Capítulo 48

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Boa leitura!

Martina Stoessel


A sensação é estranha. Eu sinto que estou traindo o Jorge, mesmo sabendo que não estamos mais juntos. O abraço termina e ele suspira, se desculpando. Posso sentir os olhares de muitas pessoas em nós. Afinal, eu fui a namorada do Jonathan por longos dez anos. É óbvio que ele vão especular e imaginar coisas impossíveis.

- Quando tudo acabar podemos ir na nossa cafeteria.- diz baixinho.

- Jonathan, aquela não é a nossa cafeteria. É apenas uma normal.- digo tentando não ser rude.

- Me desculpa. Eu realmente não queria que as coisas tivessem terminado dessa maneira.

- Que maneira? Você me traindo? As coisas acabaram há muito tempo, Jonathan. Você me perdeu quando começou a gritar comigo, quando mandava nas minhas roupas, quando me humilhava na frente dessas mesmas pessoas.

- Eu sei. Podemos falar sobre isso depois?

- Com certeza. Eu não sou idiota o bastante para perder o tempo aqui, ao invés de estar me despedindo da minha segunda mãe.

Saio dali e vou até a Tati, que está ao lado do caixão.

- Ele te importou? Se sim, me avisa que eu vou lá colocar ele no devido lugar.- pergunta brava, me fazendo rir do jeito como disse.

- Não, ele não fez nada.

Viro o meu olhar para a mulher serena que está nesse caixão. A mesma que eu considerei minha mãe por anos e anos.

- Me desculpa. Eu te abandonei, eu sei, mas o seu filho foi mau comigo. Ele fez coisas horríveis e eu sei que você não queria mais essa relação. Você sempre disse que eu merecia mais. Eu amo você por isso. Amo porque você esteve comigo quando eu mais precisei. Sabe o Jorge? Então, ele me faz tão bem. Tal como você disse. Infelizmente eu sou indecisa demais para ele. Mas eu não vou abrir mão dele. Vou lutar e conquistar o amor dele para mim. Eu te amo Flávia. Te amo mesmo e vou te guardar para sempre aqui dentro.- sussurro, apontando para o meu coração.- Você não vai se ver livre de mim. Obrigada por tudo, por cada beijo, conselho, momento, tudo.

Após dizer tudo o que tinha guardado, descanso a minha mão na dela e agurado pelos últimos momentos, quietinha, alisando seus cabelos.

As lágrimas saem involuntariamente e quando percebo estou soluçando. Olhares de pena são direcionados a mim, mas eu ignoro. Não quero pensar em ninguém e o que estão falando de mim.

Às 17:00 o seu caixão é enterrado. A dor me sufoca e eu estou ali, jogada no chão, ao lado do seu caixão, chorando compulsivamente.

Os braços do Jonathan estão cercados em mim, me protegendo. Ouço a sua voz dizendo que vai ficar tudo bem, mas eu preciso de uma única voz para me acalmar. Eu preciso dele. Preciso ouvir a voz do Jorge.

Quando todos vão saindo, eu me acalmo.

- Quer ir para casa? Vamos marcar outro dia para conversar. Quer que ele te leve até o Jorge? Por que ele não veio? A minha mãe sempre preferiu ele mesmo.- resmunga enciumado.

- A sua mãe sempre te amou muito, Jonathan. Ela só não aprovava algumas atitudes suas. E o Jorge não veio porque está morando em Seattle agora.

Sinto aquele aperto no coração quando digo isso.

- Nossa!- diz assustado.- E vocês ainda estão juntos?

- Sim.- minto.

- Você não gostava de relação à distância.

- Até precisar ter uma assim. Não vou abrir mão dele só porque ele foi embora temporariamente.- assim espero.

- Bom, pelo visto você o ama mais do que me amava.

- Jonathan.- suspiro, mas ele me interrompe.

- Outro dia, Martina. Posso te deixar em casa? Não acho que você esteja bem.

- Não precisa, você ia voltar como?

- Eu chamo um carro por aplicativo até aqui. Vamos lá, eu cuidarei do seu bebê.- brinca e eu sorrio levemente.

Após uns minutos de insistência eu deixo ele me levar até em casa.

- Obrigada por tudo. Eu quem devia estar te consolando.

- Não, eu sou forte. Você precisa muito mais. Eu estou aqui, Martina. Independe do nosso fim. Eu te amo e vou cuidar de você.

- Jonathan, eu..- sou interrompida.

- Como um amigo. Eu sei que o seu coração é dele. Sempre foi, você que não quis admitir.

- Eu jamais enganei você. Eu te amei Jonathan.

- Eu sei. Sei que a fiz feliz por um tempo, mas ele sempre foi o primeiro. No fundo do seu coração ele era o seu amor, apenas você não via isso. O mesmo acontece com ele. Sempre foi você, Martina. Não houve um momento em que eu duvidei disso. O Jorge sempre te amou, independente das mulheres com quem ele namorou.

- Eu preciso ir. Obrigada novamente.

- Podemos nos falar amanhã depois do seu trabalho?

- Pode ser.

- Na mesma cafeteria.- ele diz.

- Tudo bem. Tchau. Fica bem!

- Você também. Até amanhã!

Continua
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