Prólogo

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— Não quero te assustar, mas... — suspirou — Seojun acabou de sofrer um acidente — minha irmã falou mais baixo, provavelmente esperando receber todos os tipos de xingamentos.

— Como? — Sentei-me na cadeira devagar enquanto tentava processar a informação.

— Seu filho acabou de quebrar a perna, (s/n). Vem pra cá agora! — Desligou a ligação.

Encarei o porta-retrato que exibia os sorrisos verdadeiros dos meus dois filhos e senti um enorme aperto no peito. Peguei a minha bolsa e corri até o exterior da loja sentindo minhas pernas tremerem exageradamente. Fingi não ouvir todos os questionamentos dos funcionários para mim enquanto eu passava pelo interior do estabelecimento, eles queriam saber se eu estava bem ou não. Aquilo era óbvio para quem me visse, eu estava desesperada.

— Meu filho quebrou a perna — sussurrei apertando o botão do controle para destravar o carro. Por sorte naquele dia eu havia usado o estacionamento dos clientes e poderia sair mais depressa dali. — Respira, você precisa dirigir — prendi os cabelos em um rabo de cavalo torto e ocupei o banco de motorista. Fechei os olhos por um minuto e após respirar fundo, dei partida para chegar em casa o mais rápido que podia.

— Dói — Seojun dizia em meio ao choro desesperado. Larguei a bolsa no chão e corri até ele que se contorcia no sofá.

— Filho! Não se mexe mais, tudo bem? — O mais novo esticou os bracinhos em minha direção e me agarrou pelo pescoço. — Eu estou aqui, vamos resolver isso — olhei para a minha irmã enquanto pegava Seojun nos braços. — Por que não o levou para o hospital?

— Estou nervosa, não sei o que fazer. Você é a mãe e...

— Qualquer pessoa sabe que a primeira coisa a se fazer nessa situação é ir ao médico, mas tudo bem — balancei a cabeça negativamente e caminhei rapidamente até a porta. — Olha a Hyunae, por favor — ela assentiu e pegou a minha bolsa no chão, colocando-a em meu ombro logo após.

— Me dê notícias — pediu.

Seojun chorava alto durante o trajeto e aquilo me deixava ainda mais nervosa. Eu não tenho tanto controle quanto gostaria, sou do tipo que choro com o choramingo dos outros e me desespero em situações que oferecem risco; sim, essa é uma péssima maneira de ser. Taehyung, meu ex-marido, sempre criticou o meu modo "precipitado" de agir e não poupava as caretas para mim nesses momentos.

— Ele quebrou a fíbula — o médico disse enquanto me mostrava o raio X. — Seojun vai passar por cirurgia. Você não deveria ter trazido ele até aqui, correu muitos riscos.

— Eu... Eu agi no impulso — mais um ponto para Kim Taehyung e suas críticas. — Mas ele vai voltar a andar normalmente?

— Claro. Depois de um período de recuperação e fisioterapia seu filho estará correndo por aí e jogando futebol novamente. Ele se acidentou durante esse tipo de esporte, não foi?

— Não sei, mas acho que sim. Ele gosta bastante de futebol — suspirei. — Quanto tempo de recuperação?

— Olha, estimo que dentro de um ano ele esteja bem e andando — retirou os óculos. — Mas não é certeza, cada paciente tem o seu modo de reagir, possa ser que ele se recupere antes ou um tempo depois.

— Entendo. Eu posso vê-lo?

— Não, Seojun já está sendo preparado para a cirurgia. Ele chegou muito nervoso e após o exame nós decidimos medicá-lo, a senhora não falaria com ele de qualquer modo — me encarou. — Desculpe estar avisando agora, mas é que tivemos que agir rapidamente. Ele é muito novo e a dor acaba parecendo ser maior — riu fraco.

— Como funciona o pós-operatório?

— Seojun vai precisar de uma casa acessível, pois irá ficar um tempo de cadeira de rodas. Depois migrará para muletas e assim seguiremos com o tratamento — rapidamente pensei na escada da minha casa, nos degraus para ter acesso a alguns cômodos... Fodeu.

— T-tudo bem — assenti freneticamente e levantei para sair da sala. — A cirurgia será agora?

— Sim, vou até lá agora.

— Certo — sorri brevemente e saí dali pegando o meu celular com pressa na bolsa. Precisava de uma saída. — Candice.

— Me acordou — disse baixo.

— Você conhece alguma casa que seja adaptada?

— Para?

— Deficiente.

— Claro que é para deficiente, mas quem quer?

— Eu.

— Por quê?

— Depois te explico. Tem ou não?

— Posso procurar — ela era corretora e uma amiga que se mostrou ser de verdade em alguns momentos ruins em minha vida. — Espere um minuto — e cerca de dez minutos depois, Candice retornou a ligação dizendo que não tinha esse tipo de residência. Havia vendido uma no mês passado.

— Estou fodida — murmurei apoiando a cabeça na parede atrás de mim. Seojun precisa de conforto e eu não posso dar. O quão desgraçada é essa situação?

— É sério que o meu filho se machucou e você nem sequer me ligou para dizer nada? — a voz grave de Taehyung ecoou alta pelo corredor e instantaneamente fechei os olhos, preparando-me para mais uma discussão.

— A última coisa que eu lembraria enquanto visse o meu filho chorando de dor era ligar pra você — respondi de imediato, levantando-me. Taehyung passou as mãos pelo rosto e concordou com a cabeça.

— Onde ele está?

— Passando por cirurgia — ele arregalou seus olhos e eu não esperava, mas fui surpreendida por mim mesma e chorei em sua frente. — Estou preocupada, será que ele vai ficar bem?

— Claro que vai — aproximou-se para me abraçar e eu não hesitei em correspondê-lo. — Vamos ser práticos — separou-nos. — O que Seojun precisará quando sair daqui? Eu providencio tudo — uma chama de esperança se acendeu em meu peito. Por mais que não quisesse mais uma ajuda de Taehyung, eu não poderia negar isso ao meu filho.

— Consegue uma casa acessível para ele? Seojun vai ficar um tempo de cadeira de rodas.

— A minha casa — respondeu rapidamente. — Você sabe que eu tenho um primo cadeirante e ele passa umas temporadas na minha casa por causa do seu tratamento.

— Eu havia esquecido disso — encarei-o e sorri. — Mas... Só tem um problema — ele me olhou em confusão. — Eu terei que ir junto — Taehyung riu soprado.

— Então venha. Em momento algum quis distância de você.

— Nós brigamos muito, isso pode fazer mal ao Seojun. E também tem a Hyunae — nos olhamos por um instante.

— Você sabe que eu não tenho nada contra ela, sempre te disse que Hyunae era como uma filha — me olhou sério. — Eu a amo apesar de ela ser filha de quem é — passou a mão pelos cabelos escuros. — Acredito que não fui um padrasto ruim.

— Não, você foi maravilhoso.

— Sendo assim, peço que você more na minha casa com eles. É para o bem de Seojun.

— Você... Hm... Você estará lá também?

— Claro — riu, olhando-me com o cenho franzido. — É a minha casa.

Por que agora me parece que a situação não melhorou? Eu sei que vai ser maravilhoso para Seojun, já que ele vai estar perto do pai durante a sua recuperação, além de passar um bom tempo em uma casa extremamente confortável e luxuosa, mas e para mim? E os meus sentimentos sobre Taehyung? Eu sei que não deveria, mas ainda gosto dele. Saberei lidar com isso?

— Tudo bem — sorri abertamente, mas por dentro o nervosismo me consumia.

Não tenho como sair dessa. O jeito é enfrentar e buscar sair daquela casa ilesa, sem ter o meu coração partido por ele novamente. 

Sob o mesmo teto | jjk; kthOnde histórias criam vida. Descubra agora