Tudo Começou Com Um Olhar #2

CAPÍTULO 22

S A R A

Desvio meu olhar de Dora para direcioná-lo até Clarice que está lá fora brincando com seu cachorrinho recém adquirido. Suas risadas altas mostram o quanto ela está feliz em ter um bichinho de estimação para correr para cima e para baixo atrás dele. Meu pai realmente acertou em cheio no presente.

- Ela é uma graça, Sara... - volto a olhar para Dora, lançando para ela um sorriso orgulhoso e bobo por eu ser mãe de uma garotinha tão iluminada como a ruivinha lá fora. - Acredito que essa foi sua melhor escolha. Vocês duas realmente se amam.

- Não tenho dúvidas que sim.. - me levanto do chão, após juntar algumas coisas sem utilidades dentro de uma caixa de papelão. - Ela é minha melhor companhia e assumo que morro de saudades dela quando ela está na escola.

Dora se mostrava pronta para falar mais alguma coisa, mas assim que seus olhos pararam para ver oque tinha dentro da caixa em minhas mãos, ela me olha séria, arqueando de uma forma assustadora uma das suas sobrancelhas bem desenhadas. Eu sei muito bem oque ela irá dizer, mas não importa oque ela diga eu não irei mudar de ideia e sinceramente espero que ela me entenda.

Esse é o único jeito de matar de uma vez por todas a antiga Sara, ao longo dos meses eu consegui matá-la quase por completo e agora eu quero matá-la totalmente e para isso é preciso que eu me livre daquilo que mais me prende a ela, as lembranças e a ELE.

- Sara, eu não estou acreditando que você realmente está fazendo oque estou pensando. - incrédula ela vem até mim, querendo pegar a caixa das minhas mãos, mas eu me desvencilho antes dela conseguir pegar.

- Por favor, Dora, Você sabe que preciso fazer isso- mordo meu lábio inferior tentando a todo custo engolir o choro que entalou em minha garganta. Eu me proíbo de derramar uma única lágrima que seja. Eu já superei certo? Então não há motivos para chorar.

- Por favor, você Sara!! Por deus, você não está querendo matar a antiga Sara, mas sim querendo matar oque você FOI um dia. Você quer deletar uma parte da sua história que agora eu entendo que seja ruim, mas antes era algo bom, você não pode fazer isso, você não pode jogar todas essas tintas em um quartinho qualquer e trancafiá-las lá. Não pare de pintar, você ama se expressar através das tintas.

- Eu AMAVA, Dora, mas eu não amo mais... - levanto meu olhar até ela que solta um longo suspiro. - É difícil para mim pintar, eu....eu não consigo mais, sabe? E assumo que isso é uma idiotice, sendo que bem antes de conhecer Levi eu fazia quadros a todo vapor, sem precisar de alguém para me inspirar, mas ele chegou mudando isso e várias outras coisas em mim, ele quando entrou em minha vida me fez pintar quadros cheios de emoção, onde eu demonstrava tudo oque sentia, mas agora eu não sinto absolutamente nada a não ser incertezas e isso não é um bom sentimento para quem trabalha com arte.

- Você precisa tentar, não pode desistir assim. Oque irá fazer com aqueles quadros já prontos que iam para uma exposição ?

- Vou queimá-los. - falo firme, me orgulhando por não ter vacilado em uma única sílaba que seja.

- Você só pode está brincando... - como se oque eu acabara de falar fosse um grande absurdo, Dora joga as mãos para o alto em um ato de inconformismo ao mesmo tempo que balança repetida vezes a cabeça em discordância com minha decisão.

- Estou falando sério, vou queimá-los, assim como vou queimar tudo oque Levi deixava para mim a cada noite que passamos juntos. Não tente me impedir, eu não vou mudar de ideia, estou decidida a apagar todos os vestígios que indicam a passagem dele em minha vida.

- Você está sendo covarde e sabe por quê ? Você não superou coisa nenhuma, ainda dói muito em você não poder abraçá-lo. Você ainda o ama e agindo movida a um desespero silencioso, você força seu subconsciente a dizer que está bem, que tudo já foi superado, mas você sabe que mais uma vez está mentindo para si mesma. Não é assim que curamos nossas dores, Sara, você ainda pode se arrepender disso.