CAPÍTULO 29

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Um ano e meio depois

L E V I

Olho para minha casa sem saber ao certo oque estou sentindo por estar de volta ao local que durante anos presenciou o meu descontrole com bebidas alcoólicas.

Essa casa bonita, com grandes janelas de vidro foi a única telespectadora que em silêncio me viu caindo cada vez mais fundo em um buraco negro onde ninguém além de mim mesmo poderia me salvar. As paredes guardam para si cenas de um homem bêbado e fraco, que se lamentava por não conseguir lutar contra um forte demônio interior. Elas guardam cenas de um episódio desolador da minha vida, onde eu chorava a cada gole de bebida por querer tanto Sara e não poder tê-la como eu sempre quis.

Um sorriso triste nasce em meus lábios quando lembro da mulher que roubou meu coração para si. Eu vim buscá-lo, vim tentar recuperar o amor dela por mim, mas apesar de toda essa determinação, eu assumo que estou sendo mais uma vez castigado pelo medo diante das possibilidades e circunstâncias.

Sara pode estar com outro homem, lançando para ele seu sorriso bonito que antes era somente meu, ela pode estar casada, com filhos e isso faz o ar faltar em meus pulmões.

Tudo piora quando cogito a ideia de que ela já tenha me jogado no túnel do esquecimento para todo o sempre e que seu sentimento por mim seja apenas ódio e mágoa.

Não tiro a razão dela, durante minha internação em uma clínica de reabilitação, eu pensei muito na forma que usei para terminar tudo entre nós, na hora eu não vi, mas no silêncio do pátio gramado eu pude ver que terminar através de uma carta é uma atitude extremamente covarde.

Pensei também nas palavras de Rodolfo, onde ele me dizia que eu era um alcoólatra e não um covarde. Ele estava certo, mas minha mente entorpecida de álcool fazia meus olhos me verem apenas como um pobre coitado escravo da bebida, eu vivia me vitimizando, perdendo tempo com lamentações.

Se eu tivesse sido mais homem eu teria abrido o jogo com Sara, eu teria lhe mostrado o grande demônio que me atormentava, eu teria lhe feito entender que aquelas tremedeiras constantes e olhos avermelhados eram um sinal claro que meu corpo estava implorando por garrafas de bebidas, mas eu não fiz nada disso porque o medo de destruir Sara não deixou.

Tive medo dela não aguentar ficar ao lado de um homem como eu e no final de tudo vê-la no mesmo buraco escuro que eu me prendia. Em partes sei que fui covarde, mas também sei que poupar Sara de dias incertos e preocupantes foi um ato de amor.

Quem ama deseja proteger o outro, eu fiz isso com Sara mesmo que não tenha sido da maneira correta, mas eu fiz.

Solto uma grande lufada de ar quando estou bem no centro da sala, levando meu olhar a analisar tudo oque se encontra em meu campo de visão. Nada mudou, tudo continua exatamente igual até mesmo o porta retrato que eu joguei em cima da mesa de centro antes de deixar a cidade.

A passos calmos vou até meu quarto. Quando abro a porta não sinto mais aquele fedor de bebida que sempre me abraçava quando eu entrava aqui, oque vem ao meu encontro é somente o silêncio que me faz dar passos incertos para dentro do quarto.

O lençol preto da cama ainda está bagunçado, tendo sobre ele a toalha que usei para tomar banho antes de ir para longe daqui. No chão encontro minha jaqueta de couro. Quando entro dentro do closet, um soco de saudade atinge em cheio meu coração quando vejo a gaveta onde as coisas de Sara ficam guardadas aberta.

Eu não o deixei assim, alguém esteve aqui vasculhando as coisas dela, o vestido azul usado por ela na nossa última noite juntos está quase todo para fora da gaveta alimentando ainda mais minha suspeita.

Tudo Começou Com Um Olhar #2 Onde histórias criam vida. Descubra agora