ℂ𝕒𝕡𝕚𝕥𝕦𝕝𝕠 𝟜𝟜

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Any Gabrielly Rolim Soares

Quando o ônibus finalmente estacionou na rodoviária da cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, já passava das seis horas da tarde. Não foi fácil aguentar quase doze horas dentro de um veículo apertado e com poucas paradas, mas esse tempo sozinha, apenas com o barulho dos carros na estrada, foi bom para que eu pudesse refletir.

Talvez minha atitude tivesse sido um pouco impulsiva ao vir para uma cidade tão longe? Talvez. Mas essa foi a melhor opção. Pelo menos aqui, a quilômetros de distância dele, as chances de nós acabarmos nos encontrando são praticamente nulas. Aqui eu posso tentar refazer a minha vida, deixando de lado o meu passado obscuro.

Assim que desço do ônibus e pego a minha mala, vou para um ponto de táxi. Aguardo em uma pequena fila de pessoas até que eu chega a minha vez. Entro no veículo com a placa vermelha e me deparo com uma mulher asiática, com aparência jovem, e com os cabelos pretos bem lisos.

- Boa tarde. – ela diz simpaticamente – Para onde quer ir?

- Eu acabei de chegar na cidade. – explico – Você poderia me indicar algum hotel simples para eu poder passar a noite? – pergunto.

- Claro. Tenho uma amiga minha que é dona de um hotel estilo pousada. – ela conta – Tenho certeza que ela terá uma vaga para você.

- Seria ótimo. – digo e ouço a mulher dar partida no carro.

Durante o caminho até o lugar, minha mente é completamente tomada por lembranças dos últimos meses. Lembro-me de quando vi Josh pela primeira vez, no meio da rua, enquanto assistia uma briga de duas loiras que queriam ser as fiéis. Me recordo também de quando ele me encurralou na parede da saída do banheiro. Talvez a insistência dele tenha feito eu começar a me apaixonar.

Uma lágrima teimosa escapa quando os últimos momentos que passamos juntos tomam minhas memórias, principalmente o momento em que ele disse "eu te amo". Eu deveria saber que minha vida nunca seria normal como a das outras pessoas. Que eu nunca vou poder ser amada, tudo por causa do meu passado negro.

- Você está bem? – a motorista me pergunta, provavelmente notando minha lágrima e minha feição amuada.

- Vai ficar. – digo, tentando soar positiva, mas eu sei que essa dor no meu peito sempre me acompanhará. Só espero que eu aprenda a viver com ela.

- Você tem algum familiar, amigo ou conhecido aqui?

- Não. Eu estou sozinha. – sou sincera. Não quero mais mentiras em minha vida.

- Olha, eu sei que não nos conhecemos nem nada... – seu olhar encontra o meu através do retrovisor, transmitindo-me o pouco de calma que eu precisava - ...mas se você precisar de qualquer coisa, nem que seja só desabafar, pode me ligar. – ela fala e me entrega um cartãozinho com seu nome e seu telefone celular.

- Muito obrigada... Hina? – digo seu nome com um pouco de insegurança.

- Isso. – ela sorri, reconfortando-me – Sou descendente de japoneses, por isso o nome diferente. – ela explica.

- Eu achei bonito. – digo.

- Obrigada. E o seu? – ela me questiona.

- Any. Any Gabrielly.

- Muito prazer, qualquer. – ela diz rindo, o que me faz rir também.

É tão bom poder rir e esquecer um pouco dos problemas, nem que seja por um curto período de tempo.

- Essa piada me persegue por onde eu vou. É automático, eu acho. – ficamos um tempo em silêncio – Você trabalha a muito tempo como motorista? – pergunto, fazendo de tudo para manter minha mente ocupada.

𝔸𝕕𝕠𝕣𝕒𝕧𝕖𝕝 𝕖 𝔸𝕞𝕒𝕣𝕘𝕒 𝕍𝕚𝕟𝕘𝕒𝕟𝕔𝕒 - 𝔹𝕖𝕒𝕦𝕒𝕟𝕪 [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora