Pai intolerante

1.9K 217 179
                                    

(S/N)

Eu ainda não acredito que ouvi tudo aquilo. O desespero tomava conta de mim e, a cada minuto que se passava, a possibilidade de perder os meus filhos se tornava ainda mais real. O caminho de volta para casa foi longo e torturante, tive que parar diversas vezes durante o trajeto para chorar e buscar me acalmar. Depois daquele encontro maldito, eu fui obrigada a ligar para Robert e pedir para não ir trabalhar hoje. Usei a desculpa de que um familiar havia morrido; o que não era totalmente mentira, já que a partir daquele momento o meu pai morreu para mim.

— Amor, por favor, fala alguma coisa — Tae pediu com calma, mas eu sabia que ele estava nervoso e queria saber o que houve com urgência. — Assim você vai me deixar ainda mais preocupado.

— Ele tentou algo com você? Tentou te beijar à força? — Jeon perguntou enquanto tentava enxugar as minhas bochechas.

— Não — falei com dificuldade pelo choro. Eu tinha que conseguir contar tudo, mas ficava cada vez mais difícil quando me lembrava da conversa que tivemos. — E-Era o meu pai — minha voz saiu baixa, mas eles ouviram. Os dois se entreolharam e Tae suspirou, sentando-se ao meu lado; assim como Jeon.

— Ele se passou por um cliente? — O mais velho perguntou e eu apenas assenti. Precisava contar o que aconteceu naquela padaria o mais rápido possível. — E você está assim por que o reencontrou, não é? Há muito tempo não se veem e você provavelmente deve estar se lembrando dos momentos que ficou sem ele — enxuguei o meu rosto com o cobertor enquanto negava com a cabeça. Antes fosse isso.

— Não? — Jungkook tinha o cenho franzido, assim como Tae. Respirei fundo na tentativa de falar com clareza em seguida. — Então o que houve, amor?

— Meu pai sabe sobre nós — alternei o olhar entre os dois. — Minha irmã, sem querer, contou no meio de uma conversa com ele.

— Droga — Tae murmurou. — Ele disse coisas duras a você?

— Disse — afirmei, lembrando-me automaticamente daquele momento horroroso.

"— Eu sempre imaginei que as minhas filhas fossem se casar e construir uma família descente, mas primeiro você estraga tudo tendo dois filhos com pais diferentes e agora... — ele se interrompeu e riu sem vontade alguma. — Agora você decide morar com os dois pais dos seus filhos? Isso é o quê? Algum tipo novo de prostituição? Vocês transam juntos e fica tudo certo depois?"

"— Sua irmã é o meu orgulho, ela namorou um rapaz sério e de boa família. É uma pena que ele tenha morrido, pois os dois construiriam uma família bonita. Mas você, (s/n)... Hoje você é a minha maior decepção. É maravilhoso saber que a minha filha mais nova não vai seguir os seus passos porque ela está bem longe daqui."

"— Eu olho para você agora e vejo uma... — suspirou. — Vejo uma mulher depravada. Não é mais a minha filha que está aí, é só uma mulher que não sabe se valorizar e que serve para ser o brinquedinho de dois homens. Dois homens."

"— Olha, hoje eu agradeço a Deus pela morte da sua mãe. Se ela estivesse viva, morreria de desgosto hoje mesmo."

— Ei, pare de chorar — Jungkook me abraçou de lado. As lembranças de horas atrás vinham com força. As expressões de nojo do meu pai eram fortes em minha memória. Eu nunca fui tão humilhada. — O que ele disse? — Neguei com a cabeça, não sabia se conseguiria externar.

— Amor, isso vai ser bom para você e nós poderemos te compreender melhor se fizer isso — Taehyung explicou alcançando a minha mão para apertá-la. — Tente.

Aos poucos fui pondo para fora todas as palavras que o meu pai jogou contra mim. Jungkook estava visivelmente irritado e às vezes levantava para ir até a janela, acredito que na intenção de buscar se acalmar. Taehyung me ouvia atentamente e em silêncio, porém a sua mandíbula tensa evidenciava que ele estava da mesma forma que Jungkook; só que procurava disfarçar para não me deixar ainda mais nervosa.

Sob o mesmo teto | jjk; kthOnde histórias criam vida. Descubra agora