CAPÍTULO 23

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S A R A

Bato a porta de casa com força enquanto grito como uma louca, sentindo minha garganta doer, mas nem mesmo isso me faz parar de gritar. Sinto que preciso disso para tentar extrapolar a onda avassaladora de raiva que toma conta de mim, que corre a toda velocidade em minhas veias, me fazendo socar tudo oque vejo pela frente. Nada escapa da fúria que me toma. Sou uma fraca, uma covarde, eu sou uma grande idiota que continua não conseguindo tocar outro homem sem me lembrar daquele que me deixou a ver navios.

Eu não superei porcaria nenhuma, Dora está certa, eu posso até não chorar como antes, posso até não me sentar no sofá para ficar a espera de Levi, mas a verdade é que eu continuo presa ao passado. Eu continuo presa a um amor sem futuro.

O que houve comigo foi apenas uma ilusória aceitação, onde tolamente eu me forcei a acreditar que tudo está bem, que minhas feridas foram curadas, mas a verdade é que elas ainda estão doendo em mim, elas ainda sangram como nos primeiros dias.

A dor está me transformando em uma pessoa de emoções instáveis, sinto que a cada dia que passa vou me descontrolando mais, em algumas horas ajo como uma mulher decidida a seguir em frente, decidida a tentar olhar Rodolfo com outros olhos, mas um passo já é o suficiente para me fazer voltar atrás e agir como a Sara medrosa que sempre fui.

Oque mais me assusta é que mesmo estando estraçalhada por dentro, eu não choro mais, mesmo a dor me espetando cruelmente eu não me permito derramar uma única lágrima que seja, tudo oque faço é quebrar algumas coisas ou me sentar no chão em posição fetal e repensar em tudo, no quanto estou me transformando e deixando a desejar no meu papel de mãe.

Clarice merece todo meu carinho e apesar de amá-la com todas as minhas forças, quando fico mal como agora, eu não consigo encará-la, muito menos consigo fingir que está tudo bem. Por incontáveis vezes liguei para minha mãe pedindo para ela ir buscar Clarice na escola e levá-la para sua casa, minha menininha sempre fica feliz quando vai para lá, mas eu me sinto culpada por nem mesmo conseguir ter ela ao meu lado.

Eu não me reconheço mais, sinto que fui dividida em duas, onde uma parte ainda preserva a mulher que fui um dia e a outra parte possui uma personalidade desconhecida, tão instável quanto a mente de uma pessoa vivendo presa na loucura humana. Preciso desesperadamente me encontrar, mas como ? Eu não consigo sozinha!!

Me levanto indo pegar meu celular para mais uma vez ligar para minha mãe. Preciso que novamente ela vá buscar Clarice para mim, sinto que preciso de mais uma noite sozinha.

- Mãe... - falo baixinho, porém o suficiente para ser ouvida por ela.

- Eu sei, filha, irei buscar Clarisse, não precisa se preocupar.

- Como... - Fecho os olhos ao respirar fundo, buscando recuperar minhas forças que surpreendentemente sumiram. - Como sabe que estou ligando para isso ?

- Sou sua mãe, conheço você meu amor, não preciso de muito para saber que novamente você está triste, pensativa e com raiva, precisando de um tempo sozinha, assim como sei que você está com medo, mas acima de tudo culpada por não poder ficar com sua filha.

- Me desculpa, mãe. Eu estou tentando seguir com a minha vida, mas não está sendo fácil.

- Eu sei que não é meu amor, mas você não pode continuar dando um passo para frente e dois para trás. Eu sei que você ainda ama aquele homem, que você ainda lembra dele nas horas inoportunas, mas não é saudável viver agarrada a um fantasmas.

- Estou ciente que não, mamãe.... - sorrio sem humor quando meus olhos pararam no criado mudo e em cima dele vejo a correntinha que mandei Clarice guardar no quarto dela, mas que minha pequena em uma atitude teimosa, trouxe para o meu. - Eu...Estou com muito medo de ficar para sempre assim...

Tudo Começou Com Um Olhar #2 Onde histórias criam vida. Descubra agora