Em um município paranaense, muitos fazendeiros e donos de usinas deixavam alguns de seus empregados viverem em suas terras em troca de seus trabalhos. Esses empregados recebiam ainda uma pequena quantia — o suficiente para permanecerem na miséria —, e nessa determinada região uma pequena família pobre que trabalhava em uma dessas usinas vivia sem o menor respeito pelo seu patrão. A mãe trabalhava na cozinha do Casarão onde os patrões viviam; o pai, nos canaviais, com a ajuda de seu único filho. O garoto tinha quinze anos na época e odiava aquele trabalho, assim como aquela escravidão, e odiava muito mais o seu pai. O jovem via os filhos dos patrões irem para a escola ou brincando por perto enquanto ele era explorado por pesados serviços ao lado do homem que sempre lhe destratou por ser ignorante e alcoólatra.
Moisés queria muito ir à escola, aprender coisas que lhe dariam um bom futuro, sair daquela pobreza junto com a sua mãe, até porque o pouco que ele sabia ler e escrever foi ensinado por ela. Seu relacionamento com sua mãe Constância era vago; ela o amava e muito, mas o garoto sempre parecia distante e indiferente ao que se chama sentimento, mas parecia nutrir um tipo estranho de afeto por ela. Coitada, não sofria só por aquela situação de falta de dinheiro, comida e saúde, como também sofria as agressões do marido bêbado e os assédios do patrão cafajeste. Apesar de pobre e um pouco debilitada, Constância era uma mulher até de uma bonita face. Talvez sua gentileza fizesse dela uma mulher atraente. Ela nunca havia contado ao marido sobre as propostas do dono da Casa Grande, na verdade nunca tinha dito a ninguém, não por receio de seu marido covarde ir tomar satisfações com o dono daquelas terras, ela tinha era medo de ele agredi-la e culpá-la de algo que nunca fez.
A vida do jovem Moisés não era nada fácil, mas ele sempre dava um jeito de ver algo bonito em toda aquela miséria enquanto admirava a natureza que lá existia, o céu que à noite era invadido por estrelas, sua mãe cuidando de suas pequenas plantas com as quais ela conversava como se fossem gente, dos animais do cerrado seco ou das poucas carroças e veículos que espalhavam poeira pelas estradas de barro. Mas o que realmente o fascinava eram as queimadas dos canaviais. Moisés adorava ver as queimadas, era como um espetáculo gratuito da natureza.
A única distração que tinha. Como se fosse uma televisão da natureza mostrando seu mais interessante canal.
No fim da tarde, já seguido pelo anoitecer, o horizonte mostrava um misto de cores, com o azul escuro do céu e o laranja que as chamas refletiam. Aquilo acontecia a uma determinada distância, o que só realçava toda aquela beleza. Moisés apenas admirava, era fascinado por aquilo, e para ele era normal. Poderia até ser diferente para alguns, mas libertador em meio àquilo tudo que ele vivia. O que para muitos seria interessante acessar a internet, ler um livro, ir à praia ou ver um vídeo pornô, para Moisés as chamas eram algo muito melhor de se apreciar, era uma maneira de relaxar, era uma arte e ele apenas um grande admirador. Ele viajava em seus pensamentos, até ser despertado deles com os gritos de sua mãe.
Mais uma vez seu pai chegara bêbado no casebre de barro e palha, e como seu passatempo favorito era agredir sua esposa era certo que o pior estava ocorrendo. O tumulto acontecia no pequeno cômodo de chão de areia e paredes de barro e caibros secos.
_Deixa ela! - O garoto empurra o pai enquanto caminha decido para ajudar a mulher caída. - Mãe!
O homem bêbado encara a cena de modo apático, limpa a baba de sua boca e com força puxa Moisés pela camisa e lhe desferi um soco forte o suficiente para deixá-lo junto com a mãe no chão.
Moisés como sempre interveio a favor da mãe, e como sempre também apanhou. Ele estava cansado de tudo aquilo, ele foi ajudar a pobre mulher que estava caída no chão com o nariz sangrando. Ela ajoelhou-se perante ao filho e o ajudou a levantar-se e ficaram abraçados por um tempo enquanto o garoto encara o homem que cambaleava de um lado para o outro.
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Série Psicopatas Vol.01 - Incendiário (REVISADO).
Mystery / ThrillerOs psicopatas podem ser charmosos e extremamente astutos, muitas vezes levando suas pobres vítimas a acreditarem que são elas próprias culpadas por suas sinas desgraçadas e até mesmo a levarem ao ápice da loucura. Muitas vezes essas próprias pessoas...