CAPÍTULO 28

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SARA

Acaricio os cabelos ruivos e sedosos de Clarice que deixa escapar algumas gargalhadas enquanto seus olhos verdes estão presos na tela da televisão onde passa um desenho qualquer.

Depois de ter aberto o jogo com Rodolfo eu fui buscar Clarice na escola e desde de então estamos juntas, emboladas em um cobertor quentinho para nos livrar do frio que veio junto com a chuva que não dá trégua.

Sempre fui uma grande apreciadora do sol e do calor, mas estranhamente estou me sentindo bem apenas em escutar o barulho da chuva caindo lá fora, pois sinto como se ela estivesse lavando minha alma e coração, me deixando mais leve, sorrindo como eu não sorria desde de quando Levi sumiu da minha vida.

Isso é um bom sinal certo ? Algo dentro de mim grita a pleno pulmões que SIM e eu estou feliz por estar escutando a voz que vem de dentro de mim e não aquela do desespero que o tempo todo estava me fazendo agir sem pensar.

- Mamãe. - olho para Clarice assim que escuto ela resmungar por mim. Só agora notando que ela esfrega os olhos, tentando lutar contra o sono.

- Oque foi, meu amor ?

- Agora será apenas nós duas ? Você não vai mais namorar o tio Rodolfo ?

- Sim, seremos apenas eu e você. - sorrio beijando sua bochecha enfeitada por pequenas sardinhas. - Está bom assim ?

- Não, mamãe. - como se já não sentisse mais sono, Clarice se levanta em um pulo do sofá, me olhando séria enquanto tenta afastar sua franja para longe dos olhos. - Está faltando alguém, mas enquanto ele não chega não irei me importa de ser apenas nós duas. Gosto do tio Rodolfo, mas não quero que ele volte a ser seu namorado.

- Clarice, não está faltando ninguém, nossa família já está completa. Eu e você formamos ela e tenho certeza que seremos muito felizes. Você não está feliz ?

- Estou, mas é que eu queria ter alguém para chamar de papai. - abandono o sofá para ir até minha pequena que agora está cabisbaixa, olhando insistentemente para o chão enquanto move suas mãos sem parar. Pega em suas mãozinhas nervosas trazendo agora seu olhar para mim.

- Você pode chamar o vovô Hector de pai, tenho certeza que ele não vai se importar.

- Não é a mesma coisa, mamãe, eu gosto do vovô Hector, mas não vou conseguir chamar ele de pai. Quero que o príncipe seja meu pai.

Solto uma grande lufada de ar, buscando manter a calma. Não há motivos para ficar nervosa, Clarice é apenas uma criança que assim como a maioria fala coisas movida a inocência que reina dentro de si, então mesmo que me incomode ela sempre trazer Levi em nossa conversa, eu irei ser paciente para aos poucos fazê-la entender toda essa situação.

- Clarice já conversamos sobre isso e você sabe que não há como isso acontecer.

- Eu sei, mas não acredito mamãe, tenho um motivo para continuar acreditando no meu sonho.

- Tudo bem... - mormuro cansada - Esse é o seu sonho, Clarice, mas não é o meu. Cada um acredita naquilo que seu coração manda e se o seu nutre a esperança que ele irá voltar está tudo bem, mas não se apegue muito nisso, não quero que sofra. - aperto sua bochecha, ganhando um sorriso terno em troca.

Não tenho o direito de destruir esse sonho dela. Cabe a mim respeitar os devaneios de Clarice.

- Agora acho que está na hora de você ir dormir mocinha.

- Já vou mãe, mas antes quero que me prometa uma coisa.

- O que você quiser meu amor.

Tudo Começou Com Um Olhar #2 Onde histórias criam vida. Descubra agora