e de cabelos pretos. Anastasiya percebeu que a ferida em seu pulso havia sumido. Aquele homem era igual a ela. Antes que pudesse perguntar qualquer coisa, o rapaz enfiou um pedaço de madeira em seu coração. Sua pele, antes bronzeada, se acizentou, seus olhos castanhos perderam a cor e seu rosto a expressão. O rapaz caiu ao chão e Anastasiya já não ouvia mais seus batimentos cardíacos.

A menina ficou alguns segundos observando o homem morto aos seus pés, mas lembrou-se de que o rapaz podia caminhar do lado de fora. O problema era ela. Buscou em sua memória lembranças com Niklaus, Elijah e seus irmãos, e percebera que eles também não tinham problemas com queimaduras.

Anastasiya fez outro teste. Caminhou até a porta e pôs o pé para fora. Não se queimou, significando que poderia sair. Continuou caminhando em direção à varanda, quando um raio de luz passou por sua perna e a queimou. A menina se afastou e pôs a mão na luz do Sol. O problema era o Sol.

Anastasiya queria fugir dali o mais rápido possível, mas teria que esperar até o pôr do Sol. Entrou em desespero, quando começou a pensar: "- Você esteve presa aqui por séculos. Um dia a mais não lhe fará mal." Então, a menina se sentou ao lado do rapaz morto e começou a observá-lo. Sentia-se mal pela morte do homem e se arrependia de não tê-lo tentado impedir. Afinal, não sabia o que o rapaz estava prestes a fazer com a própria vida.

A menina percebeu que suas roupas eram diferentes de tudo que já havia visto. Ohou para seu corpo e percebeu que ainda vestia as mesmas vestes de quando fora morta pelo Conde de Durand. Seu vestido estava rasgado e deteriorado. A bela cor havia sumido séculos antes. Nem mesmo o sangue por toda sua roupa podia ser facilmente reconhecido agora.

Olhou as mãos do rapaz e percebeu um belo anel em seu dedo. Rapidamente, levou a mão ao colar dado por Niklaus em seus últimos dias juntos. Ainda estava lá. Praticamente perdera toda a cor. A bela pedra verde já não brilhava mais, mas estava lá. Infelizmente, a carta de seu amado não existia mais há muito tempo, mas a menina havia decorado cada palavra e cada sentimento do pedaço de papel.

Ouviu o barulho de algo que vibrava na roupa do homem morto. Sentia medo de procurar o que era. Estaria desrespeitando o corpo, mas, quando a coisa voltou a vibrar pela terceira vez, não se aguentou e procurou. Achou, em um pequeno compartimento de sua calça, um objeto desconhecido. Brilhava forte, fazendo os olhos de Anastasiya arderem, e tinha palavras escritas as quais a menina não entendia. Parecia ser outro idioma.

Uma música animada e muito alta começou a sair do objeto, assustando a menina. O som alto fazia sua cabeça doer. Apesar de ter passado tanto tempo escutando vários sons ao seu redor, aquele era o mais alto e irritante que a menina já havia escutado. Quando o barulho passou, pegou o objeto e tentou mexer no mesmo. Arrastou o dedo por todos os lados, fazendo várias coisas dentro do objeto se mexerem. O som alto voltou e a menina se irritou, não só pelo som, mas também por não ter entendido o que era aquilo, e jogou o objeto com força na parede.

A cabana voltou ao seu silêncio normal e a garota sentiu a angústia querendo voltar para sua mente. Fechou seus olhos e lembrou de sua família, de Niklaus e de Elijah. Uma lágrima caiu de seus olhos ao lembrar que todos os seus parentes já estariam mortos. Sabia que jamais veria a irmã novamente. Sentia a presença de Niklaus e seus irmãos, mas precisaria lutar para não encontrá-los jamais.

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