Fugas para liberdade

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Você algum dia já deve ter ansiado possuir riqueza, fama ou apenas ser alguém muito importante num determinado cargo. Bem, digamos que eu seja todos eles juntos, e não é nada legal da forma como se imagina.

Sou o príncipe da região sul. Minha família vêm passando de geração para geração uma tradição real que combinam os poderes e a magia de espadas sagradas, das quais distribuíram-se ao redor do país, parando em cada reino. Agora que cheguei à idade adulta, teria posse de uma das espadas mais poderosas.

A cerimônia de recebimento é hoje, mas eu fugi. Sim, e não é a primeira vez que faço isso. A vida no castelo é um saco, sempre cheio de afazeres reais que parecem não ter fim, treinos, reuniões; não se pode fugir do padrão nem por um minuto e isso me deixa frustrado, então sempre que consigo uma oportunidade de distração, escapo por horas.

- Oh, é o príncipe, bom dia, vossa alteza - curvavam-se algumas camponesas, segurando pacotes com pães.

- Bom dia, madames - sorria, caminhando calmamente por uma das ruas mais movimentadas da grande vila.

- Com sua licença, permita-me fazer uma pergunta - pediu a mais alta, olhando para baixo.

- Mas é claro - respondi, parando à sua frente.

- Ontem o reino anunciou que hoje seria seu recebimento da magnífica espada. Deverias estar no palácio neste horário, não?

- É, bem, eu...quis dar uma volta por aí, só - cocei a cabeça.

- O príncipe é tão aventureiro - notou. Assenti e segui caminho, até parar num bar.

- Aí eu disse assim pra ele: pode até ser verdade, mas é mentira! - falou uma moça sentada no balcão, segurando uma garrafa de cerveja, rindo muito com outros caras ao redor. Foi assim que tive a primeira impressão de Rouge, a prostituta mais conhecida da cidade.

- Olá a todos - saudei, adentrando o local.

- Príncipe?! - os rapazes foram se acomodando e curvando-se, porém a morcega permaneceu na mesma posição, com as pernas cruzadas - O que o traz até o nosso humilde e insignificante bar, alteza? - perguntou um deles, nervoso.

- Não fale assim de seu bom estabelecimento, cidadão. Estava apenas de passagem.

- Então, se não é o futuro rei Sonic - a personagem de peitos avantajados caminhou até mim, ela certamente estava um pouco bêbada - Não era pra estar numa reunião de recebimento? Hoje é um dia importante para o povo, e o que você faz? Sai correndo por aí? - apontou o dedo para meu focinho. Seu atrevimento me deu tentação de riso.

- Não és a primeira a me avisar à respeito, madame.

- Madame meu cu! É senhorita Rouge pra você, meu bem.

- Rouge! - repreendeu um dos moços - Mil perdões, alteza, ela está fora de si, por favor, nos perdoe.

- Está tudo bem - balancei as mãos - eu já vou indo. Foi um prazer conversar - todos me tratam quase como um Deus e com bastante cordialidade, porém Rouge foi ousada àquele ponto. Agora que sei qual bar esta frequenta, virei mais vezes por aqui.

No caminho de volta, passei e colhi algumas flores. Chegando no castelo, era de se esperar um sermão.

- Você desrespeitou a tradição da nossa família, faltou com respeito a todos os presentes pelo atraso e ainda chega nesse estado! - gritava minha mãe.

- Sim, mas...lhe trouxe flores - falei sem graça, as entregando, e ela encarou-me incrédula, jogando todas pelo chão.

- Você não pode mais agir feito uma criança! Seu pai e eu não aguentamos mais essa sua falta de senso e responsabilidade - ela respirou fundo - Vá logo se banhar e colocar sua melhor vestimenta, depois do recebimento continuamos esse assunto, ou os convidados reais perderão a vontade de aguardar mais por seu ridículo atraso.

Na minha cabeça, nunca estive errado, só queria poder viver normalmente, como um camponês, sem luxo, apenas uma pequena casa e o vasto campo, sem compromissos e regras ditadas, traçar aventuras mundo afora. Na visão dos meus pais isso sempre soou um absurdo, eu deveria aceitar que nasci do bom e do melhor, me preparar para assumir o trono e governar de maneira digna a região sul. É mais do que uma escolha, é meu destino.

Tirei os tênis cobertos de lama e pedi a uma das serventes que trouxesse-me novos. Foi um banho rápido, depois pus as meias e tênis clássicos, corri para meu quarto, olhei para a mesa de cosméticos, com o espelho redondo na parede acima dela, admirei-me dando uma leve bagunçada nos espinhos, peguei um dos perfumes dali de aroma adocicado, espalhei-o pela cabeça e dei uma tossidinha. Abri o armário repleto, ignorando as vestimentas exageradas, pondo de fato o que mais gostava: uma capa. Costumo ficar com a vermelha e pelos brancos, junto de um dos modelos confeccionados de coroa.

- Pronto. Duvido meus pais reclamarem da minha aparência agora - olhei uma última vez no espelho antes de sair do quarto - Você é incrível, vai lá e arrasa! - pisquei para mim mesmo, sorrindo.

Girando a maçaneta e entrando pelo salão principal, me surpreendi com o tanto de convidados, realmente não era brincadeira. Ao perceberem eu ali, todos pararam de conversar e alinharam-se com o tapete vermelho, apenas fui caminhando em frente, e nesse meio tempo, todos se curvavam, incluindo príncipes e princesas dos reinos próximos. Hoje é mesmo um dia tão importante? Senti-me levemente culpado.

Sentei no trono que ficava ao lado do meu pai, que encarou-me sério, engoli em seco. As cornetas soaram e um mensageiro proferiu um largo texto introdutório, estava quase adormecendo quando ele terminou e um sinal que pusesse-me de pé foi indicado. Não sabia bem o que fazer, talvez eu tivesse prestado atenção no que ensinaram ontem.

De repente esse mesmo mensageiro, recebeu de um servente, uma caixa de vidro. Dentro dela havia uma espada extremamente bonita e dourada.

- Aproxime-se, alteza - pediu. E de frente aos demais tronos, ele abriu a caixa - Ela agora é sua por direito - disse. Eu, mesmo receoso, peguei ela, segurando com firmeza numa das mãos, quando um brilho intenso veio dela, me cegando e depois apagou-se.

- Viva o príncipe! Viva! - começaram a aplaudir todos.

Ocorreu uma festança depois disso, que teve término recém no início da madrugada. Haviam preparado tantos chili dogs em minha homenagem, que não pude nem com metade deles. Ou eu conversava com muitos, observava todos do trono ou passava comendo. Admito, foi super divertido, as festas eram os únicos momentos que eu gostava de passar dentro do castelo. Quando tudo acabou e não restava mais um convidado sequer, nem pensei duas vezes: fui para o quarto e me atirei sobre a cama, adormecendo.

 Quando tudo acabou e não restava mais um convidado sequer, nem pensei duas vezes: fui para o quarto e me atirei sobre a cama, adormecendo

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