Primeiro Capítulo

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São Paulo, Capital - Inverno - 2020

A noite caia gelada e acompanhada de uma garoa fina nas ruas próximas à Praça da Sé, no Centro de São Paulo. Não se ouvia barulho algum e ninguém caminhava pelos arredores. Sem dúvida era uma dessas noites para se ficar em casa, embaixo das cobertas tomando uma bebida quente como café ou chá. O silêncio foi quebrado por um cantar de pneus. A chuva começou a apertar, o carro que freou era preto e grande, provavelmente de alguém de posses. Uma mulher loira, jovem, de olhos azuis, vestida de maneira sensual, desceu do carro contando notas. A jovem guardou o dinheiro em seu sutiã, e esperou o carro partir para atravessar a rua. Ela morava no prédio em frente. Abriu a bolsa à procura das chaves. Sua ação foi interrompida com um toque em seu ombro.

- Você? - A loira arregalou os olhos ao ver a arma na mão de sua companhia. - Que é isso?! - Em resposta, a arma foi engatilhada, para desespero da loira. - Não! Pelo amor de Deus, pelo amor de Deus... Não faz uma besteira dessas! E...Tarde demais. Um estampido forte e seco cortou sua voz. Com um tiro no peito, a moça loira caiu no chão. Morta. O crime não estava completo, ainda faltava o toque final. O portador da arma agachou-se, virou o rosto da moça de lado e na face da vítima carimbou sua assinatura. Era mais um assassinato do Criminoso do Infinito.

(...)

Mais uma manhã fria em São Paulo. Aquele estava sendo um rigoroso inverno, muitos casacos foram retirados do armário. A detetive Gizelly Bicalho continuava com seu disfarce pelas ruas procurando por um culpado. A imprensa não dava descanso à polícia. Todos os dias era uma manchete enxovalhando o trabalho dos detetives da Homicídios de São Paulo por causa do Criminoso do Infinito.

O tal Criminoso do Infinito havia surgido há duas semanas, quando encontraram uma garota de programa morta com um tiro no peito e um símbolo do infinito marcado no rosto. Os ataques não aconteciam em um bairro específico e andava apavorando as prostitutas dos quatro cantos de São Paulo. O único padrão que Criminoso do Infinito seguia era um só, atacar quando estivesse chovendo.

Desde que a primeira prostituta assassinada tinha aparecido, Gizelly resolveu se infiltrar nesse universo para que pudesse conseguir uma pista, ou até mesmo chegar ao assassino. Prostitutas, por estarem a margem da sociedade pouco confiavam em policiais, eram capaz de ocultar informações importantes, daí a ideia de se disfarçar.

Aquele era um trabalho sério e importante, mas sempre que saia da delegacia em roupas curtas para se misturar entre as garotas de programa, Gizelly se sentia ridícula. Os colegas a respeitavam bastante, alguns tinha medo dela, mas, pelas costas morriam de rir. Aquelas peças não combinavam em nada com seu estilo. Tudo era muito apertado, o salto lhe doía os pés e a maquiagem só a irritava menos que as risadinhas dos outros policiais. Estava era farta de trabalhar em um local apinhado de machões. Os desgraçados haviam lhe apelidado de Gigi Furacão. Dava para acreditar?

- Qual é, seo Genilson? Você sabe que pode confiar em mim.

- Eu não sei nada sobre você, a não ser que se chama Jade, Jade.

- Você não pode me cobrar dez reais por um pão de queijo de ontem e um café ruim. Há irmãs nas ruas que cobram mais barato que isso!

Jade era o nome da personagem que Gizelly representava, havia sido escolhido por alguns colegas seus, pois segundo eles, Gizelly era a cara de uma atriz que tinha feito um personagem muito famoso com esse nome. Parte de seu disfarce era se comportar feito uma prostituta. Para compor Jade, Gizelly pensou em vários perfis de garotas de programa que poderia se inspirar e escolheu o da decadente. Era o mais comum de se encontrar pelas ruas do Centro da cidade. "Jade" continuava a pechinchar com Genilson. Sua esperança era que alguma garota de programa aparecesse no local para tirar alguma informação quente sobre os assassinatos.

Perícia do Amor - GicelaOnde histórias criam vida. Descubra agora